quarta-feira, 5 de abril de 2017

Amante de Amores Fortuitos. João IV. Paula Lourenço (coord), Ana C. Pereira e Joana Troni. «Para o reconhecimento diplomático internacional da legitimidade dos Bragança, era preciso conseguir alianças matrimoniais»

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Restauração
«(…) Na corte lisboeta, o descontentamento face à governação filipina começava gradualmente a fazer-se sentir. A pressão fiscal, a ameaça aos privilégios tradicionais da Igreja, a distância da corte régia e as inerentes repercussões negativas em matéria de administração de graça abriram caminho ao movimento conhecido por Restauração da Independência. A 1 de Dezembro de 1640, um grupo de conjurados que escolhera João para seu líder, quase todos, como repara Mafalda Soares Cunha, jovens e da média fidalguia, levou a cabo uma revolta preparada sigilosa e cuidadosamente durante meses.
A execução do golpe foi rápida e bem sucedida, apanhando os representantes políticos de Filipe IV de surpresa. E a 6 de Dezembro de 1640, o duque João entrava em Lisboa. Portugal tinha um novo rei. Os primeiros tempos de governação de João IV não foram fáceis. O agora monarca teve que lidar com questões díspares como a legitimidade do acto restauracionista, a gestão das sensibilidades da aristocracia laica e eclesiástica, as possessões ultramarinas, a guerra da Restauração, canalização de dinheiro para as campanhas militares, apenas para salientar alguns exemplos. Para o reconhecimento diplomático internacional da legitimidade dos Bragança, era preciso conseguir alianças matrimoniais. Neste contexto, os filhos do casal régio seriam fundamentais, mas apenas a filha, dona Catarina, concretizaria tais planos.

Os filhos legítimos e ilegítimos
João IV e dona Luísa de Gusmão tiveram uma significativa prole. Teodósio foi o primeiro filho do casal. Nasceu em Vila Viçosa, a 8 de Fevereiro de 1634, e morrerá a 13 de Maio de 1653. Era o herdeiro da coroa. Seguiu-se-lhe uma menina, dona Ana, que nasceu em Vila Viçosa a 21, de Janeiro de 1635, vindo a morrer poucas horas depois. Dona Joana nasceu em Vila Viçosa a 18 de Setembro de 1636 e morreu no mesmo ano em que o filho primogénito dos Bragança desaparecia.
Dona Catarina nasceu a 25 de Novembro de 1638 e será peça diplomática fundamental para a consolidação da dinastia de Bragança. Em 1662 casa com Carlos II de Inglaterra, reino onde viveu durante quase 30 anos, regressando após a morte de seu marido a Portugal. Será regente do reino em substituição de seu irmão, Pedro II, em 1704 e 1705. Manuel nasceu a 6 de Setembro de 1640 e, à semelhança da pequena dona Ana, morreu no mesmo dia. Já enquanto reis, nasceram na corte lisboeta Afonso, a 21 de Agosto de 1643, e o último filho do casal, Pedro, a 26 de Abril de 1648.
Como todas as outras, as mais importantes relações são aquelas que se denunciam quando nasce o fruto desses amores ilegítimos. Que se conheça, João IV tem uma filha bastarda, Maria, cuja mãe era criada de varrer no paço. Após o parto, a criança é retirada à mãe, e esta entrará no Convento de Chelas, onde tomará o nome religioso de dona Maria de São João Baptista». In Paula Lourenço (coord), Ana Cristina Pereira, Joana Troni, Amantes dos Reis de Portugal, 2008, Esfera dos Livros, Lisboa, 2011, ISBN 978-989-626-136-8.

Cortesia ELivros/JDACT