quinta-feira, 30 de julho de 2015

Uma Rainha Inesperada. Isabel Pina Baleiras. «Numa carta de 19 de Março de 1434, o monarca encarregou-o de pôr em crónica as histórias dos reis que antigamente em Portugal foram, isso mesmo os grandes feitos e altos do mui virtuoso e de grandes virtudes el-rei meu senhor e padre, cuja alma Deus haja»

jdact

Fernão Lopes, a verdade e a história
«As crónicas de Fernão Lopes sobre os rei Fernando I e João I (primeira parte) constituem a fonte do nosso conhecimento sobre a vida de dona Leonor Teles. Quanto à participação da rainha no reinado de Fernando I e na regência, é possível encontrar outras fontes) como os diplomas da chancelaria do rei (serviço responsável pela elaboração dos documentos régios) ou outros ligados aos mosteiros com os quais ela se relacionou. Por ora, debrucemo-nos sobre o cronista e conheçamos um pouco da sua vida e obra na pequena cronologia que se segue: 1380. Nascimento provável de Fernão Lopes, no seio de uma família de camponeses ou de mesteirais, em Lisboa. 1418. Data apontada para o início da sua carreira de guarda-mor da Torre do Tombo. Simultaneamente, foi escrivão do rei João I e do infante Duarte. 1419. Por ordem do infante Duarte, começou a escrever a Crónica dos sete primeiros reis de Portugal. Parece ter iniciado, também, as crónicas sobre Pedro I e Fernando I e as duas partes da crónica sobre João I. 1422. Exercício do cargo de escrivão de puridade (espécie de secretário dos assuntos particulares) do infante Fernando. 1434. Duarte, agora já rei, oficializou o trabalho de Fernão Lopes, que o deve ter iniciado em 1479. Numa carta de 19 de Março de 1434, o monarca encarregou-o de pôr em crónica as histórias dos reis que antigamente em Portugal foram, isso mesmo os grandes feitos e altos do mui virtuoso e de grandes virtudes el-rei meu senhor e padre, cuja alma Deus haja. Em troca deste trabalho, o escritor recebeu uma tença de 14 000 reais anuais. Parece ter-lhe sido, igualmente, passada uma carta de nobreza, usando ele, a partir desta altura, o título de vassalo de el-rei; redacção da Crónica de D. Pedro I.
1437.Início da elaboração da Crónica de D. Fernando, cija redacção terá terminado em 1443. 1439. O regente Pedro confirmou-lhe a tença concedida por Duarte I, que falecera no ano anterior. 1443. Final da redacção da Crónica de D. Fernando; final da redacção da Crónica de D. João, Primeira Parte. 1449. Afonso V aumentou a tença anual do cronista para 20 000 reais anuais. Final da redação da Crónica de D. João I, segunda parte. 1454. Foi substituído no cargo de guardador das escrituras do Tombo, por Gomes Eanes Zurara, devido à idade avançada e a um estado de saúde mais debilitado. 1460. Data provável da sua morre.
As fontes utilizadas pelo cronista parece terem sido: crónicas de Pero López Ayala; Crónica do condestabre, anónima; redigida possivelmente entre 1431 e 1436; crónica latina sobre o reinado de João I, que Fernão Lopes atribuiu ao Doutor Christophorus; a crónica de Martim Afonso Melo, mencionada pelo próprio Lopes, no capítulo 47 da Crónica de D. Fernando; Livro de linhagens do conde D. Pedro. A obra de Ayala serviu como fonte para cinquenta e cinco capítulos da Crónica de D. Fernando, e a Crónica de Don Juan I foi aproveitada em setenta capítulos da Crónica de D. João I. A utilização da Crónica do condestabre como fonte é quase total; apenas oito capítulos não são utilizados por Lopes. As fontes narrativas dominaram a pesquisa de Fernão Lopes e a consulta das fontes documentais ocorreu, de forma pontual, somente para completar o relato. Primeira publicação das suas obras: 1644. Crónica de D. João I; 1735. Crónica de D. Pedro I; 1816. Crónica de D. Fernando». In Isabel Pina Baleiras, Uma Rainha Inesperada, Leonor Teles, Temas e Debates, Círculo de Leitores, 2013, ISBN 978-989-644-230-9.

Cortesia de CLeitores/Temas e Debates/JDACT