quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Álvaro Vaz de Almada. Conde de Avranches. Alfarrobeira. «… para surpresa de todos, verificou-se também que as escadas de assalto eram de dimensões muito reduzidas para permitir a escalada dos muros. Sem forma de ultrapassar este obstáculo, os atacantes retiram então para o arraial»

jdact e wikipedia

Tânger. A miragem e o desastre
«(…) São, pois, cerca de 4000 os combatentes que iniciam o trajecto por terra, em direcção a Tânger, enquanto os restantes 2000, entre os quais Álvaro Vaz Almada e o infante Fernando, o principal entusiasta desta expedição, fazem o percurso por mar até ao objectivo estratégico da expedição. A chegada tem lugar na sexta-feira 13 de Setembro, tendo de imediato sido iniciada a instalação e fortificação do arraial, que o infante Henrique, o comandante da expedição, opta por posicionar num a zona longe da praia e não nas imediações desta, como prudentemente tinha sido sugerido, semanas antes, pelo rei Duarte. E é nesse mesmo dia que têm lugar as primeiras investidas, essencialmente destinadas a experimentar a capacidade de defesa da praça-forte e da sua guarnição, comandada por Salah-ibn-Salah, o alcaide de Ceuta derrotado em 1415. Os rumores entretanto surgidos, segundo os quais as portas da cidade estariam abertas, terão entusiasmado ainda mais os combatentes, bem como os capitães envolvidos nesta manobra, entre os quais se encontrava Álvaro Vaz Almada. No entanto, tudo não passava de uma informação infundada, mas de que os portugueses só se aperceberam quando se viram encurralados entre a barbacã e as muralhas, cujas portas estavam, afinal de contas, encerradas. Ainda assim, graças ao apoio dos contingentes enviados para lhes proteger a retirada, aquelas primeiras unidades conseguem retornar ao acampamento sem sofrerem demasiadas baixas, mas ainda assim com alguns feridos, entre os quais o conde de Arraiolos e Álvaro Vaz, ambos atingidos por virotões, respectivamente, numa perna e num braço.
E se dúvidas existissem a esse respeito, nesse momento todos tiveram a confirmação de que o empreendimento em que estavam envolvidos seria tudo menos fácil e que a submissão de Tânger demoraria muito mais tempo que aquele que inicialmente se esperava. E por isso mesmo, os dias que se seguem são passados a reforçar as defesas do arraial, protegendo-o com fossos e uma forte paliçada, o célebre palanque, como ficou conhecida. Durante esses dias tem também lugar o desembarque de todos os meios necessários ao sucesso da operação, isto é, mais armas, mantimentos, munições e canhões. Mas ao contrário do que aconselhava o bom-senso, todas as bocas de fogo foram posicionadas numa zona demasiado afastada do acampamento principal e próxima das muralhas inimigas, certamente para que os seus disparos não falhassem o alvo. Coube ao veterano Álvaro Vaz Almada e ao marechal Vasco Fernandes Coutinho, filho do vencedor da Batalha de Trancoso, o comando deste sector, provavelmente o mais perigoso de todos, porquanto mais exposto aos ataques e surtidas inimigas. Com efeito, por muitas vezes este pequeno arraial de artilharia foi alvo das forças muçulmanas, mas em todas essas ocasiões os dois comandantes ter-se-ão batido como valentes cavaleiros, conforme sublinha Rui Pina na Crónica de D. Duarte.
Concluído todo o lento e complexo processo de instalação do cerco, no dia 20 de Setembro, isto é, uma semana depois da chegada às imediações de Tânger e das escaramuças iniciais, tem então lugar o primeiro assalto à cidade. Contudo, ao fim de perto de 5 horas de luta, na qual Álvaro Vaz parece não ter participado, mais uma vez centrada entre a barbacã e as muralhas, verificou-se que era impossível derrubar as portas, já que estas haviam sido previamente entaipadas pelos sitiados. Mas não foi esse o único contratempo a frustrar a ofensiva. De facto, para surpresa de todos, verificou-se também que as escadas de assalto eram de dimensões muito reduzidas para permitir a escalada dos muros. Sem forma de ultrapassar este obstáculo, os atacantes retiram então para o arraial, segundo Rui Pina, tendo sofrido apenas uma vintena de mortos e perto de 500 feridos.
Dias depois, já na posse de novas escadas de assalto e de mais artilharia de fogo, designadamente duas grandes bombardas, pólvora e munições mandadas vir expressamente de Ceuta, o infante Henrique dá início aos preparativos para o segundo assalto. Contudo, não eram apenas os portugueses que se reforçavam. Com efeito, dia após dia chegavam novos contingentes muçulmanos às imediações de Tânger. E para os manter afastados do arraial, os sitiadores lançavam frequentemente patrulhas contra as forças que se distribuíam pelos montes em redor da cidade. Numa dessas ocasiões foi Álvaro Vaz Almada que, à frente de um destacamento composto por 70 cavaleiros, deparou com um numeroso contingente inimigo que, algo exageradamente, A Crónica de D. Duarte contabiliza em 500 homens. Ainda assim, estes portugueses e o seu experiente comandante conseguiram levá-los de vencida, pese embora o facto de, no regresso, terem sido perseguidos pelo inimigo quase até à entrada do palanque. Mas aquilo que inicialmente não passava de pequenas incursões de desgaste, rapidamente se converteu em ofensivas de maior dimensão, como as que ocorreram no dia 30 de Setembro e, acima de tudo, na tarde de 3 de Outubro». In Miguel Gomes Martins, Guerreiros Medievais Portugueses, A Esfera dos Livros, Lisboa, 2013, ISBN 978-989-626-486-4.

Cortesia Esfera dos Livros/JDACT