sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Carlos XII. Suécia. Monarca Infeliz. Américo Faria. «… nada menos de três inimigos coroados. E que inimigos! Augusto II, da Polónia; Frederico IV, da Dinamarca; e Pedro I, Czar de Moscóvia e senhor das Rússias, haviam-se combinado numa acção comum com o intuito de arrebatarem…»

Cortesia de wikipedia

Rei errante que não conseguiu voltar ao trono
«Na galeria gloriosa e numerosa dos Carlos que reinaram na Suécia, Carlos XII foi certamente dos que mais se distinguiram, já como guerreiro notável, já como esforçado desafrontador da honra nacional, muito embora a sua curta existência nos últimos anos tivesse acentuado cunho de infelicidade. Ele foi um rei que não pôde reinar, por ter sido chamado pelo inimigo ao campo da luta, que lhe tomou todo o tempo de que dispunha. Esse mesmo facto o impediu de casar-se. Carlos XII, filho de Carlos XI, a quem sucedeu no trono, nasceu, em 1682, em Estocolmo, e cingiu a coroa real de 1697 a 1718. A Suécia era, nesses tempos, e desde sempre, uma nação poderosa, invejada pelas potências vizinhas, e a sua independência só se mantinha pelas reais qualidades de valentia, de denodo, de organização do seu povo empreendedor, bem orientado e dirigido pelos seus soberanos. O Colosso do Norte era como então, e posteriormente, ficou sendo conhecida pelo resto do Mundo, e representava um factor de importância em todos os negócios europeus. Como em todos os países, os filhos de algo eram ali preparados, desde a meninice, no manejo de todas as armas, nos estratagemas da guerra e na compreensão da sua linhagem, para que chegados à idade própria, soubessem ser valorosos e hábeis à frente dos seus vassalos. E o que sucedia com os aristocratas, com mais poderosas razões se aplicava aos príncipes.
Tal princípio explica, possivelmente, a educação guerreira que Carlos XII, desde a infância, patenteava nos mínimos actos. Até mesmo nas suas brincadeiras de menino ele começou cedo a revelar um excepcional temperamento de lutador e um carácter invicto de antes quebrar que torcer. A morte do pai, em 1697, atirou-o, na idade de quinze anos apenas, para cima do cobiçado trono, com todas as graves responsabilidades e dificuldades que impendiam sobre a coroa sueca, vindas principalmente do exterior. De facto, os perigos e complicações não se fizeram esperar para o moço soberano. Alguns dos seus mais poderosos inimigos coligaram-se contra o seu país, julgando-o fácil saque para as suas ambições expansionistas, dada a juventude e inexperiência do rei-menino. Quando Carlos XII porventura se preparava para governar pacificamente, eis que lhe saltam ao caminho, à frente dos seus numerosos e ameaçadores exércitos, nada menos de três inimigos coroados. E que inimigos! Augusto II, da Polónia; Frederico IV, da Dinamarca; e Pedro I, Czar de Moscóvia e senhor das Rússias, haviam-se combinado numa acção comum com o intuito de arrebatarem algumas das terras do seu reino e enfraquecerem o seu poderio, que lhes fazia sombra.
Sem se atemorizar, de ânimo viril e vontade férrea, mostrando uma coragem incomparável, Carlos da Suécia encara os inimigos de frente e dispõe-se à luta, logo revelando uma bela capacidade de organizador e de táctico. É admirável a atitude decidida deste jovem monarca que, levantando a provocação lançada aos seus poucos anos, abandona o remanso da sua corte, onde permanecera somente três escassos anos, e se arroja, decididamente, com o reduzido exército numa guerra desigual, que a moralidade internacional da época talvez justifique. O primeiro exército que lhe sofreu os embates ardorosos e irresistíveis foi o da Dinamarca. De tal maneira e tão fulminantemente desenvolveu a sua acção, ah!, o reizinho sueco patenteava-se um verdadeiro homem à altura das circunstâncias!, que obrigou Frederico IV a assinar a paz de Travendahl, depois de ter sido batido completamente em 1700. Â guerra começara sob os melhores auspícios. Esta primeira vitória encheu de júbilo o seu povo, que pelas ruas das cidades deu largas a uma compreensível alegria, em entusiásticas manifestações. Livre temporariamente desse inimigo colocado à ilharga do seu reino, Carlos da Suécia volta-se depois, com as diminutas forças com que contava (9.000 homens, superando a quantidade com a qualidade e decisão!), contra a avalanche das forças de Pedro, o Grande, da Rússia, que lhe opunha um formidável exército de 50.000 soldados. A desproporção era assinalável, esmagadora, e faria hesitar outro que não fosse da têmpera de aço do rei sueco». In Américo Faria, Dez Monarcas Infelizes, Livraria Clássica Editora, colecção 10, Lisboa, s/d.

Cortesia de Livraria Clássica Editora/JDACT