terça-feira, 31 de maio de 2016

A Favorita no 31. Vataça. Francisco do Ó Pacheco. «E o casório presencial consumou-se com a graça de Deus, corria o ano do Senhor de 1282, aos 26 do mês de Junho, tinha dona Isabel de Aragão 12 anos e o seu rei e esposo, Dinis, já caminhando pelos 20 anos adentro»


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«(…) Quando partiu com a mãe e os irmãos, de Ventimiglia para Zaragoça de Aragão, Vataça teria pouco mais de doze anos e foi então que conheceu a infanta Isabel, ainda sua parente afastada, filha do rei de Aragão, Pedro III e da rainha Constança da Sicília, e neta de Jaime I. Não ficou muito tempo na corte de Aragão, porque dona Isabel casara por procuração com o rei de Portugal, Dinis I, como já estava previsto entre as duas coroas, desde 1280. No ano seguinte, o rei de Portugal enviava a Barcelona três emissários, tendo por sua vez o rei de Aragão enviado também uma embaixada a Portugal e assim ficava resolvida a questão das arras, isto é, dos bens que ficariam para a rainha, caso ela sobrevivesse ao rei. Nessa carta de doacção, o monarca Dinis concedia à noiva, as vilas de Óbidos, Abrantes e Porto de Mós. Foi já em 1282 que a rainha dona Isabel e sua comitiva, onde se encontrava Vataça Lascaris, entraram em Portugal por Bragança e se dirigiram para Trancoso, onde o rei e esposo a aguardava para que se consumasse a boda real e lhe concedesse o senhorio da vila.
Viagem inesquecível, pensava Vataça. De um momento para o outro deixara a sua casa e os seus amigos em Ventimiglia e partira para Saragoça de Aragão. Pouco depois fazia caminho para Portugal, com dona Isabel de Aragão, que ia ser rainha desse reino, de que pouco tinha ouvido falar até então. Mas tal viagem jamais sairia de sua memória. E recordou o casamento de dona Isabel com o rei Dinis I, que quase não pode ser celebrado, religiosamente, em Trancoso nem em qualquer outra terra de Portugal, porque as igrejas se mantinham todas fechadas e sem cerimónias de culto, por interdição do papa, desde o reinado de Afonso III. Tudo porque aquele rei de Portugal estava excomungado, sob a acusação de ofensas à liberdade da igreja. Apesar das várias tentativas, no fina1 do reinado do rei bolonhês para terminar o conflito com Roma, só em 1289, já em pleno reinado de Dinis, o papa Nicolau IV colocou um ponto final a tão prolongado litígio. Para que não se agravassem as relações com o papado Dinis I mandou que as bênçãos eclesiásticas se fizessem com os prelados aragoneses que acompanhavam dona Isabel. E o casório presencial consumou-se com a graça de Deus, corria o ano do Senhor de 1282, aos 26 do mês de Junho, tinha dona Isabel de Aragão 12 anos e o seu rei e esposo, Dinis, já caminhando pelos 20 anos adentro, pois a 9 do Outubro seguinte, completaria a bonita idade de vinte e um anos. Começavam então os folguedos, grandiosos. que os casamentos reais sempre proporcionam aos povos, quaisquer que eles sejam e onde quer que se encontrem». In Francisco do Ó Pacheco, Vataça, A Favorita de Dom Dinis, Prime Books, 2013, ISBN 978-989-655-183-4.

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