terça-feira, 8 de março de 2016

Poesia. Maria Tereza Horta. «Deito-me com as palavras beijo a boca dos poemas quando a razão desvaria. Manipulo a linguagem tomo a nudez dos meus versos faço amor com a poesia»

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Lençol
«Porque o cabelo desprende
a duna deste lençol
Porque o linho se desvenda
estendido no corpo incerto

Porque os dedos se suspendem
e a sombra se desdobra

Porque talvez se recorta
ou talvez porque recorda:

O corpo na febre rota
o vinho no vaso aberto

O gemido no seu espanto
e o lençol tecido
no próprio interior do pranto»


A doença II
«Digo-te
um amparo para a cabeça
o ombro
os pulsos em repouso
sobre o ventre

A violência somente
sobre a boca
num meigo disfarce de doente
e os dedos em silêncio
no seu vício

E a língua mansamente
sob os dentes
e já na febre o corpo
recolhido

O sangue nas veias
docemente
Numa secreta afeição
ao que é sofrido
e não sente»
Poemas de Maria Tereza Horta, in ‘As Palavras do Corpo



In Maria Tereza Horta, As Palavras do Corpo, Publicações dom Quixote, Lisboa, 2014, ISBN 978-972-204-903-0.

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