segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Arez da Idade Média à Idade Moderna. Ana Santos Leitão. «A administração central pertencia ao rei e seus conselheiros: a chefia do exército (alferes-mor), a chefia da casa real (mordomo) e a detenção do selo real (chanceler)»

Cortesia de wikipedia e jdact
«(…) A principal actividade económica e fonte de riqueza do país era a criação de gado, ligada à agricultura. Grande percentagem de terra consistia em pastagens. Bois e vacas surgem constantemente mencionados na documentação como símbolos de riqueza e de bem-estar. Em gado ou nos seus equivalentes se avaliavam preços, medidas agrárias e impostos. Gado bovino, gado ovino, gado caprino, gado suíno e gado cavalar existiam por toda a parte. Não era muito variada a produção agrária, predominando as terras de semeadura, as vinhas e os Linhares, com alguns pomares e maciços à mistura. A maior parte da economia portuguesa do tempo tinha um carácter puramente local. Grande parte do comércio local fazia-se em géneros. Existia, claro está, circulação monetária, mas estava longe de generalizada ou exclusiva. Afonso Henriques cujo longo reinado implicou acréscimo de fortuna, desenvolvimento do comércio e necessidade de prestígio, fez cunhar os primeiros dinheiros de bilhão portugueses. Sancho I, Afonso II e Sancho II, já com maior afirmação e reconhecimento político e, porventura dispondo de mais ouro, cunharam morabitinos (al-murabitin, o dos Almorávidas) em metal amarelo, copiados dos dinars muçulmanos. Sempre existira comércio, terrestre e marítimo, entre o espaço português e os demais reinos cristãos da Península Ibérica, sobretudo Leão. E sempre o existira também com o Sul Islâmico. Tudo dependia, em última análise, das vicissitudes político-militares. A Expansão geral dos séculos XI a XIII incrementou, como é óbvio, essas ligações comerciais mormente com os vizinhos cristãos, já com o mundo muçulmano decaíra consideravelmente, empobrecido e dificultado pelas devastações da Reconquista Cristã e pelos fanatismos religiosos. A integração de Lisboa, e depois, de todo o Sul, no espaço português, obrigou a uma distorção das vias normalmente trilhadas ou ao surto de novas estradas de ligação com os reinos vizinhos. E os progressos da Reconquista em Castela resultaram no mesmo fenómeno. Todo o rico comércio com a Andaluzia passou a interessar directamente os mercadores portugueses, da mesma forma que o acesso fácil a Lisboa, a Alcácer ou aos portos algarvios motivou com certeza os negociantes castelhanos. Para fins políticos e administrativos, Portugal estava essencialmente dividido em terras ou territórios, cujo número sempre se mostrou flutuante, regra geral, cada terra ou território correspondia a uma unidade política de suserania feudal, ou seja, um senhorio, mas esta regra estava cheia de excepções. Porém, os reis entregaram várias terras a um único tenente ou administrador por parte da Coroa. Em todos os casos, as terras compreendiam um ou mais julgados. Para fins religiosos, os bispados faziam as vezes de grandes unidades administrativas. A unidade religiosa mais pequena chamava-se paróquia ou freguesia. A freguesia surgira como substituta do antigo paço rural, sempre que o seu senhor, nos casos em que sobreviveu, deixara de constituir a fonte de protecção eficaz e o símbolo da riqueza e da autoridade junto da população de cada villa. Em vez dele, foi o Padre da Paróquia (ou o abade do mosteiro) que se tornou o chefe respeitado de muitas comunidades, aquele, cuja influência jamais diminuiu. A sua área de acção coincidia com a antiga villa, herdando dela a tradição unificadora, Não admira, pois, que o termo tradutor da realidade religiosa, fregueses filigreses filhos da igreja, persistisse como sinónimo da nova realidade político-social. A administração central pertencia ao rei e seus conselheiros, alguns dos quais com cargos bem determinados: a chefia do exército (alferes-mor), a chefia da casa real (mordomo) e a detenção do selo real (chanceler). Antes dos começos do século XIII não existia qualquer registo centralizado dos actos reais, que se conservavam juntamente com o selo e as outras insígnias do poder. Datam igualmente daquele monarca as primeiras leis gerais. Favoritos régios, funcionários e membros da família real formavam um pequeno grupo de pessoas que o rei frequentemente convocava e escutava. Era a sua Cúria ou conselho. Quando havia assuntos mais importantes a requererem debate generalizado, o rei chamava então um grupo mais amplo de pessoas, incluindo a totalidade dos arcebispos e bispos, os principais abades, os chefes da nobreza e os mais respeitados entre ela, os mestres das ordens militares, etc. Foi dessas convocações que derivou o princípio de Assembleia foi parlamento do reino (cortes). A Cúria real funcionava também como tribunal. A Sul do vale do Mondego, continuava a existir a civilização muçulmana, já velha de três séculos. A fronteira tinha sido deslocada para o Tejo, com a única excepção de Évora, que permaneceu cristã no meio de um deserto muçulmano. A Reconquista prosseguiria só muito mais tarde, quando o poderio dos Almóhadas declinava visivelmente». In Ana Santos Leitão, Arez da Idade Média à Idade Moderna, Tese de Mestrado, Edições Colibri, Centro de História da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2013, CM de Nisa.
Cortesia de EColibri/JDACT