quinta-feira, 23 de março de 2017

O Segredo do Anel. Kathleen McGowan. «Foi lançada abruptamente no meio de uma multidão. O caos reinava ao seu redor. Havia muitos gritos e empurrões»

Cortesia de wikipedia e jdact

Jerusalém
«(…) Talvez porque a jovialidade tivesse voltado ao tom de Mahmoud e ela se sentisse menos pressionada ou talvez fosse a atracção pelo padrão antigo e inexplicado. Alguma coisa, no entanto, fez com que Maureen enfiasse o disco de cobre no dedo anular direito. Coube perfeitamente. Mahmoud balançou a cabeça, sério de novo, quase sussurrando para si mesmo: como se tivesse sido feito para a senhora. Maureen ergueu o anel para a luz, olhando para a mão. Não consigo desviar os olhos. Isso acontece porque deve ficar com o anel. Maureen fitou-o, desconfiada, sentindo a iminência de uma oferta de venda. Mahmoud tinha mais classe que os vendedores das ruas, mas, de qualquer forma, era um mercador. Pensei que houvesse dito que não está à venda. Ela fez menção de tirar o anel, ao que Mahmoud protestou com veemência, erguendo as mãos. Não. Por favor. Está bem. É neste ponto que começamos a negociar, não é mesmo? Quanto? Mahmoud pareceu ofendido por um momento, antes de responder: não está entendendo. Esse anel me foi confiado até que encontrasse a mão certa. A mão para a qual foi feito. Descubro agora que é a sua mão. Não posso vendê-lo à senhora porque já é seu. Maureen olhou para o anel, depois para Mahmoud, perplexa: eu é que não entendo. Mahmoud ofereceu um sorriso solene. Encaminhou-se para a porta da frente da loja. Não pode entender. Mas um dia vai compreender. Por enquanto, apenas fique com o anel. É um presente. Eu não poderia... Pode e ficará. Deve ficar. Se não o fizer, eu terei fracassado. E não vai querer esse peso na consciência, é claro.
Maureen sacudiu a cabeça, cada vez mais aturdida, enquanto o seguia até à porta. Parou ali. Não sei o que dizer ou como agradecer. Não precisa. Mas tem de ir agora. Os mistérios de Jerusalém estão à sua espera. Mahmoud segurou a porta aberta. Maureen saiu e agradeceu de novo. Adeus, Madona..., sussurrou Mahmoud, enquanto ela se afastava. Maureen parou no mesmo instante. Virou-se: desculpe, mas o que foi mesmo que disse? Mahmoud tornou a exibir um sorriso enigmático. Eu disse adeus, minha cara. Ele acenou em despedida. Maureen retribuiu o gesto e tornou a se afastar, ao sol forte do Médio Oriente. Maureen voltou à Via Dolorosa, onde encontrou a Oitava Estação, exactamente como Mahmoud indicara. Mas estava inquieta e incapaz de se concentrar, sentia-se estranha depois do encontro com Mahmoud. Ao continuar no seu caminho, a sensação de vertigem que já experimentara antes voltou, desta vez mais forte, a ponto de desorientá-la. Era o seu primeiro dia em Jerusalém e com certeza sofria do cansaço da viagem e da alteração dos fusos horários. O voo em que chegara de Los Angeles na noite anterior fora longo e cansativo e ela quase não dormira. Fosse uma combinação de calor, exaustão e fome ou alguma coisa mais inexplicável, o que aconteceu em seguida estava completamente fora do território da experiência de Maureen. Ao encontrar um banco de pedra, ela se sentou para descansar um pouco. Balançou com outra onda de vertigem inesperada, enquanto um clarão ofuscante emanava do sol implacável, transportando os seus pensamentos.
Foi lançada abruptamente no meio de uma multidão. O caos reinava ao seu redor. Havia muitos gritos e empurrões, uma intensa comoção por todos os lados. Maureen conservava o suficiente da mentalidade moderna para perceber que as pessoas enxameando ao seu redor vestiam roupas feitas em tear manual. Muitas estavam descalças, enquanto outras usavam uma versão tosca de sandália, como ela notou quando alguém pisou o seu pé. Quase todos eram homens, barbudos e sujos. O sol omnipresente do início da tarde castigava-os, misturando suor com poeira nos rostos furiosos e aflitos ao seu redor. Ela estava na beira de uma rua estreita. A multidão à frente começava a empurrar, com um vigor crescente. Uma brecha natural surgiu, com um pequeno grupo avançando lentamente pelo caminho. A multidão parecia seguir esse grupo. Quando a massa em movimento chegou mais perto, Maureen viu a mulher pela primeira vez». In Kathleen McGowan, O Segredo do Anel, Editora Rocco, 2006, ISBN 853-252-096-0.

Cortesia de ERocco/JDACT