segunda-feira, 17 de abril de 2017

Estado da Questão. Revistas Filosóficas em Portugal. Pedro Calafate. «O início da década de quarenta assiste ao aparecimento da revista coimbrã “Vértice”, que corporizará um espaço de opinião em clara oposição à política cultural vigente durante o Estado Novo»

Cortesia de wikipedia e jdact

«(…) Cinco anos após a fundação da Biblos surge no nosso panorama cultural a Princípio (Porto 1930), dirigida pelo filósofo e pedagogo Álvaro Ribeiro, impulsionador do movimento da filosofia portuguesa, onde, apesar da sua efémera duração, encontramos colaboração filosófica assinada por José Marinho e Delfim Santos. Esta mesma década de 30 conhecerá a edição de mais uma revista universitária de carácter interdepartamental, destinada também ela a grande projecção futura, a Revista da Faculdade de Letras (Lisboa, 1933 até à actualidade), publicada pela Faculdade de Letras de Lisboa, que nos oferece um valioso testemunho da actividade filosófica no âmbito escolar, sobretudo a partir de 1957, ano que marca a independência do 6 Grupo (Filosofia) e, consequentemente, a autonomia curricular da Filosofia, suprimida desde a reforma de 1926. O estudo da colaboração de interesse filosófico veiculado pelas páginas da Revista da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, até ao ano de 1983, foi exaustivamente elaborado por Francisco Gama Caeiro, em artigo intitulado Da Filosofia na Faculdade de Letras de Lisboa, editado no número comemorativo dos cinquenta anos da sua publicação (Lisboa, 1983), pelo que, sobre o período referido, mais não cumpre dizer. Assim, tomando como referência os anos posteriores a 83, a Filosofia continuou a encontrar nas páginas da revista um espaço relevante com colaboração, no âmbito da lógica, de Manuel Santos Lourenço, sobre o conceito de identidade na teoria clássica da dedução; de Cristina Beckert Assunção e Carlos João Correia sobre a hermenêutica contemporânea; de Francisco Gama Caeiro e Joaquim Cerqueira Gonçalves no âmbito da mesa redonda sobre Literatura e Hermenêutica, publicada no n° 12, (Lisboa 1989). de José Barata Moura sobre as condições de possibilidade da História das Ideias como disciplina do saber, de Leonel Ribeiro Santos sobre Descartes e a concepção moderna da analogia e de Adriana Veríssimo Serrão sobre Feuerbach e a filosofia do Renascimento.
Registemos ainda, nos anos trinta, o aparecimento de uma revista de dominância literária, mas que não deixou de evidenciar colaboração filosófica de interesse. Falamos da Revista de Portugal (Coimbra 1937), dirigida por Vitorino Nemésio, que reedita assim o título da publicação dirigida por Eça de Queiroz na centúria anterior. Aí publicou Delfim Santos o seu estudo recentemente reeditado sobre Heidegger e Holderlin, e Magalhães Vilhena uma primeira abordagem à sua futura obra sobre a história da ideia de progresso. Para além dos dois autores citados, regista ainda a colaboração de António Sérgio, com uma análise dos sonetos de Antero, de José Marinho com um estudo sobre o juízo tácito e de Vieira Almeida sobre a veritas latina.
O início da década de quarenta assiste ao aparecimento da revista coimbrã Vértice (1942 até à actualidade), que corporizará um espaço de opinião em clara oposição à política cultural vigente durante o Estado Novo, em áreas próximas das correntes marxistas. Foi nas suas páginas que se desenrolou a interessante polémica entre António Sérgio e Bento Caraça sobre a natureza e o valor da ciência, nos anos 1945-46. De registar a colaboração de autores como Vieira Almeida, Egídio Namorado, Alberto Ferreira, José Percegueiro, Eduardo Lourenço, José Barata Moura, Adriana Veríssimo Serrão e Eduardo Chitas. Um ano mais tarde saiu a público a Gazeta de Filosofia (1943-44), revista de existência efémera (apenas três números), mas que contou com a colaboração, entre outros, de Vieira Almeida e de V. Magalhães Vilhena». In Pedro Calafate, Estado da Questão, Revistas Filosóficas em Portugal, Philosophia 2, Lisboa, 1993.

Cortesia de Philosophica/JDACT