quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Infante Afonso Sanches. Senhor de Portalegre. «É também muito natural que Afonso tenha mobilizado os moradores de Portalegre, Castelo de Vide e Marvão, praças-fortes do seu senhorio, a que se juntaram as forças de Álvaro Nuñez Lara»

Cortesia de wikipedia

A Herança d’O Bolonhês
«(…) No entanto, importa relembrar que este cerco não foi levado a cabo apenas por forças portuguesas, mas também pela hoste régia castelhana, comandada pessoalmente pelo próprio Sancho IV e na qual haviam sido integrados contingentes fornecidos pela Ordem de Alcântara e liderados pelo mestre, o português Fernão Pais, que em finais de Agosto se encontrava já na Guarda, pelo infante Juan, El Tuerto, genro de Afonso, e ainda por todos os ricos-homens do reino de Leão e da Galiza, o que terá certamente contribuído para que o exército sitiador tivesse atingido um total que, numa estimativa modesta, rondaria os cinco a seis milhares de efectivos. Para além disso, as forças luso-castelhanas dispunham também de engenhos de cerco, sinal de que não estavam dispostas a desistir facilmente do seu objectivo. Mais difícil é perceber qual seria a composição do exército do infante, já que as fontes, silenciosas a esse respeito, não dão qualquer pista que permita sequer descortinar quais os vassalos de Afonso integrados na defesa da fortaleza de Arronches. Todavia, é provável que entre esses se encontrassem os alcaides de Portalegre e de Marvão, respectivamente, Aires Cabral e Gomes Pais Bugalho, os mesmos que em Dezembro de 1287, isto é, imediatamente após o cerco, farão menagem desses castelos ao rei. É também muito natural que Afonso tenha mobilizado os moradores de Portalegre, Castelo de Vide e Marvão, praças-fortes do seu senhorio, a que se juntaram as forças de Álvaro Nuñez Lara, que certamente somavam um número considerável de combatentes. Mas talvez o infante esperasse ainda, o que não veio a acontecer, outros apoios de última hora, pois naturalmente contaria poder vir a capitalizar o descontentamento de boa parte da nobreza para com o rei, demonstrado nas cortes de Lisboa de 1285 e desencadeadas pelas inquirições-gerais de 1284.
Segundo José Antunes, António Resende Oliveira e João Gouveia Monteiro, no dia 6 de Novembro o rei encontrava-se já à vista de Arronches. Ainda assim, não deixa de ser possível que as operações tivessem sido iniciadas uma semana antes dessa data, pois o último documento lavrado pelo rei Dinis antes do início do cerco remonta ao dia 26 de Outubro, quando ainda se encontrava em Monforte, vila que dista de Arronches apenas 15 quilómetros que podiam perfeitamente ser percorridos em apenas um dia de marcha. Ainda que nada se saiba acerca da forma como decorreu o cerco, parece-nos certo que os sitiados ofereceram dura resistência aos sitiadores. Para isso terá seguramente contribuído o forte perímetro de defesa do castelo, formado por uma muralha e talvez - como se observa no Livro das Fortalezas, de Duarte d’Armas, elaborado no século XVI, por uma barbacã e um fosso, a que talvez já se somasse também o perímetro defensivo que, em inícios de Quinhentos, protegia a vila.
Mas tal como em 1281, também desta feita os sitiadores acabariam por levar a melhor, com o infante a ver-se forçado a capitular e a aceitar as regras impostas pelos vencedores. Ainda que possa ter existido um primeiro acordo meramente verbal, os detalhes da rendição foram acertados apenas no dia 13 de Dezembro em Badajoz, cidade para onde o infante partira, provavelmente como uma das condições desde logo estabelecidas, e onde se reencontrou com sua mãe, dona Beatriz, e com a irmã, dona Branca. A formalização definitiva das pazes, bem como alguns acertos posteriores, acabaria por ser assinada em Elvas poucos dias depois. Mas desta feita, ao contrário do que sucedera em 1281-1282, o rei Dinis foi mais longe nas suas exigências, obrigando o infante derrotado, em Janeiro de 1288, a abdicar da praça-forte de Arronches, trocada pela vila de Armamar, no Douro, ou seja, numa região afastada do seu senhorio alentejano, que agora ficava amputado de uma das suas mais importantes fortalezas. Para além disso, era obrigado a prestar menagem ao rei pelos castelos de Portalegre e de Marvão, embora na prática tivessem sido os alcaides respectivos, Aires Cabral e Gomes Pais Bugalho, e depois Estêvão Pais Abelhão, a fazê-1o. Contudo, segundo o conde Pedro, a terra entregue ao infante (Armamar), valeria três vezes mais do que Arronches, pelo que, em termos financeiros, a punição até nem foi assim tão severa quanto poderia parecer à primeira vista. Quanto ao outro derrotado, Álvaro Nuñez Lara, viria também a assinar, em Dezembro, uma concórdia com Sancho IV, pela qual punha fim à sua rebelião, da qual, graças à intervenção de Dinis, acabaria por ser perdoado e por ver iniciado o processo de afastamento de Lopo Dias Haro, que levará à morte deste em Junho de 1288. Porém, o Lara já não assistirá à queda definitiva do rival, pois virá a morrer, dias depois das pazes com o seu rei, quando se encontrava ainda em Portugal, na praça-forte de Marvão». In Miguel Gomes Martins, Guerreiros Medievais Portugueses, A Esfera dos Livros, Lisboa, 2013, ISBN 978-989-626-486-4.

Cortesia EdosLivros/JDACT