terça-feira, 25 de abril de 2017

No 1º Centenário de o Criacionismo. Pinharanda Gomes. «Assim o período de 1901 a 1911 foi calmo, a satisfação do Curso pela reforma tão intensa [...] e a criação da Faculdade de Letras»

Cortesia de wikipedia

Uma tese vencida, não refutada
«Leonardo Coimbra, após os estudos de Física e Matemática em Coimbra, depois das experiências na Escola Naval (1903-1905), e do curso de Matemática na Escola Politécnica do Porto (1906-1909), decidiu habilitar-se pelo Curso Superior de Letras (1909-1910), ano em que obteve a licenciatura para docente, sendo colocado no Liceu Central do Porto. Com residência na Rua do Monte Olivete, na encosta do antigo Sítio da Cotovia (Escola Politécnica) para S. Bento da Saúde, o percurso de casa para o edifício onde o Curso Superior de Letras estava instalado (antigo Convento de Jesus, actual Rua da Academia das Ciências) era de proximidade, o principal troço do percurso sendo o ocupado pelo Jardim do Príncipe Real. Os professores do Curso tinham-se envolvido em repetidas instâncias em vista de uma reforma dos estudos, os quais foram objecto de dois Decretos, em 1901 e 1902, que reorganizaram o currículo escolar. Assim o período de 1901 a 1911 foi calmo, a satisfação do Curso pela reforma tão intensa [...] e a criação da Faculdade de Letras, não preocuparam tanto os professores, que repousavam, depois duma luta tão árdua e persistente, só satisfeita pela República. Em frequentes lugares, Teófilo Braga aparece como Director do Curso nesta época. De facto, além de ter sido Secretário, só foi Director no biénio de 1877-1879, não mais sendo professor1. Em 5 de Outubro de 1910 assumiu as funções de Presidente da República, mas o Director do Curso era o seu apaniguado Consiglieri Pedroso, a quem logo sucedeu, no ano lectivo de 1910-1911, o erudito Queiroz Veloso, que, na nova Faculdade de Letras, foi Director até 1929, quase sempre eleito por unanimidade.
Num ambiente pelos vistos pacificado, Leonardo Coimbra, aluno da secção de Ciências, obteve notas brilhantes, tendo recebido elogios de pelo menos dois professores, Francisco Adolfo Coelho e Joaquim António Silva Cordeiro que, não obstante, veio a constituir-se como seu inimigo. Enquanto Leonardo exercia a docência liceal no Porto, o Governo da República prosseguiu a actividade legislativa de carácter reformista envolvendo o ensino, promulgando, pelo Decreto de 19.4.1911 as Universidades de Coimbra, Lisboa e Porto e, criando, pelo Decreto de 9.5.1911, as Faculdades de Letras de Coimbra e Lisboa. No Outono deste ano, melhor, a 27 de Outubro de 1911, tomou posse do cargo de Director do Colégio dos Órfãos de Braga, substituindo o padre Francisco Cruz, que viria a encontrar-se no itinerário religioso de Leonardo, quer presidindo ao seu matrimónio católico, quer sendo padrinho de baptismo do filho Leonardo Augusto, na época natalícia de 1935.Pouco mais de um mês Leonardo serviu o Colégio, pois em 15 de Dezembro já concedia uma entrevista ao jornalista Oldemiro César, dando conta das razões que o levaram a abandonar a Directoria. Livre, decidiu-se a concorrer ao Concurso para professor assistente do 6.º Grupo de Filosofia da Faculdade de Letras de Lisboa.
Pela reforma de 24 de Dezembro de 1901, os estudos filosóficos abrangiam as cadeiras de Psicologia e Lógica (1.º ano) e História da Filosofia (2.º ano). Pelo Decreto com força de lei de 19 de Agosto de 1911, o 6.º Grupo do currículo facultativo é o de Filosofia, com as cadeiras de Filosofia (Psicologia, Lógica e Moral), História da Filosofia Antiga, Medieval e Moderna, Psicologia Experimental e Estética e História da Arte, distribuídas por 4 anos. O painel com as efigies magistrais decerto se representava na imaginação de alunos e de candidatos. O Director era José Maria Queiroz Veloso (falecidoem 1952), de Barcelos, médico pela Escola Médico-Cirúrgica do Porto, adversário de uma educação eivada de puras e abstractas noções teóricas, professor de História da Civilização no C.S.L. desde 1901, que tinha como prioridade a formação de professores, bibliófilo sistemático, cujo lema foi sem documentos não há história. Era professor ordinário. Professores eram também: Francisco Adolfo Coelho (falecido 1919), desiludido do ensino oficial, seguiu uma carreira autodidáctica, aceitando influências de Comte, Spencer, e dos idealistas alemães. De carácter racionalista, preferiu as disciplinas de Filosofia, Etnografia e Educação, seguindo os modelos germânicos, sendo autor de obras eruditas e teorético-práticas, com teses que ordenou nos dois volumes de Questões Pedagógicas (Coimbra, 1911-1912). Por assimilação dos linguistas alemães, introduziu a filologia científica no país, sendo considerado personalidade menos dominada pelo dogmatismo positivista». In Nova Águia, Revista de Cultura para o Século XX, nº 1120, 2º Semestre 2012, Leornardo Coimbra nos 100 anos do Criacionismo, Pinharanda Gomes.

Cortesia de RNÁguia/JDACT