domingo, 11 de junho de 2017

Sancho I. O Filho do Fundador. Maria Violante Branco. «Quando Afonso I sofre o seu infortúnio, de Badajoz, e Sancho, na flor dos seus 14 anos, e apenas acabado de aceder à maioridade, é chamado a assumir maiores responsabilidades»

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«(…) Foi este o ambiente em que se passaram os catorze primeiros anos da vida de Sancho, entre convulsões e mudanças a nível da cristandade e uma plêiade de guerras ao seu redor, guerras de conquista aos mouros, guerras contra os Leoneses, querelas eclesiásticas entre Braga e Toledo e entre Braga e Compostela, múltiplas alianças matrimoniais e acordos de paz entre os reis cristãos peninsulares, tão frequentes quanto ineficientes, ultrapassados e desrespeitados ainda mal a tinta secara no pergaminho, tudo isto junto com a sempre continuada e também sempre frustrada tentativa de fazer reconhecer o reino pela Santa Sé.
Quando Afonso I sofre o seu infortúnio, de Badajoz, e Sancho, na flor dos seus 14 anos, e apenas acabado de aceder à maioridade, é chamado a assumir maiores responsabilidades, é para este mundo que ele é chamado. É no contexto deste panorama político, instável e inseguro, que os seus instintos e a sua decerto incipiente maturidade política serão chamados a intervir, mesmo se nessa missão ele viesse a ser guiado pelos seus conselheiros e por um pai que, embora inutilizado para a guerra no rescaldo de Badajoz, continuaria muito activo e interveniente até à sua morte.

Infância e criação
Na verdade, conforme já mencionámos, Sancho I não nascera para ser rei. Sancho foi o segundo filho varão de Afonso Henriques, mas era sete anos mais novo que o primogénito. Tanto quanto podemos saber, foi o quinto filho a nascer da união legítima do primeiro rei de Portugal com Mafalda de Sabóia.
O primeiro filho, que fora logo um varão, nascera em 1147, pouco mais de um ano depois do casamento dos pais e chamou-se Henrique, de acordo com a tradição e decerto em honra do avô. Era sobre ele que, em princípio, devia ter recaído a obrigação de suceder a Afonso Henriques, ainda que nestes anos a ordem de sucessão ao trono ainda não estivesse tão interiorizada pela linha de primogenitura masculina como mais tarde viria a estar. Nos anos seguintes, a rainha Mafalda daria à luz, consecutivamente, três meninas, Urraca (que nasceu provavelmente ainda em 1148), Teresa (que parece ter nascido em 1151) e Mafalda (nascida em 1153), às quais foram dados nomes que invocavam a mãe, a avó paterna e a tia-avó leonesa das meninas.
De acordo com o testemunho dos Anais de D. Afonso Henriques, fonte de finais do século XII, Sancho I nasceu numa quinta-feira, na noite da festa de São Martinho de Tours, que cai precisamente a 11 de Novembro, e por essa razão fora baptizado como Martinho, em honra do patrono do dia em que nascera. Não é decerto por acaso que se descreve um assunto geralmente deixado no vago com tanto detalhe. Como o primogénito do rei tinha atingido o limiar dos 7 anos de idade ainda vivo e de saúde, talvez se tivesse considerado ultrapassada uma das etapas de maior perigo de morte na primeira infância e se tivesse por isso cedido a orientações de ordem devocional ou espiritual e dado a este segundo filho varão o nome de um santo. São Martinho não era um santo menor, pelo contrário, era muito importante e muito venerado, quer em Franca, onde exercera a parte mais importante do seu apostolado e onde era mesmo um dos santos patronos do reino, quer na Península Ibérica, onde o seu culto também estava muito disseminado, e onde o sincretismo com um outro São Martinho, o de Braga/Dume, contribuía, e muito, para a popularidade do culto martiniano, com especial incidência no Noroeste da Península». In Maria João Violante Branco, Sancho I, O Filho do Fundador, Temas e Debates, Livraria Bertrand, 2009, ISBN 978-972-759-978-3.

Cortesia de Bertrand/JDACT