quinta-feira, 18 de junho de 2015

O Mar não Precisa de Poetas. Jaime Sampaio. «Em silêncio esvoaçam antigas palavras. E as feridas reabrem, num perfume de flores. O mar não precisa de poetas. Os poetas é que precisam dele, para falarem, maritimamente, de outras coisas»

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«Ao que vos parecer verso chamai verso, e ao resto chamai prosa». In Irene Lisboa

«Por que será que o meu gato
tem bigode grande e farto
e eu que nasci primeiro
só tenho um buço ligeiro?

O mar não precisa de poetas.
Os poetas é que precisam dele, para falarem,
maritimamente, de outras coisas».

«Mesmo quando é uma grande chatice, a poesia pode não ser chatice nenhuma. O que é preciso é não levarmos os poetas a série (de pessoas sérias está o mundo cheio); o que é preciso é dizermos olá! Quando vemos um poeta. E não o metermos na capoeira do entendimento».

«A poesia é tão fácil como a chuva. Só o não sabe quem usa gabardina».

«Até uma certa idade, todas as crianças são poetas.
Depois, olha…
Só algumas se aguentam, passeando de bicicleta
(Tlim! Tlim! Pelo mar sem fim».


Escrever é anti-natural. Quase tanto como não escrever. E é pândega, afinal, a escrita. As palavras estão ali, naquele dicionário, arrumadinhas por ordem alfabética. Escrever é uma pessoa chegar lá e pumba!... Desarrumá-las sistematicamente».

«Em silêncio esvoaçam antigas palavras.
E as feridas reabrem, num perfume de flores».

In Jaime S. Sampaio, O Mar não Precisa de Poetas, Hugin Editores, Lisboa, 1998, ISBN 972-831-058-7.

Cortesia de Hugin/JDACT