domingo, 1 de fevereiro de 2015

O Universo numa Casca de Noz. Stephen Hawking. «… escreve a respeito da sua busca para a descoberta da ‘Teoria do Tudo’, faz uma viagem através do espaço-tempo, leva-nos a descobrir segredos do Universo e revela uma das suas aventuras intelectuais, enquanto procura combinar a teoria da relatividade de Einstein…»

SH 
Cortesia de wikipedia

Breve história da relatividade
«Como Einstein formulou as bases das duas teorias fundamentais do século XX: a relatividade geral e a teoria quântica. Albert Elnstein, o descobridor das teorias especial e geral da Relatividade, nasceu no Ulm, Alemanha, em 1879, mas ao ano seguinte a família mudou-se para Munique, onde seu pai, Hermann, e seu tio, Jakob, estabeleceram um pequeno e não muito próspero negócio de eletricidade. Albert não foi um menino prodígio, mas as afirmações de que tirava más notas escolares parecem ser um exagero. Em 1894, o negócio paterno faliu e a família muda a residência para Melam. Os pais decidiram que deveria ficar para terminar o curso escolar, mas Albert odiava o autoritarismo da sua escola e, ao cabo de poucos meses, deixou-a para reunir-se com a família na Itália. Posteriormente, completou a sua educação em Zurique, onde se graduou na prestigiosa Escola Politécnica Federal, conhecida como ETH, em 1900. O aspecto arrogante e a sua aversão à autoridade não foi muito apreciado entre os professores da ETH e nenhum deles lhe ofereceu um posto de assistente, que era a rota normal para iniciar uma carreira académica. Dois anos depois, conseguiu um posto de trabalho no escritório, na Suíça, de patentes em Berna. Foi enquanto ocupava este posto que, em 1905, escreveu três artigos que lhe estabeleceram como um dos principais cientistas do mundo e iniciou duas revoluções conceituadas, revoluções que trocaram a nossa compreensão do tempo, do espaço, e da própria realidade.
No final do século XIX, os cientistas acreditavam achar-se próximos a uma descrição completa da natureza. Imaginavam que o espaço estava cheio de um meio contínuo denominado éter. Os raios de luz e os sinais de raio eram ondas neste éter, tal como o som consiste em ondas de pressão no ar. Tudo o que faltava para uma teoria completa eram medições cuidadosas das propriedades elásticas do éter. De facto, avançando-se a tais medições, o laboratório Jefferson da Universidade do Harvard foi construído sem nenhum prego de ferro, para não interferir com as delicadas medições magnéticas. Entretanto, os desenhistas esqueceram que os tijolos avermelhados com que estão construídos o laboratório e a maioria dos edifícios de Harvard contêm grandes quantidades de ferro. O edifício ainda é utilizado na actualidade, embora em Harvard não estão ainda muito seguros de quanto peso pode sustentar o piso de uma biblioteca sem pregos de ferro que o sustentam. No final do século, começaram a aparecer discrepâncias com a ideia de um éter que o enchesse todo, acreditava-se que a luz se propagaria pelo éter com uma velocidade fixa, mas que se um observador viajava pelo éter na mesma direcção que a luz, a velocidade desta lhe pareceria menor, e se viajava em direcção oposta à da luz, a sua velocidade lhe pareceria maior.
Entretanto, uma série de experiências não conseguiu confirmar esta ideia. As experiências mais cuidadosas e precisas foram os realizados pelo Albert Michelson e Edward Morley na Case School of Applied Science, em Cleveland, Ohio, em 1887, em que compararam a velocidade da luz de dois raios mutuamente perpendiculares. Quando a Terra gira sobre seu eixo e ao redor do Sol, o aparelho desloca-se pelo éter com rapidez e direcção variáveis. Mas Michelson e Morley não observaram diferenças diárias nem anuais entre as velocidades de ambos os raios de luz. Era como se esta viajasse sempre com a mesma velocidade com respeito ao observador, fosse qual fosse a rapidez e a direcção em que este se estivesse movendo. Apoiando-se no estudo de Michelson-Morley, o físico irlandês George Fitzgerald e o físico holandês Hendrik Lorentz sugeriram que os corpos que se deslocam pelo éter se contrairiam e o ritmo de seus relógios diminuiria. Esta contracção e esta diminuição do ritmo dos relógios seria tal que todos os observadores mediriam a mesma velocidade da luz, independentemente do seu movimento em relação ao éter. (Fitzgerald e Lorentz ainda o consideravam como uma substância real). Entretanto, num artigo publicado em Junho de 1905, Einstein sublinhou que se não podermos detectar, se nos movemos ou não no espaço, a noção de um éter resulta redundante. Formulou o postulado de que as leis da ciência deveriam parecer as mesmas a todos os observadores que se movessem livremente. Em particular, todos deveriam medir a mesma velocidade da luz, independentemente da velocidade com que se estivessem movendo. A velocidade da luz é independente do movimento do observador e tem o mesmo valor em todas direcções. Isto exigiu abandonar a ideia de que há uma magnitude universal, chamada tempo, que todos os relógios podem medir. Em vez disso, cada observador teria o seu próprio tempo pessoal. Os tempos de duas pessoas coincidiriam se ambas estivessem em repouso uma em relação à outra, mas não se estivessem deslocando-se uma em relação à outra». In Stephen Hawking, The universe in a nutshell, Bantam Book, 2001, O Universo numa Casca de Noz, Editora ARX, 2001, ISBN 857-581-013-8.

Cortesia de ARX/JDACT