sábado, 6 de junho de 2015

O Tutor. Robin Schone. «Ele era o ‘sheik bastardo’, filho ilegítimo de uma condessa inglesa e de um sheik árabe. Ela era a esposa do ministro da Economia e Fazenda e seu pai o primeiro-ministro da Inglaterra»

Cortesia de wikipedia

«Elizabeth Petre é a honorável esposa de um aspirante a primeiro-ministro britânico. Diante da sociedade tem que representar o papel da perfeita esposa, na sua casa, o seu marido mostra-se desdenhoso quando não indiferente com ela. Para Elizabeth é cada vez mais penoso que seu marido a mantenha longe do seu coração e do seu leito e com a ideia de voltar a seduzi-lo, de fazer com que esqueça as suas inúmeras amantes, aprendendo as mesmas artes que elas. Para conseguir, recorre a Ramiel Devington, o filho bastardo de uma nobre inglesa e um sheik árabe. Repudiado pela sociedade britânica, ele aceita a proposta da dama, pois intui que apesar da sua fria aparência, Elizabeth esconde um espírito livre e apaixonado que prisioneira de convencionalismos anseia em escapar e poder desfrutar tudo o que a vida pode oferecer. Dia a dia, lição a lição, Ramiel vai mostrando a Elizabeth um mundo desconhecido, ensinando-lhe todos os segredos da arte da sedução e subtilmente, atiça o fogo e a sensualidade, com consequências dramáticas e inesperadas para os dois»

«Ramiel não consentiria que nenhuma mulher o chantageasse e não lhe importava quão forte pudesse ser a sua necessidade de satisfação sexual. Apoiou contra a porta da biblioteca e observou com os olhos semicerrados à mulher que estava em pé frente às portas envidraçadas que davam para o jardim. Ligeiros retalhos de bruma estendiam-se entre ela e as cortinas abertas. Em contraste com estas, como colunas de seda amarela, a mulher parecia um escuro monólito embainhado em lã negra. Elizabeth Petre. De costas, não a reconheceu, coberta como estava, dos pés a cabeça com um chapéu e uma grossa capa negra. Mas na realidade não a teria reconhecido nem nua frente a ele, com os braços e as pernas abertas o convidando lascivamente. Ele era o sheik bastardo, filho ilegítimo de uma condessa inglesa e de um sheik árabe. Ela era a esposa do ministro da Economia e Fazenda e seu pai o primeiro-ministro da Inglaterra. Pessoas como ela não se misturava socialmente com gente como ele, salvo a portas fechadas e sob lençóis de seda. Ramiel pensou na mulher de escuros cabelos cuja cama acabava de deixar, apenas uma hora. A marquesa de Clairdon tinha-o seduzido num baile de rameiras, onde tinha dançado nua igual ao resto das assistentes. Usara-o para alimentar a sua excitação sexual e durante algumas horas converteu-se no animal que ela desejava, investindo, esmagando e amassando no interior de seu corpo até encontrar aquele momento de liberação perfeita onde não existiam nem passado, nem futuro, nem Arábia, nem Inglaterra, somente o esquecimento. Talvez teria possuído também aquela mulher se esta não tivesse forçado a entrada de sua casa deliberadamente através da coacção e a chantagem. Com os músculos tensos pela cólera contida, afastou devagar o frio contacto do mogno e atravessou silencioso o tapete persa que cobria o chão da biblioteca. O que é que pretende, Petre, invadindo o meu lar e me ameaçando? A sua voz, um áspero murmúrio de refinamento inglês que ocultava a ferocidade árabe, ricocheteou no arco formado pelas portas e alcançou a barra de bronze da cortina que bordeava o muito alto tecto circular. Pôde sentir o sobressalto de temor da mulher, farejando-o quase por cima da neblina húmida. Ramiel desejava que sentisse medo. Desejava que se desse conta de quão vulnerável era, sozinha na guarida do sheik bastardo sem que o seu marido ou seu pai pudessem protegê-la. Queria que soubesse da maneira mais elementar e primitiva possível que o seu corpo lhe pertencia para dar a quem quisesse e que não admitiria chantagens na hora de conceder os seus favores sexuais. Ramiel fez uma pausa sob o abajur aceso e esperou que a mulher se voltasse e enfrentasse as consequências de sua maneira de agir. O gás que queimava vaiou, causando uma pequena explosão no gélido silêncio. Vamos, Petre! Não foi tão reservada com o meu criado. Disse, provocando-a brandamente, sabendo o que ela queria, desafiando-a a pronunciar as palavras. Palavras proibidas, palavras conhecidas: Quero gozar com um árabe. Quero desfrutar com um bastardo. O que poderia querer uma mulher como ela, de um homem como eu? Lenta, muito lentamente, a mulher voltou-se, num redemoinho de lã entre as brilhantes colunas amarelas das cortinas de seda. O véu negro que cobria a sua face não pôde ocultar a impressão que lhe causou. Um sorriso zombeteiro apropriou-se dos lábios de Ramiel. Sabia o que ela estava pensando. O que toda a mulher inglesa pensava quando o via pela primeira vez. Um homem que é meio árabe não tem o cabelo da cor do trigo dourado pelo sol. Um homem que é meio árabe não se veste como um cavalheiro inglês. Um homem que é meio árabe... Quero que me ensine como agradar um homem. A voz da mulher estava sufocada pelo véu, mas as suas palavras foram diáfanas. Não eram as que tinha esperado. Durante um minuto que pareceu eterno, o coração de Ramiel deixou de pulsar dentro do seu peito. Imagens eróticas desfilaram ante seus olhos... Uma mulher... Nua... Possuindo-o... De todas as formas em que uma mulher pode possuir um homem... Pelo prazer dele... E também pelo dela. Um fogo abrasador estalou entre as suas pernas. Podia sentir, contra sua vontade, que a sua pele se inchava, endurecia, trazendo-lhe lembranças que já nunca voltariam, exilado como estava naquele país frio e sem paixão aonde as mulheres o usavam para suas próprias necessidades... Ou o desprezavam pelas suas. Uma fúria primitiva apropriou-se de seu ânimo. Contra Elizabeth Petre, por invadir o seu lar para a sua própria satisfação egoísta sob a aparência de querer aprender como dar prazer a um homem. Contra ele mesmo que aos trinta e oito anos ainda sentia a necessidade de pegar o que ela podia oferecer, ainda sabendo que era uma mentira: as mulheres inglesas não estavam interessadas em aprender a fazer gozar um sheik bastardo». In Robin Schone, O Tutor, The Lady’s Tutor, Kensington Publshing, Eagle, tradução de Ceila Sarita, Wikipédia, 2009/2013, ISBN 978-075-829-193-6.

Cortesia de KP/JDACT