sexta-feira, 19 de maio de 2017

Xeque-mate da Rainha. Elizabeth Fremantle. «Ah, Anne, como é bom vê-la. A minha casa é sombria demais»

Cortesia de wikipedia e jdact

«(…) Essa é a última rainha?, pergunta Meg, apontando para a mulher sóbria com uma touca triangular ao lado do rei. Não, Meg, Katherine sussurra, colocando um dedo sobre os seus lábios, é melhor não mencionar a última rainha. Essa é a rainha Jane, a irmã de Thomas Seymour, que você acabou de conhecer. Mas porque a rainha Jane é retratada, se já houve duas rainhas depois dela? A rainha Jane é a que deu ao rei o herdeiro. Katherine omite o comentário de que Jane Seymour morreu antes que o rei se cansasse dela. Então este é o príncipe Edward. Meg aponta para o garoto, uma versão em miniatura do pai, imitando a sua pose. Sim, e estas são lady Mary e lady Elizabeth, Katherine diz, apontando para as duas garotas pairando na borda da tela como borboletas sem lugar para pousar. Vejo que está admirando o  meu retrato, diz uma voz atrás delas. Katherine e Meg viram-se. Will Sommers!, exprime-se Katherine. Seu retrato? Não me vê? Ela olha novamente, encontra-o no fundo da imagem. Ali está você. Não tinha notado. Ela vira-se para a enteada. Meg, este é Will Sommers, o bobo e fanfarrão do rei, o homem mais honesto da corte. Ele estica a mão e tira uma moeda de cobre de detrás da orelha de Meg, provocando nela uma rara risada descontraída.
Como fez isso?, pergunta ela com uma voz aguda. Mágica, responde ele. Não acredito em mágica, diz Katherine. Mas reconheço um bom truque quando vejo. Ainda estão rindo quando chegam aos aposentos de lady Mary, onde a favorita de Mary, Susan Clarencieux, surge imponente diante da porta, vestida de amarelo-gema, silenciando-os como uma víbora. Ela está com uma daquelas dores de cabeça, diz Susan com um sorriso forçado. Então não façam barulho. Olhando Katherine de cima a baixo, como se calculando o valor do vestido e achando-o barato demais, ela diz: tão sério e escuro, lady Mary não vai gostar. Em seguida, cobre a boca com a mão. Perdoe-me, esqueci que estava de luto. Está esquecido, responde Katherine.
A sua irmã está na câmara privada. Com licença, preciso cuidar de… Ela não termina a frase e desliza de volta para dentro do quarto, fechando a porta silenciosamente. Elas andam pela câmara onde algumas damas cuidam dos seus trabalhos manuais. Katherine cumprimenta-as acenando com a cabeça até encontrar a sua irmã Anne no nicho de uma janela. Kit, diz Anne. Que prazer vê-la finalmente. Ela levanta-se e dá um abraço na irmã. E Meg. Anne dá um beijo em cada bochecha dela. A garota relaxou visivelmente agora que estão num aposento de mulheres. Meg, por que não vai olhar as tapeçarias? Acho que o seu pai está retratado numa delas. Veja se consegue encontrá-lo.
Ela vai até à outra ponta da sala e as duas irmãs sentam-se num banco ao lado da janela. Então, o que está acontecendo? Por que acha que fui chamada? Katherine não consegue afastar os olhos da irmã, o seu sorriso tranquilo, o brilho translúcido da sua pele, as mechas pálidas que escapam da touca, o seu rosto perfeitamente oval. Lady Mary vai ser madrinha. Muitas pessoas foram chamadas para ver. Não fui só eu, então…, fico contente de saber. Quem vai ser baptizado? Um bebé Wriothesley. Uma menina chamada… Mary, elas dizem ao mesmo tempo, rindo. Ah, Anne, como é bom vê-la. A minha casa é sombria demais». In Elizabeth Fremantle, Xeque-mate da Rainha, 2013, Editora Paralela, Editora Schwarcz, 2016, ISBN 978-858-439-003-8.

Cortesia de EParalele/ESchwarcz/JDACT