quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Os Filhos Ilegítimos dos Reis de Portugal. Bastardos Reais. Isabel Lencastre. «Sabe-se que a sua primeira mulher foi, ou devia ter sido, a infanta dona Branca, filha de Pedro, regente de Castela, e da princesa dona Maria de Aragão. Segundo uns, o casamento com a infanta castelhana não chegou a realizar-se…»

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A Bastarda do rei Bravo
«(…) Do seu casamento com a infanta dona Beatriz de Castela, teve Afonso IV (1291-1357) sete filhos, quatro dos quais não terão sobrevivido ao primeiro ano de vida. Dos três restantes, Pedro foi rei de Portugal; dona Maria, a primogénita, foi rainha de Castela; e dona Leonor, que morreu com 20 anos, foi, por pouco tempo embora, rainha de Aragão. Fora do seu casamento, afirmam alguns que D. Afonso IV não teve descendência, o que não seria para estranhar num monarca que tanto se empenhou em tolher os usos e costumes que são contra a vontade de Deus e a prol [o bem] comunal, combatendo especialmente os adultérios com mulheres alheias e os homens casados que tiverem barregãs. A estes chegou aliás a castigar com a pena de morte. Sucede, porém, que o rei Bravo foi, na opinião de autorizados genealogistas, o pai de uma dona Maria, ou Maria Afonso, de Portugal, nascida em 1316 e falecida em 1384. Esta bastarda casou com Fernando Afonso, senhor de Valência de Campos e grão-mestre da Ordem de Santiago, que era bisneto do rei Afonso X da Castela, e deu-lhe
três filhos: João, marechal de Castela, Pedro; e Fernando, monge na Ordem de São Jerónimo. Além desta bastarda, disseram as más-línguas que Afonso IV também fora pai de uma criança nascida de dona Violante Sanchez, outra bastarda real, filha do rei Sancho IV de Castela e Leão e de dona Maria Alfonso Ucero. Mas nenhuma prova foi apresentada dessa relação nem ninguém nomeou alguma vez este ou qualquer outro putativo bastardo do rei Bravo.

El-rei Bastardo
Em 1383 nas Cortes de Coimbra, João das Regras deu a entender que o rei Pedro I, em toda a sua vida, só uma vez estivera bem casado: com dona Branca de Castela, sua primeira mulher. Todos os casamentos que celebrara ou dizia ter celebrado depois não eram válidos, porque esse primeiro matrimónio, tendo sido consumado, nunca fora anulado e a infanta espanhola não morrera antes das outras esposas do monarca. Daí resultava que todos os filhos do rei Cruel eram bastardos, e não valiam mais do que João, Mestre de Avis, o filho que o rei Pedro I houvera fora dos seus casamentos. João das Regras (o Doutor) era o melhor advogado da aclamação do Mestre como rei de Portugal. E, por isso, dizem muitos, as suas palavras não deviam ser levadas a sério. Não deviam pelo menos ser levadas à letra. É verdade. Mas verdade é também que a história dos casamentos de Pedro I constitui ainda hoje um intrincado novelo muito difícil de deslindar.
Sabe-se que a sua primeira mulher foi, ou devia ter sido, a infanta dona Branca, filha de Pedro, regente de Castela, e da princesa dona Maria de Aragão. Segundo uns, o casamento com a infanta castelhana não chegou a realizar-se, tendo a noiva sido devolvida ao reino em que nascera por ser apoucadinha de corpo e de espírito. Segundo outros, tratou-se de um casamento celebrado mas não consumado. E há ainda quem defenda que esse casamento, celebrado em 1325, foi consumado, sendo o único casamento legítimo que o monarca celebrou. Em qualquer caso, Pedro I voltou a casar em 1339, desta feita com dona Constança Manuel, filha do príncipe de Vilhena e mulher do rei Afonso XI de Castela. Este repudiara-a antes de consumar o matrimónio, para casar, três anos depois, com a infanta dona Maria de Portugal, irmã mais velha de Pedro I.
Na sua companhia dona Constança Manuel trouxe dona Inês de Castro, uma dama galega por quem o infante Pedro logo se perdeu de amores e que se tornou sua amante. O monarca víria a casar com ela após a morte da sua segunda mulher, ocorrida em 1349. Mas, segundo o próprio infante Pedro e futuro rei Pedro I dirá, este seu casamento foi secreto, pelo muito medo que tinha de seu pai, tendo-se realizado em dia de que ele não se lembrava, no ano de 1350. Esta declaração, feita em Cantanhede, em Junho de 1360, levantou, desde sempre, as maiores dúvidas, e a Igreja nunca aceitou que Pedro tivesse alguma vez casado com dona Inês de Castro. Até porque seria, em qualquer caso, um casamento ilegítimo: dona Inês era prima de Pedro, já que ambos eram netos de Sancho IV, o Bravo, rei de Castela; e era, além disso, sua comadre, por ter sido madrinha do infante Luís, filho primogénito de Pedro e de dona Constança, que morreu menino». In Isabel Lencastre, Bastardos Reais, Os Filhos Ilegítimos dos Reis de Portugal, Oficina do Livro, 2012, ISBN 978-989-555-845-2.

Cortesia de OficinadoLivro/JDACT