quarta-feira, 12 de abril de 2017

Apologia. Texto inédito do Século XVI. Álvaro Gomes. «Não restava, portanto, a menor dúvida de que estávamos perante a descoberta sensacional de uma obra inédita e totalmente ignorada»

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«Paul Oskar Kristeller, no vol. II do seu precioso Iter Italicum, Londres 1967, menciona os manuscritos existentes na Biblioteca Querini-Stampalia, de Veneza. O primeiro manuscrito, em letra do século XVI, vem descrito como segue: Alvarus Gometius Ulissiponensis, apologia de se ipso, ad Aloysium Lippomano ep. Bergomensem, i.e. apologia de sua sententia circa miracula […] Formulámos desde logo duas hipóteses: tratar-se do nosso conhecido Álvaro Gomes, teólogo lisboeta do século XVI; ser outro autor, visto não haver conhecimento de que o primeiro tivesse redigido qualquer Apologia.
Sucede muitas vezes ao cientista que investiga, quando se confronta com casos semelhantes, ter de optar com celeridade. Foi o que fizemos, admitindo como possível estarmos perante mais uma obra de Álvaro Gomes, totalmente desconhecida, e daí necessitarmos obter, com urgência, um microfilme do códice. Para tanto, em 9 de Junho de 1979, solicitámos ao padre (a. c.). Vittorino Meneghin, residente em Veneza, a consulta deste códice, da Biblioteca Querini-Stampalia, e a obtenção do microfilme da Apologia de Álvaro Gomes. Poucos dias depois, recebemos como resposta, a promessa, da chegada em breve do microfilme e a seguinte descrição do códice: (…) 1. Epistola nuncupatoria ad praedictum Episcopum; 2. Praefatio ad lectorem; 3. Censurae duae Theologorum Salmanticensium. 4. Apologia de sua sententia circa miracula J. C. an Veteri Testamento fidem astruant.
Com a vinda do microfilme e sua rápida consulta, uma certeza obtivemos: a letra era do nosso conhecido Álvaro Gomes, como se verificava comparando-a com a do Cód. 4.189 da Biblioteca Nacional de Lisboa ou com a dos pertences dos livros que foram do teólogo (Comentário ou Censuras ao Registo da Sacrossanta Faculdade de Teologia de Paris). Não restava, portanto, a menor dúvida de que estávamos perante a descoberta sensacional de uma obra inédita e totalmente ignorada.
Traçámos um plano sobre o estudo a efectuar para a rápida divulgação da Apologia, a qual se revelou desde logo do maior interesse para a Cultura Portuguesa (a família Lippomano era veneziana). Como se tratava de um texto latino, impunha-se a sua tradução para vernáculo. E ninguém melhor do que o Miguel Pinto Meneses para se desempenhar de tão árdua tarefa, dadas as provas anteriores. Seguidamente, pareceu imperativo apresentar-se um estudo de natureza teológica sobre o valor da conclusão defendida por Álvaro Gomes, que diz ter sido seguida pelas Faculdades de Teologia de Paris, Salamanca e Lovaina.
A pessoa que pareceu desde togo indicada para a redacção de tal estudo, foi o PhD Manuel Augusto Rodrigues, professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, autor de vários trabalhos de natureza teológica e escriturística, o qual em boa hora aceitou o encargo. Por último, o signatário encarregar-se-ia da apresentação do manuscrito e faria uma introdução aos múltiplos problemas suscitados pelo aparecimento da obra, a qual vem esclarecer muito do pouco que se sabia sobre a vida de Álvaro Gomes». In Álvaro Gomes, Apologia, Texto inédito do Século XVI, Miguel Pinto Meneses, Manuel Augusto Rodrigues, A. Moreira Sá, Imprensa Nacional, Casa da Moeda, colecção Pensamento Português, 1981.

Cortesia da INCMoeda/JDACT