terça-feira, 24 de novembro de 2015

Em Alto Mar. Wilbur Smith. «O azul dos seus olhos eram de um tom que o faziam lembrar da luz do sol irradiando das paredes de uma caverna de gelo encrustada na fenda de uma grande montanha. Ela era bem mais atraente do que as fotografias…»

Cortesia de wikipedia

«(…) A revista Forbes publicou uma imagem de capa de Hazel de uniforme branco de tenista, segurando uma raquete na mão direita. A manchete dizia: Hazel Bannock aplica um ace na oposição. O ataque mais poderoso do petróleo nos últimos sessenta anos. Ela assume a coroa do marido, Henry, o Grande. O artigo principal começava assim: No interior desolado de um pequeno e pobre Emirado abandonado por Deus chamado Abu Zara, há uma concessão de exploração de petróleo que já pertenceu à Shell. A área havia sido extraída até a última gota e abandonada no período subsequente à II Guerra Mundial. Isso até Hazel Bannock entrar em cena. Ela adquiriu a concessão por alguns míseros milhões de dólares, e os peritos no assunto cotovelaram-se uns aos outros e sorriram desdenhosos. Ignorando os protestos dos seus conselheiros, gastou muitos milhões mais enfiando uma broca de perfuração rotativa numa anomalia subterrânea minúscula, situada na extremidade norte do terreno; uma anomalia que, de acordo com as explorações primitivas realizadas sessenta anos antes, havia sido considerada periférica ao reservatório principal. Os geólogos da época chegaram à conclusão de que qualquer petróleo existente na área há muito tempo tinha sido escoado para o reservatório principal e bombeado para a superfície, esgotando e desvalorizando o terreno. No entanto, quando a broca da senhora Bannock perfurou o impenetrável domo de sal do diápiro, uma vasta câmara subterrânea em que os depósitos de petróleo estavam presos, a sobrepressão do gás subiu com tamanha força pela abertura que expeliu quase 8 quilómetros de coluna de perfuração de aço como se fosse pasta de dentes saindo do tubo, e a abertura rompeu-se. Petróleo bruto de alta qualidade saiu jorrando pelo ar, alcançando dezenas de metros de altura. Finalmente tornou-se evidente que os terrenos Zara de um a sete que haviam sido abandonados pela Shell eram apenas uma fração das reservas totais. O novo reservatório situa-se a uma profundidade de 6.664 metros e possui reservas estimadas em cinco bilhões de barris de óleo cru, leve e puro.
Assim que o helicóptero pousou, o engenheiro de voo soltou a escada e desceu, estendendo uma das mãos para a ilustre passageira, que ignorou a oferta e saltou 1,20m até ao chão, com a leveza do leopardo com que tanto se assemelhava. Ela vestia um elegante conjunto tipo safári, feito por medida, na cor cáqui, acompanhado de um par de botas de deserto de camurça e uma vibrante echarpe Hermès no pescoço. A cabeleira farta e dourada, a sua marca registada, estava solta, ondulando ao vento. Quantos anos tinha? Hector perguntou-se. Ninguém parecia saber com certeza. Ela aparentava estar na casa dos trinta, mas tinha pelo menos quarenta. Ela agarrou momentaneamente a mão que lhe foi oferecida por Hector, com uma força resultante das horas intermináveis passadas no court de ténis. Bem-vinda a Zara número oito, senhora, ele disse. Ela lhe dirigiu um breve olhar. O azul dos seus olhos eram de um tom que o faziam lembrar da luz do sol irradiando das paredes de uma caverna de gelo encrustada na fenda de uma grande montanha. Ela era bem mais atraente do que as fotografias o haviam levado a acreditar. Major Cross. Ela saudou-o com frieza. Surpreendendo-o novamente, dessa vez por saber o nome dele, e Hector lembrou que ela tinha a reputação de não deixar nada ao acaso. E provavelmente havia pesquisado cada um dos diversos funcionários seniores que poderia encontrar durante essa primeira visita ao novo campo petrolífero. Se é esse o caso, ela deveria saber que não uso a minha patente militar, pensou, e então lhe ocorreu que ela provavelmente sabia e estava irritando-o de propósito. Ele reprimiu o sorriso desgostoso que surgiu nos lábios.
Por algum motivo, ela não gosta de mim e não se esforça para esconder o facto, pensou. Essa mulher é feita do mesmo material das suas sondas de petróleo: puro aço e diamantes. Mas ela já lhe tinha virado as costas, indo ao encontro dos três homens que saíram de um grande jipe Humvee bege, detendo-se ao lado dela, formando uma fila obsequiosa de boas-vindas, sorrindo e saltitando como filhotinhos de cachorro. Ela apertou a mão de Bert Simpson, seu gerente geral. Minhas desculpas por ter demorado tanto para visitá-lo, senhor, mas é que estive bastante ocupada no escritório. Ela deu um sorriso rápido e radiante, mas não esperou pela resposta. Seguiu em frente e, sem perder tempo, cumprimentou o engenheiro-chefe e, logo a seguir, o geólogo chefe. Obrigada, cavalheiros. Agora, vamos sair deste vento desagradável. Teremos tempo para nos conhecer melhor mais tarde». In Wilbur Smith, Em Alto Mar, 2011, Editora Planeta Brasil, 2012, ISBN 978-857-665-880-1.

Cortesia de EPlaneta/JDACT