quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Emma. Jane Austen. «Admiro muito mr. Elton, e esta é a única maneira que tenho de prestar-lhe um serviço»

jdact e wikipedia

«(…) Alguns falavam que ele tinha feito uma promessa à esposa no seu seu leito de morte, outros diziam que o filho e o cunhado não permitiam. Todos os tipos de solenes disparates foram ditos sobre o assunto, mas não acreditei em nenhuma delas. Tomei minha decisão sobre o assunto há quatro anos, desde o dia em que miss Taylor e eu o encontramos em Broadway Lane e, como começasse a chuviscar, ele galantemente correu a buscar duas sombrinhas para nós em Farmer Mitchell. Comecei a planear o casamento deles naquele momento, e como fui abençoada com o sucesso, pai, o senhor não pode querer que eu deixe de arranjar casamentos. Não entendo o que quer dizer com sucesso, disse mr. Knightley. Sucesso supõe esforço. Seu tempo seria apropriada e delicadamente usado se tivesse esforçado durante quatro anos para realizar este casamento. Um digno emprego para a mente de uma jovem! Mas se fazer o casamento no seu entender, como imagino, significa apenas planeá-lo, ou dizer para si mesma num dia em que não tivesse nada mais para se ocupar. Acho que seria muito bom para miss Taylor se mr. Weston se casasse com ela, e depois repetir isso sempre para si mesma, por que fala em sucesso? Qual o seu mérito? Do que se orgulha? Teve um palpite feliz, e isso é tudo o que pode ser dito.
E o senhor nunca sentiu o prazer e o triunfo de ter tido um palpite feliz? Tenho pena do senhor... Pensei que fosse mais esperto, pois confiar num palpite feliz não é apenas sorte. Tem sempre algum talento envolvido. E quanto à pobre palavra sucesso, com a qual implicou, não sei se estou inteiramente errada em reivindicá-lo. O senhor pintou duas lindas situações, mas penso que há uma terceira, algo entre o fazer nada e o fazer tudo. Se eu não tivesse promovido as visitas de mr. Weston à nossa casa, se não lhe tivesse dado alguns pequenos encorajamentos e contornado alguns obstáculos, poderia não ter acontecido nada, afinal de contas. Penso que conhece Hartfield o suficiente para compreender isso.
Um homem sincero e honesto como Weston e uma mulher equilibrada e sem afectações como miss Taylor, podem seguramente conduzir os seus próprios assuntos sozinhos. É provável que você tenha feito mais mal a si mesma do que bem a eles, com a sua interferência. Emma nunca pensa em si mesma, quando pode fazer o bem a outros, replicou mr. Woodhouse, entendendo apenas em parte a conversa. Mas, minha querida, por favor, não faça mais casamentos, são coisas tolas e destroem o círculo familiar de modo cruel. Só mais um, pai, para mr. Elton. Pobre mr. Elton! O senhor gosta dele, pai... Devo encontrar uma esposa para ele. Não há ninguém em Highbury que o mereça, e ele já está aqui há um ano e mobilou a sua casa de modo tão confortável que seria uma vergonha se ficasse solteiro por mais tempo. E hoje, no casamento, quando todos se deram as mãos, pensei que ele parecia querer que fizessem por ele a mesma coisa que fiz por miss Taylor. Admiro muito mr. Elton, e esta é a única maneira que tenho de prestar-lhe um serviço.
Mr. Elton é um jovem muito elegante e de bom carácter, com certeza, tenho grande estima por ele. Mas se deseja mostrar-se atenciosa, minha querida, convide-o para jantar connosco um dia desses. Será muito melhor. Ouso dizer que mr. Knightley será gentil o bastante para encontrá-lo. Com grande prazer, senhor, quando quiser, disse mr. Knightley rindo, e concordo inteiramente com o senhor que é a melhor coisa a fazer. Convide-o para jantar, Emma, e ofereça-lhe o melhor peixe e a melhor ave, mas deixe-o escolher a própria esposa. Pode acreditar, um homem de vinte e seis ou vinte e sete anos é capaz de tomar conta de si mesmo». In Jane Austen, Emma, 1815/1816, Relógio de Água, 2016, ISBN 978-989-641-622-5.

Cortesia de RdeÁgua/JDACT