domingo, 10 de maio de 2015

O Mistério do Priorado de Sião. Jean-Michel Thibaux. «O relâmpago apanhou o olhar de Bérenger... Não era uma medalha. Era uma pequena caixa de ouro redonda, protegida por um vidro e engastada num círculo de cobre onde estavam gravados vários signos»

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Renees-le-Château. 11 de Novembro de 1888
«(…) Agora sentia-se plena, feliz. Nunca ninguém tinha feito amor com ela assim. O próprio Bérenger não parecia o mesmo homem. Ao longo de quatro horas, tinha-a arrastado de prazer em prazer, de deleite em deleite. O que é que lhe teria acontecido para ter mudado tanto? Marie ainda se recordava das carícias inexperientes das suas mãos, essas mesmas mãos que hoje lhe tinham aberto as portas da voluptuosidade. Teria conhecido outra mulher? Voltou a olhá-lo, procurando uma resposta no seu rosto adormecido, galhardo e sensual. Ai, meu amor, pensou, qual será o teu segredo? O que é que querem de ti? Ameaçaram-me para que fosse tua amante... Mas eu já não te poderei fazer mal, embora me façam mal a mim. É demasiado tarde. Amo-te..., amo-te. Abraçou-o. Ele deixou-se abraçar. O torpor durou até baterem à porta. Bérenger ficou lívido. Já vou!, gritou. Um momento! Sussurrou a Marie: não saias daqui. Seria um horror, se o surpreendessem. Vestiu-se a toda a pressa, passou a mão pelo cabelo, fechou a porta do quarto e precipitou-se para a entrada. Já cá estou, disse abrindo a porta. Ficou estupefacto. O homem que tinha diante de si parecia saído de um conto de fadas. Alto, magro, branco e louro, ataviado com um elegante fato de cavaleiro e calçado com botas de couro cru. Tinha os lábios delicados, os olhos nostálgicos e sonhadores. Todo ele era uma estampa de nobreza.
Bons dias, padre, disse, com um sotaque particular. O senhor é o abade Saunière? O próprio. Um sorriso iluminou o rosto do visitante, que tirou o chapéu e fez uma vénia. É um prazer conhecer um partidário dos reis. Quem é o senhor? Chamo-me Guillaume. Posso entrar? Gostaria de falar com o senhor sobre um assunto importante. Faça favor, respondeu Bérenger afastando-se. Logo a seguir deu um grito. Agora me lembro! É o amigo de monsieur Yesolot, falou-me do senhor a primeira vez que nos encontrámos. É ele quem me manda. Bérenger sorriu, mas o seu coração começou a palpitar. Olhou pelo canto do olho para a escada que conduzia à alcova. As roupas de Marie ainda jaziam desordenadas diante da chaminé. Sentiu o rubor no rosto e pegou no visitante pelo braço, conduziu-o até, uma cadeira voltada para a janela. Sente-se... Um copo de vinho...? Com todo o gosto!, respondeu o outro, deixando-se cair na cadeira.
Bérenger atirou-se aos saiotes, apanhou-os de relance e enrodilhou-os com o vestido. Sem se deter para reflectir, atirou a roupa para dentro de uma arca e rodou sobre si mesmo, pegou na garrafa e nos copos, e foi ter com o visitante. O estranho desabotoou o casaco com parcimónia. A sua fronte altiva, os seus olhos sonhadores, todo o seu rosto transmitia majestade e gentileza. Uma medalha brilhou-lhe sobre a camisa, quando abriu as golas para se pôr à vontade. O relâmpago apanhou o olhar de Bérenger... Não era uma medalha. Era uma pequena caixa de ouro redonda, protegida por um vidro e engastada num círculo de cobre onde estavam gravados vários signos. A letra grega Tau, a cruz suástica, um quarto crescente e um S. É o AOR, disse Guillaume, ao notar o seu olhar. Venho de Paray-le-Monial (centro esotérico cristão fundado pelos seguidores do reverendo padre Drévon, em 1875).
O AOR era a primeira palavra do Génesis. Paray-le-Monial, a capital do reino do Sagrado Coração. Bérenger estava perplexo. O que é que aquele homem quereria dele? Trazia-lhe uma doação, como Elias tinha dito? O AOR é o fogo essencial, disse Guillaume, a origem da luz e da destruição universal. Mas embora o traga comigo, não tenho más intenções. Pertenço a Deus e a Jesus Cristo, vivo pela eucaristia e para a eucaristia». In Jean-Michel Thibaux, O Mistério do Priorado de Sião, Rennes-le-Chatêau, 1888, 2004, tradução de Jorge Fallorca, A Esfera dos Livros, 2006, ISBN 989-626-019-2.

Cortesia de ELivros/JDACT