terça-feira, 13 de setembro de 2016

O Legado dos Templários. Steve Berry. «O homem vestia umas calças de ganga e um casaco vermelho. Malone levantou-se da cadeira, mas manteve os olhos fixos em Stephanie»

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Copenhaga. Dinamarca
«(…) Cotton Malone viu a faca ao mesmo tempo que avistou Stephanie Nelle. Encontrava-se confortavelmente sentado numa cadeira branca na esplanada do café Nikolaj. A tarde estava soalheira e convidativa e a Höjbro Plads, a mais conhecida praça dinamarquesa, fervilhava de vida. No café decorria a azáfama do costume e ele esperava por Stephanie há já meia hora. Era uma mulher baixa e magra, na casa dos sessenta, embora nunca tivesse confirmado a sua idade e os registos do Departamento de Justiça, que Malone consultara em tempos, exibissem um espaço em branco na zona reservada à data de nascimento. O cabelo loiro exibia madeixas grisalhas e os olhos azuis possuíam a expressão de uma liberal e o brilho de uma promotora pública. Dois presidentes já tinham tentado que ela fosse procuradora-geral, mas Stephanie recusara ambas as propostas. Um procurador-geral fizera pressão para que fosse despedida, principalmente depois de ter sido recrutada pelo FBI para o investigar, mas a Casa Branca rejeitara a ideia, uma vez que, entre outras qualidades, Stephanie Nelle era uma profissional honesta. Em contraste, o homem da faca era baixo e corpulento e usava o cabelo curto. Algo parecia assombrar as feições de europeu de Leste, um desespero que preocupava Malone bem mais do que a faca brilhante que trazia na mão. O homem vestia umas calças de ganga e um casaco vermelho. Malone levantou-se da cadeira, mas manteve os olhos fixos em Stephanie. Pensou gritar em sinal de aviso, mas ela encontrava-se demasiado afastada e havia muito barulho na praça. Por momentos, o seu ângulo de visão foi obstruído por uma das esculturas modernistas que decoravam Höjbro Plads, representava uma mulher escandalosamente obesa, deitada, nua, em decúbito ventral, com as indiscretas nádegas redondas como montanhas. Quando Stephanie surgiu do outro lado do bronze fundido, o homem da faca aproximara-se e Malone observou-o a cortar a alça da mala e a empurrar Stephanie para o chão. Uma mulher gritou e a confusão instalou-se. O homem da faca fugiu com a mala de Stephanie e empurrou as pessoas que se atravessavam no seu caminho. O ladrão virou à esquerda, contornou outra das esculturas de bronze e, por fim, desatou a correr.
Parecia dirigir-se para Köbmagergade, uma rua apenas para peões que virava para norte, afastando-se de Höjbro Plads, e continuava depois para o interior da zona comercial da cidade. Malone empurrou a mesa, determinado a cortar o caminho ao ladrão antes que este conseguisse dobrar a esquina. Todavia, um amontoado de bicicletas bloqueou-lhe o caminho. Contornou as bicicletas e acelerou a corrida, rodeando parcialmente uma fonte antes de agarrar a sua presa. Aterraram ambos na pedra dura, tendo o homem da faca absorvido grande parte do impacto. Foi nessa altura que Malone se apercebeu que o seu oponente era um homem musculado e robusto. Pouco impressionado pelo ataque, o ladrão rebolou uma vez e depois pressionou o joelho contra o estômago de Malone, que ficou sem conseguir respirar e com as costelas a doer. O homem da faca ergueu-se e correu em direcção à rua pedonal. Malone também se levantou, mas teve de se dobrar e inspirar lentamente. Maldição. Estava destreinado. Recuperou o fôlego e retomou a perseguição. A sua presa levava agora cerca de quinze metros de vantagem. Malone não vira a faca durante a luta, mas enquanto subia a rua percebeu que o homem ainda levava a mala de pele. Sentia o peito a arder, mas a distância começava a diminuir. O homem da faca derrubou um carrinho de flores, um dos muitos que ladeavam tanto Höjbro Plads como Köbmagergade. Malone detestava os vendedores de flores, que pareciam adorar amontoar-se em frente da sua livraria, principalmente aos sábados. O ladrão empurrou o carrinho em direcção ao seu perseguidor. Malone não podia deixar que o pequeno carro continuasse em movimento, havia demasiadas pessoas na rua, incluindo crianças, assim, precipitou-se para a direita, agarrou-o e inclinou-o até parar. Olhou para trás e viu Stephanie virar a esquina para a Köbmagergade na companhia de um polícia. Estavam a meio campo de futebol de distância e ele não tinha tempo para esperar. Continuou a correr e perguntou-se para onde se dirigia o homem. Talvez tivesse deixado um veículo, ou um condutor, à espera no local onde a rua pedonal desembocava noutra das mais movimentadas praças de Copenhaga, a Hauser Plads. Esperava que isso não acontecesse. Aquele local era um pesadelo em termos de trânsito, já para não falar do labirinto de ruas pedestres que formavam a meca dos consumidores, conhecida como Ströget. As coxas doíam-lhe em resultado do exercício inesperado, os músculos já mal recordavam os dias em que pertencera à Marinha e ao Departamento de Justiça. Após um ano de reforma voluntária, o seu plano de treino não impressionaria o seu antigo empregador. Mais à frente aparecia a Torre Redonda, aninhada firmemente contra a igreja da Trindade como uma garrafa-termo presa a uma lancheira. A robusta estrutura cilíndrica elevava-se a uma altura de nove andares. Fora mandada erigir por Cristiano IV, em 1642, e o símbolo do seu reinado, um 4 dourado rodeado por um C, brilhava na fachada do sóbrio edifício de tijolo. No lugar onde a torre se erguia cruzavam-se cinco ruas e o homem da faca podia escolher qualquer uma delas para a sua fuga. Começaram a surgir carros da Polícia». In Steve Berry, O Legado dos Templários, 2006, Publicações dom Quixote, 2007, ISBN 978-972-203-808-9.

Cortesia PdomQuixote/JDACT