quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Monarcas Infelizes Carlos I Inglaterra. «Ele teria tido, sem dúvida, melhor moldura para o seu reinado se, em vez de se mover no tablado das brumosas regiões inglesas, tivesse vivido noutro ambiente mais galante e mais tolerante»

Cortesia de wikipedia e jdact

Neto de Maria Stuart. Decapitado pelo Parlamento inglês
«(…) Muitos galgaram os degraus do patíbulo para ensopar os lenços no sangue, que afinal não era azul, mas vermelho, como o de toda a gente. A morte de Carlos Stuart em nada desmereceu da de sua avó, infortunada como ele. Afinal, eram ambos Stuarts e os Stuarts, era da tradição, se não sabiam governar bem, sabiam bem morrer! Realmente, a vida de Carlos I não fora brilhante ou invejável. Ele teria tido, sem dúvida, melhor moldura para o seu reinado se, em vez de se mover no tablado das brumosas regiões inglesas, tivesse vivido noutro ambiente mais galante e mais tolerante. Madrid ou Viena, por exemplo, onde a mentalidade colectiva era, ao tempo, mais delicada, teriam, talvez, compreendido melhor esta personalidade real, de psicologia remarcada e firme, este homem coroado tão generoso, humano, artista, profundamente imbuído dos seus deveres do que, por defeito de educação considerava os seus deveres.
Os-filhos mais velhos do Stuart, Carlos e Jaime, encontravam-se no exílio, na Holanda, junto do seu cunhado, o príncipe de Orange, que os auxiliava. Carlos I despedira-se dos filhos mais novos, dona Isabel e o duque de Gloucester, antes de subir ao patíbulo. O monarca deu conselhos ao último. Vão talvez aclamar-te, mas não deves ser rei enquanto viverem teus irmãos, porque se os apanharem cortar-lhes-ão a cabeça..., e o mesmo te espera, meu filho. Não deves, pois, consentir na coroação... Para Carlos I o período mais feliz do seu reinado teria sido, exactamente, o dos onze anos que governara sem Parlamento. Foi nessa fase que logrou impulsionar, de forma assinalável, a indústria do país, que muito lhe ficou devendo.
Após a execução do infeliz soberano, o governo parlamentar exigia de Portugal, por intermédio da sua esquadra, a entrega dos sobrinhos do Stuart, os príncipes palatinos Roberto e Maurício, que se haviam acolhido à protecção da corte de Lisboa. João IV, de Portugal, cedendo mais a razões humanas do que políticas (os interesses de Portugal, nesse momento, quiçá tivessem aconselhado o contrário!) negou-se a atender as imposições da Inglaterra, numa honrosíssima atitude. E os sobrinhos do rei decapitado puderam sair do solo português incólumes e em liberdade para continuarem a combater pela causa de seu tio, e agora, porventura, desejando apenas vingá-lo.
Realmente, quando, anos mais tarde, restaurada a realeza, Carlos II subiu ao trono, um dos seus primeiros actos foi o de julgar e condenar à morte os juízes de Carlos I, seu pai. Quanto à rainha-viúva, Henriqueta Maria, homiziada, apos o trágico fim do marido e depois de ter vivido, no Louvre, a miséria imposta pela avareza de Mazarino, recolheu-se ao Convento da Visitação, em Chailot, de que foi fundadora. Sobreviveu ainda vinte anos ao esposo. Morreu em 1669, em Colombes». In Américo Faria, Dez Monarcas Infelizes, Livraria Clássica Editora, colecção 10, Lisboa, s/d.

Cortesia da LCEditora/JDACT