quinta-feira, 8 de junho de 2017

A Perseguição aos Judeus e Muçulmanos de Portugal. François Soyer. «O processo do povoamento muçulmano em Portugal continua a ser uma grande incógnita para a história portuguesa»

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Manuel I e o fim da tolerância religiosa (1496 - 1497)
«O reino de Portugal surgiu no século XII a partir das complexas lutas políticas que ocorreram a seguir à morte do rei Afonso VI de Leão e Castela (1065/72-1109). Nos séculos X e XI, o Territorium Portucalense era apenas um condado do reino cristão de Leão e Castela, centrado na cidade do Porto e circunscrito pelos rios Minho e Douro. A norte ficava a Galiza e a sul o condado de Coimbra. Afonso VI de Leão e Castela ofereceu os condados de Portugal e Coimbra à sua filha ilegítima dona Teresa e ao seu genro francês Henrique de Borgonha em 1095-1097. Os governantes de Portugal e Coimbra tiraram partido da menoridade turbulenta de Afonso VII (1109- 1157) para conseguir uma efectiva independência política. O filho de dona Teresa, Afonso Henriques (1139-1185), depôs a sua mãe autoritária em 1128 e assumiu pleno controlo das terras concedidas aos pais. Afonso Henriques começou a intitular-se Portugalensium Rex em 1139 e o título recebeu reconhecimento papal em 1179.
Afonso Henriques e os seus sucessores não só preservaram a sua independência política em relação a Leão e Castela, como expandiram gradualmente o novo reino à custa do Sul muçulmano. Em meados do século XII, as conquistas de Lisboa e Santarém, em 1147, já haviam fixado a fronteira sul do novo reino nas margens do rio Tejo, e Afonso Henriques começara mesmo a estender o seu domínio a sul do rio. Apesar das fortes contraofensivas muçulmanas nos anos 90 do século XII, que eliminaram a maioria dos ganhos portugueses a sul do Tejo, os portugueses mantiveram aquelas duas cidades. No século XII, entre 1217 e 1249, os sucessores de Afonso I, com a ajuda das ordens militares, tomaram partido das divisões políticas entre os muçulmanos e estenderam gradualmente o seu domínio para sul. Afonso III (.1246-1279) concluiu este triunfante avanço militar com a conquista de Faro em 1249, e o Tratado de Alcanizes em Setembro de 1297 estabeleceu oficialmente a fronteira entre Portugal e Castela-Leão. A expansão territorial de Portugal na Península Ibérica chegou, assim, ao fim quase dois séculos e meio antes da do reino vizinho de Castela, mas o seu impacto sobre a sociedade portuguesa foi igualmente duradouro. Não criou, é certo, uma população uniformemente cristã em Portugal. Como no resto da Península Ibérica, o resultado foi, na verdade, o oposto. Na sequência da conquista portuguesa, numerosas comunidades de judeus e de muçulmanos livres (mouros forros) passaram a viver sob domínio cristão.
O processo do povoamento muçulmano em Portugal continua a ser uma grande incógnita para a história portuguesa. No seguimento da destruição do reino visigótico pós-romano pelas forças invasoras árabes e berberes em 711, as cidades de Faro, Lisboa, Beja, Santarém e Coimbra caíram rapidamente no poder dos exércitos do general árabe Abd al-Aziz, enúe 714 e 116. Fontes muçulmanas e cristãs informam-nos que os governantes visigodos locais negociaram tratados de vassalagem pacíficos com Abd al Ariz. Clãs árabes instalaram-se em diversas partes desta região, mas parece razoável presumir que, como noutros lugares da Península Ibérica, indígenas convertidos ao islamismo, os muwalladun, constituíram provavelmente o elemento principal da população muçulmana durante os séculos seguintes. Ahmad b. al-Husayn ibn Qasi, um místico que se tomou soberano independente de Silves durante um breve período em meados do século XII, era, ele próprio, descendente de indígenas convertidos ao islão». In François Soyer, A Perseguição aos Judeus e Muçulmanos de Portugal, 2007, Edições 70, 2013, ISBN 978-972-441-709-7.

Cortesia de E70/JDACT