segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Pablo Neruda. Colectânea. «Tudo estava vazio, morto e mudo, caído, abandonado e decaído, tudo era inalienavelmente alheio, tudo era dos outros e de ninguém, até que tua beleza e tua pobreza…»

Cortesia de wikipedia

«Antes de amar-te, amor, nada era meu:
vacilei pelas ruas e coisas:
nada contava nem tinha nome:
o mundo era do ar que esperava.
E conheci salões cinzentos,
túneis habitados pela lua,
hangares cruéis que se despediam,
perguntas que insistiam na areia.
Tudo estava vazio, morto e mudo,
caído, abandonado e decaído,
tudo era inalienavelmente alheio,
tudo era dos outros e de ninguém,
até que tua beleza e tua pobreza
de dádivas encheram o Outono».


«Áspero amor, violeta coroada de espinhos...
Arbusto entre tantas paixões erguidas,
lança das dores, coroa da ira,
por quais caminhos e como te dirigiu a minha alma?
Por que precipitaste teu fogo doloroso,
repentinamente, entre as folhas frias do meu caminho?
Quem te ensinou os passos que te levaram a mim?
Que flor, que pedra, que fumaça mostraram minha casa?
A verdade é que tremeu a noite apavorante,
a aurora encheu todas as taças com seu vinho
e o sol estabeleceu sua presença celeste,
enquanto o amor cruel me cercava sem trégua,
até que padecendo-me com espadas e espinhos,
abriu meu coração um caminho ardente».
Poemas de Pablo Neruda, in ‘Colectânea

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