quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Antão Vasques. Guerreiros. Portugueses Medievais. Miguel G. Martins. «Entre os que integram as vagas de assalto que tentam ultrapassar as fortes muralhas da vila vamos reencontrar o “enérgico”, Antão Vasques, como lhe chama João Gouveia Monteiro»

Cortesia de wikipedia e jdact

Ao serviço de Nuno Álvares
«(…) É então que os castelhanos, que se preparavam já para prosseguir a marcha em direcção ao Porto, lançam um poderoso destacamento contra as forças de João Ramalho que, apesar de inicialmente se encontrarem em inferioridade numérica, conseguem rechaçar os combatentes adversários, entre os quais é possível que tenham mesmo infligido pesadas baixas. Perante este inesperado revés, o arcebispo decide interromper a ofensiva e retira com o seu exército para a Galiza. Afastada a ameaça, as forças portuguesas regressam então à cidade do Porto, certamente que já a planear a melhor forma de retaliar. Enquanto eram ultimados os preparativos para a viagem de volta à capital, as galés lisboetas, reforçadas já por algumas embarcações portuenses e mais uma vez sob a liderança do conde Pedro de Trastâmara, preparam-se para levar a cabo uma série de ataques navais contra as povoações costeiras da Galiza, uma ofensiva em que Antão Vasques irá participar na qualidade de capitão da galé Santa Maria de Cacela, a mesma que comandava desde a partida de Lisboa.
O primeiro alvo da frota é a vila de Baiona, imediatamente a norte da foz do Minho, que sem esboçar qualquer resistência, prefere pagar 400 francos aos atacantes, de modo a que estes não provocassem danos nas suas habitações e bens. De seguida as galés dirigem-se contra Mugia, escassas milhas depois de dobrarem o Cabo Finisterra, onde incendeiam duas embarcações. Progredirem então contra La Coruña onde, tal como em Baiona, a população prefere também pagar, desta feita 600 francos, para que os portugueses não lançassem qualquer ataque contra a cidade. Com a frota aí fundeada, um grupo de seis galés ruma até Ferrol, onde praticamente toda a povoação é reduzida a cinzas e, de seguida, contra Neda, de onde retiram, mais uma vez, contra o pagamento de 400 francos. Com todas as embarcações novamente reunidas junto a La Coruña, a frota progride até Betanzos, onde capturam uma galé, e incendiam duas naus, uma das quais transportava engenhos destinados ao cerco de Lisboa. Só então o comando português dá ordens para o desembarque e para o início do ataque à povoação, certamente porque os seus habitantes se haviam recusado a pagar o que lhes havia sido exigido.
Entre os que integram as vagas de assalto que tentam ultrapassar as fortes muralhas da vila vamos reencontrar o enérgico, Antão Vasques, como lhe chama João Gouveia Monteiro. A pressão parece ter sido de tal forma intensa que, ao fim de poucas horas de luta, a guarnição local estava à beira de capitular, tendo já abandonado alguns sectores da muralha. Mas quando ninguém o esperava, o conde Pedro de Trastâmara dá ordens para suspender o ataque, de modo a poder ser dado um prazo para que os defensores pudessem aceitar a proposta de preitesia apresentada pelo comandante das forças portuguesas. Esse período permitiu, todavia, que durante a noite chegassem reforços vindos de diversas localidades da região, o que deitou por terra a perspectiva de uma rendição. Sem meios para manterem a vila cercada durante muito mais tempo, os portugueses optam por retirar e regressar ao Porto, atacando durante o trajecto diversas outras povoações da costa galega. A chegada ao Porto tem lugar num clima verdadeiramente festivo e em plena véspera de São João, tendo a ocasião sido devidamente celebrada com um torneio disputado com armas reais e afiadas, mas acerca do qual não temos qualquer informação de que tenha contado com a participação de Antão Vasques, já que as fontes narrativas referem apenas os nomes de Afonso Henriques e de Pedro de Trastâmara, seu irmão.

O Tejo, Coimbra e o Minho
Antão Vasques regressa a Lisboa em Julho, integrado na frota oriunda do Porto e de novo ao comando da galé, Santa Maria de Cacela, participando, portanto, na Batalha Naval do Tejo, ferida no dia 18 desse mês. A sua embarcação terá entrado na barra integrada numa coluna de 16 outras galés escoltadas, a bombordo e a estibordo, por duas colunas de naus. Foram precisamente as naus, em concreto as que avançavam mais próximo da margem norte, os únicos navios a envolver-se, de forma activa, em combate com os navios castelhanos que bloqueavam a cidade pelo lado do rio. Assim, apesar dos enormes riscos inerentes a essa operação, não houve qualquer intervenção da galé, de Antão Vasques na batalha propriamente dita». In Miguel Gomes Martins, Guerreiros Medievais Portugueses, A Esfera dos Livros, Lisboa, 2013, ISBN 978-989-626-486-4.

Cortesia ELivros/JDACT