terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Steve Jobs. Walter Isaacson. «… eu achava que o senso de ‘design’ do meu pai era bastante bom, porque ele sabia como fazer qualquer coisa. Se precisávamos de um armário, ele fazia-o. Quando construiu a nossa cerca, deu-me um martelo para que eu pudesse trabalhar com ele»

Cortesia da wikipedia e jdact

«As pessoas que são loucas o suficiente para achar que podem mudar o mundo são aquelas que o mudam». In Pense diferente, Apple, 1997

Infância. Abandonado e escolhido. A adopção
«(…) Abandonado. Escolhido. Especial. Esses conceitos tornaram-se parte de quem Jobs era e como ele se via. Seus amigos mais próximos acham que o facto de saber que foi abandonado ao nascer deixou algumas cicatrizes. Diz Del Yocam, o seu colega de longa data: … acho que o seu desejo de ter controle completo de tudo o que faz deriva directamente de sua personalidade e do facto de que foi abandonado ao nascer. Ele quer controlar o seu ambiente, e vê o produto como uma extensão de si mesmo. Greg Calhoun, que se tornou amigo de Jobs logo após a faculdade, viu outro efeito: … Steve me falou muito sobre o abandono e a dor que isso causou. Isso o fez independente. Ele seguiu a batida de um baterista diferente, e isso veio de estar num mundo diferente daquele em que nasceu. Mais tarde, quando tinha exactamente a mesma idade (23 anos) do seu pai biológico quando o abandonou, Jobs seria pai e também abandonaria a criança. (Ele acabou por assumir a responsabilidade por ela.) Chrisann Brennan, a mãe dessa criança, diz que ter sido entregue para adopção deixou Jobs cheio de vidros quebrados, e isso ajuda a explicar um pouco de seu comportamento. Aquele que é abandonado é um abandonador, diz ela. Andy Hertzfeld, que trabalhou em estreita colaboração com Jobs na Apple no início da década de 1980, está entre os poucos que permaneceram próximos tanto de Jobs como de Brennan. A questão-chave em relação a Steve é por que ele não consegue evitar, às vezes, de ser tão reflexivamente cruel e danoso para algumas pessoas, diz. Isso remonta a ter sido abandonado ao nascer. O verdadeiro problema subjacente era o tema do abandono na vida de Steve.
Jobs descartou essa ideia. As pessoas acham que, porque fui abandonado, trabalhei muito duro para que pudesse vencer na vida e fazer com que os meus pais me quisessem de volta, ou algum absurdo desse tipo, mas isso é ridículo, insistiu ele. Saber que fui adoptado pode ter feito eu me sentir mais independente, mas nunca me senti abandonado. Sempre me senti especial. Meus pais fizeram-me sentir especial. Mais tarde, ele se encresparia sempre que alguém se referisse a Paul e Clara Jobs como os seus pais adoptivos, ou deixasse implícito que eles não eram os seus pais verdadeiros. Eles foram meus pais 1000%, diz. Por outro lado, ao falar sobre os seus pais biológicos, ele foi lacónico: … eles foram o meu banco de esperma e óvulo, isso não é grosseria, é apenas o modo como as coisas aconteceram, um banco de esperma, nada mais.

Vale do Silício
A infância que Paul e Clara Jobs criaram para o seu filho foi, sob muitos aspectos, um estereótipo do final dos anos 1950. Quando Steve estava com dois anos, eles adoptaram uma menina chamada Patty, e três anos depois mudaram-se para um conjunto residencial nos subúrbios. A companhia de financiamento em que Paul trabalhava, a CIT, tinha-o transferido para a sua filial em Palo Alto, mas ele não tinha condições financeiras de morar lá, então a família foi viver num loteamento em Mountain View, uma cidade menos cara, logo a sul de Palo Alto. Lá, Paul Jobs tentou transmitir o seu amor pela mecânica e por carros. Steve, esta é a sua bancada de trabalho agora, disse enquanto demarcava uma parte da mesa na garagem da casa. Jobs lembrou ter ficado impressionado com o ideal do pai no ofício artesanal: … eu achava que o senso de design do meu pai era bastante bom, porque ele sabia como fazer qualquer coisa. Se precisávamos de um armário, ele fazia-o. Quando construiu a nossa cerca, deu-me um martelo para que eu pudesse trabalhar com ele.
Cinquenta anos depois, a cerca ainda rodeia os fundos e o pátio lateral da casa em Mountain View. Enquanto a mostrava para mim, Jobs acariciou as estacas de sustentação e relembrou uma lição do seu pai que o marcou profundamente: era importante fazer bem os fundos de armários e cercas, ainda que ficassem escondidos. Ele adorava fazer as coisas perfeitas. Preocupava-se até mesmo com as partes que não ficavam à vista. O seu pai continuava a reformar e revender carros usados, e enfeitou a garagem com fotos dos seus favoritos». In Walter Isaacson, Steve Jobs (Edição 1), tradução de Berilo Vargas, Denise Bottmann, Pedro Soares, Editora Companhia das Letras, Wikipedia, iOS Books, LegiLibro, 2011, ISBN 978-853-591-971-4.

Cortesia ECdasLetras/JDACT