quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

A Civilização Asteca. Jacques Soustelle. «Pirâmides e altares, baixos-relevos, (…) e sobretudo a escrita hieroglífica, mais a contagem do tempo; com os ‘olmecas’, surgem os traços essenciais a todas as civilizações do México. Podem ser considerados o elo de transição entre o período pré-clássico, ‘o da aldeia’, e o período clássico, ‘o da civilização urbana’»

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«Os astecas, azteca, ou mexicanos, mexica dominavam com esplendor a maior parte do México quando os conquistadores espanhóis ali chegaram, em 1519. A sua língua e a sua religião tinham-se imposto sobre imensas extensões de terra desde o Atlântico até ao Pacífico e das regiões áridas setentrionais até a Guatemala. O nome de seu soberano Motecuhzoma era venerado ou temido de uma ponta à outra daquele vasto território. Os comerciantes com as caravanas de carregadores percorriam o país em todos os sentidos. Os funcionários recebiam impostos de todos os lados. Nas fronteiras, as guarnições astecas mantinham à distância as populações insubmissas. Em Tenochtitlán (México), sua capital, a arquitectura e a escultura haviam alcançado um impulso extraordinário, enquanto o luxo crescia no vestuário, à mesa, nos jardins e na ourivesaria. Os astecas, contudo, haviam conhecido difíceis e obscuros começos. Chegados tardiamente ao México central, no século XIII, foram por longo tempo considerados intrusos, semibárbaros, pobres e sem terras. O início de sua ascensão data somente do reinado de Itzcoatl (1428-1440). Os povos que os circundavam podiam, na maioria, vangloriar-se de possuir tradições e uma antiga civilização, das quais, entretanto, careciam os imigrantes mais recentes.

As antigas civilizações mexicanas. A época pré-clássica
Na verdade porém, ao ser gradativamente descoberta pelas escavações arqueológicas e pelo estudo dos documentos nativos, a antiguidade mexicana revela-se de uma incrível riqueza de fases culturais, penetrando profundamente até um passado remoto.  Para mencionar apenas o México Central, encontram-se vestígios desde 15000 ou 20000 a.C., de povos caçadores que utilizavam armas de pedra lascada ao perseguirem mamutes e outros animais selvagens em torno dos lagos e pântanos do vale do México. No IV milênio a.C., o milho começava a ser cultivado na região de Tehuacán. A agricultura, nos seus primórdios, fornecia uma fracção ainda pequena dos recursos necessários aos nativos, os quais também se dedicavam à caça e à colecta. Gradativamente, porém, aumentava a importância das plantas cultivadas, como milho, vagens, abóbora, grãos oleaginosos como o huauhtli (amarante), tomate e pimenta. Durante os cinco séculos seguintes, a agricultura expandiu-se no planalto e ao longo dos vales em direcção ao litoral do golfo. O algodão não podia aclimatar-se nas planícies centrais, mas o agave, maguey, fornecia fibras. Com o advento da agricultura, da cerâmica e da tecelagem, despontam as aldeias, aglomerações de índios sedentarizados que puderam fixar-se ao redor de campos graças à segurança proporcionada pela regularidade das colheitas. Às margens dos lagos, em Zacatenco, Ticomán, El Arbolillo, Copilco, Tlatilco, Cuicuilco, os camponeses nativos levaram durante quase três milénios uma vida semelhante às das vilas neolíticas do Velho Mundo. A cerâmica abundante e variada, conforme descoberta nos túmulos, é rica em estatuetas, algumas das quais provavelmente representam divindades, enquanto outras, com seus ornamentos e turbantes, atestam a existência de estruturas sociais bastante diferenciadas. No final do período chamado pré-clássico, pouco antes da era cristã, os índios de Cuicuilco eram suficientemente numerosos e organizados para construírem a primeira pirâmide do planalto Central, túmulo de tijolos e pedras, por sinal de configuração mais próxima do tronco cónico do que da forma piramidal.

Os olmecas
Desde aquela época, os túmulos de Tlatilco testemunham a influência que exercera sobre o planalto a primeira das grandes civilizações mexicanas: a dos olmecas do litoral do golfo. Desde a segunda metade do II milênio a.C., esse povo ainda misterioso construíra imponentes centros cerimoniais principalmente em La Venta e San Lorenzo, nos actuais estados de Tabasco e Veracruz. Antes de seu desaparecimento, em 400 a.C., os olmecas já haviam difundido a sua civilização por uma imensa área da Mesoamérica desde o vale do Balsas até El Salvador e a Costa Rica, do litoral do golfo às montanhas de Oaxaca e ao litoral do Pacífico. Pirâmides e altares, esteias esculpidas, baixos-relevos, jades e jadeístas cinzelados, e sobretudo a escrita hieroglífica, mais a contagem do tempo; com os olmecas, surgem esses traços essenciais a todas as altas civilizações do México. Por isso, eles podem ser considerados o elo de transição entre o período pré-clássico, isto é, o da aldeia, e o período clássico, ou seja, o da civilização urbana». In Jacques Soustelle, A Civilização Asteca, 1970, Projecto Democrarização da Leitura, As Civilizações Pré-Colombianas, tradução de Maria Goldwasser, Zahar, Rio de Janeiro, 1987, ISBN 978-85-7110-382-5.

Cortesia de Zahar/JDACT