quarta-feira, 29 de março de 2017

Salvação e Memória de Três Donas Coruchenses do século XIV. Maria Ângela Beirante. «… do seu testamento: fazer serviço a Deus e melhoramento de minha alma desy acresentamento e honra de meu auer»

Cortesia de wikipedia e jdact

«(…) Sabemos, por outro lado, que Maria Garavinha era servida por vários criados que contempla no seu testamento e que pôde ser sepultada na capela-mor da igreja. Conjugando estes elementos com o facto de possuir uma boa fortuna, podemos admitir estarmos em presença de uma dona de nobreza talvez recente, mas de certa projecção no meio. Nos testamentos em análise, registam-se, no total, 5 finalidades ou funções, pelas quais as testadoras entendem distribuir os seus patrimónios, o que não significa que todas sejam igualmente contempladas. Assim, enquanto Maria Raimundo não se ocupa com os sufrágios periódicos, Maria Garavinha não cuida das obras pias.

Testamento de Maria Raimundo (Coruche, 15 de Outubro de 1339)
A testadora começa por enunciar os objectivos religiosos e profanos do seu testamento: fazer serviço a Deus e melhoramento de minha alma desy acresentamento e honra de meu auer. Manda sepultar o seu corpo na igreja de S. João de Coruche, diante do altar de Santa Clara, sob uma pedra que mandara vir de Flandres e em cuja capela sepultara já, em dois moimentos alsados, os dois cavaleiros com quem fora casada. Mandara fazer nesta capela um altar de pedra, doara-lhe um cálice e um turíbulo de prata e mandara pôr na igreja uma pia baptismal. Faz seus testamenteiros João Lourenço Cidrão, a quem deixa a sua casa de morada, e João Cré, clérigo seu criado. Ambos deviam, por seu turno, nomear sucessores na administração da capela. Maria Raimundo distribui os seus bens por quatro das finalidades enunciadas:

I e II: para o dia da sua morte, ordena que, quando levarem o seu corpo a enterrar, paguem à igreja 10 libras e mais 20, por falhas. Dispõe que os clérigos que forem ao seu enterro lhe façam matinas e lhe rezem saltérios. Rezariam duas missas e mandariam tanger todos os sinos da vila. Comprariam uma arroba de cera para o funeral e finalmente fariam um saimento (procissão fúnebre que se realizava em torno da sepultura, com cruz, água benta, incenso e círios acesos e sempre seguida de refeição. sobre a sepultura com distribuição de alimentos) Deste modo, além dos gastos em cera, em 4 alqueires de trigo amassado, em carne e vinho, gastariam com as exéquias a quantia de 37,5 libras em dinheiro.

III: às obras pias destinou cerca de 50 libras assim distribuídas: obras das igrejas de Coruche; albergarias e gafarias da mesma vila; conventos de Santarém (Donas de Sta. Clara, Donas de S. Domingos, Menores de S. Francisco, Pregadores de S. Domingos e Trinitários, para resgate de cativos).

IV: o seu grande investimento projectou-se principalmente nas fundações perpétuas: capela, aniversários (celebração perpétua de missas, no dia do aniversário do óbito do instituidor, ou em certos dias escolhidos pelo mesmo, com particular destaque para os dias de festa religiosa) e albergaria. Para sustento das mesmas chegou a adquirir, por compra, vários bens imóveis para juntar aos que já possuía. Para suporte da capela, deixou quatro vinhas, uma adega e um lagar com todos os seus pertences, que entregou ao testamenteiro João Lourenço com o encargo de pagar anualmente 100 libras a dois capelães que rezassem missas quotidianas para todo o sempre. Nomeia então como capelães o seu testamenteiro João Cré e o clérigo Estêvão Boi, que vive numa casa da testadora». In Maria Ângela Beirante, Salvação e Memória de Três Donas Coruchenses do século XIV, Território do Sagrado, Edições Colibri, 2011, ISBN 978-989-689-109-1.

Cortesia de EColibri/JDACT