sexta-feira, 31 de março de 2017

No 31. A Conspiração Colombo. Steve Berry. «Ele se questionara sobre a motivação deles. Isabel parecia sincera. Ela tinha uma alma aventureira. Mas o rei era outro assunto»

jdact e wikipedia 

Jamaica 1504
«(…) Ele sabia que esta seria sua última vez no Novo Mundo. Tinha 51 anos e conseguira reunir um número surpreendente de inimigos. Sua experiência no ano anterior era prova de que esta quarta viagem estava amaldiçoada desde o começo. Primeiro, explorara a costa do que passara a acreditar ser um continente, cujo litoral infinito se estendia de norte a sul até onde ele navegou. Após concluir essa patrulha, esperara desembarcar em Cuba ou Hispaniola, mas os seus navios corroídos por vermes só conseguiram chegar até à Jamaica, onde ele os ancorou e aguardou um resgate. Que não chegou. O governador de Hispaniola, um inimigo jurado, resolveu abandonar Colombo e os seus 113 homens à morte. Mas ela não chegou. Em vez disso, algumas almas corajosas remaram numa canoa até Hispaniola e trouxeram um navio. Sim, ele realmente tinha muitos inimigos. Eles negaram todos os direitos que Colombo um dia tivera segundo as Capitulações. Ele conseguira manter o seu status de nobre e o título de Almirante do Oceano, mas isso não significava nada. Os colonos de Hispaniola se revoltaram e o forçaram a assinar um acordo humilhante. Há quatro terríveis anos, ele foi levado de volta para a Espanha, acorrentado e ameaçado de ser julgado e preso. Mas o rei e a rainha lhe concederam um inesperado indulto e lhe deram fundos e permissão para a quarta viagem. Ele se questionara sobre a motivação deles. Isabel parecia sincera. Ela tinha uma alma aventureira. Mas o rei era outro assunto. Fernando nunca gostara dele, dizendo abertamente que a viagem a oeste lhe parecia uma estupidez. Claro, isso foi antes de Colombo ser bem-sucedido. Agora, Fernando só queria ouro e prata. Putos. Mentirosos. Todos eles. Acenou para que abaixassem as arcas. Os seus três homens ajudaram, pois eram pesadas. Chegamos, gritou ele em espanhol. Seus acompanhantes sabiam o que fazer. Espadas foram empunhadas e os nativos, rapidamente cortados em pedaços. Dois gemeram no chão, mas foram silenciados com floretes enfiados no peito. Essas mortes não significavam nada para Colombo; eles não eram dignos de respirar o mesmo ar que os europeus. Pequenos, de pele marrom, nus como no dia em que nasceram, não possuíam linguagem escrita nem crenças fervorosas. Moravam em aldeias no litoral e, pelo que percebera, apenas cultivavam algumas plantas. Eram liderados por um homem chamado cacique, com quem Colombo fizera amizade durante o ano em que ficara abandonado. Foi o cacique quem lhe ofereceu seis homens ontem, quando ele ancorou para a sua jornada final no litoral norte. Uma caminhada simples até as montanhas, dissera ele para o cacique. Só alguns dias. Ele conhecia o suficiente da língua aruaque para fazer o pedido. O cacique demonstrou que tinha entendido e concordou, apontando para seis homens que carregariam as arcas. Ele fizera uma reverência em agradecimento e oferecera vários guizos como presentes. Graças a Deus trouxera muitos. Na Europa, eles eram amarrados às garras de pássaros treinados. Sem valor. Aqui, eram uma moeda valiosa. O cacique aceitou o pagamento e fez uma reverência também. Já negociara com esse líder outras duas vezes. Tinham criado uma amizade. Um acordo do qual ele se beneficiava totalmente. Quando visitaram a ilha pela primeira vez em 1494, fazendo uma paragem de um dia para vedar vazamentos no seu barco e repor o estoque de água, seus homens notaram pequenas partículas de ouro nas águas claras dos rios. Ao questionar o cacique, Colombo ficou sabendo de um lugar em que os grãos de ouro eram ainda maiores, alguns com o tamanho de feijões. O lugar onde ele estava agora. Mas, diferente da monarquia espanhola fraudulenta, o ouro não o interessava. Seu objectivo era maior». In Steve Berry, A Conspiração Colombo, 2012, Maria B. Medina, Editora Record, 2014, ISBN 978-850-140-380-3.

Cortesia de ERecord/JDACT