domingo, 9 de novembro de 2014

Política Social. Pobreza e Eclusão Social. Pobreza Absoluta em Portugal. Margarida Ferreira. «… e os seus contextos na avaliação do bem-estar assim como, as escolhas que cada um/a faz para a conversão de capacidades em funcionamentos, definindo um processo de expansão das capacidades humanas para funcionar»

Cortesia de wikipedia

A Teoria das Capacidades, de Amartya Sen
«(…) Estas diferenças de distribuição de rendimento e outros recursos podem estar relacionadas com o género dos integrantes da família, com a idade ou com as necessidades percebidas. Ou seja, os factores de conversão sociais estão relacionados com as políticas públicas, normas sociais, papéis de género, e relações de poder que afectam a posição do indivíduo na esfera social ou comunitária, podendo também influenciar o seu acesso a bens e serviços essenciais para a realização de alguns funcionamentos. Por último, os factores de conversão ambientais são intrínsecos ao clima, à posição geográfica ou à existência de doenças infecciosas no local onde o indivíduo habita. Daqui decorre que os bens e serviços necessários a uma adequada protecção dos indivíduos podem variar largamente entre regiões. Por exemplo, as condições da habitação e o rendimento necessário para manter a habitação adequadamente aquecida podem ser bastante distintos entre uma região com um clima ameno e uma região com um clima frio. A questão da escolha ocupa um lugar central na Teoria das Capacidades, especificamente na conversão do conjunto de capacidades em funcionamentos. Como refere Sen enquanto a combinação de funcionamentos de uma pessoa reflecte as suas realizações efectivas, o conjunto capacitário representa a liberdade para realizar as combinações alternativas de funcionamentos de entre as quais a pessoa pode escolher. Neste sentido, a escolha funciona como um vector que converte as alternativas de capacidades em funcionamentos valorizados pelo indivíduo.
Para além da escolha como vector de conversão, também as circunstâncias que influenciam as escolhas de um indivíduo perante o seu conjunto de capacidades ocupam um papel central na abordagem das capacidades. As preferências, entendidas como o valor atribuído aos conjuntos de capacidades reais, afectam a escolha que antecede a realização de funcionamentos. Por exemplo, as tradições culturais e as normas sociais podem alterar as preferências das mulheres, influenciando as suas escolhas e aspirações afectando consequentemente a conversão do conjunto capacitário em funcionamentos. Assim, ao destacar o poder de agência, o contexto cultural e ambiental na conversão de recursos em funcionamentos, a Teoria das Capacidades reconhece a diversidade humana em múltiplos aspectos como a raça, a etnia, o género, a sexualidade e os seus contextos na avaliação do bem-estar assim como, as escolhas que cada um/a faz para a conversão de capacidades em funcionamentos, definindo um processo de expansão das capacidades humanas para funcionar.

A perspectiva de género: o potencial da Teoria das Capacidades
A Teoria das Capacidades postula que cada indivíduo é detentor de conjuntos de capacidades reais, susceptíveis de serem convertidas em funcionamentos, e defende que o contexto económico e social do indivíduo e as circunstâncias em que este escolhe do seu conjunto de oportunidades, ocupam um papel central. Por considerar a multiplicidade de contextos e circunstâncias, esta teoria traduz o seu potencial quando utilizada numa perspectiva de género. Mencionar o género, é referir os: atributos sociais, papéis, actividades, responsabilidades, poderes e necessidades relacionadas com o facto de se ser homem (masculino) e de se ser mulher (feminino) numa dada sociedade e num dado tempo, enquanto membro de uma comunidade específica dentro de uma sociedade. As identidades de género da mulher e do homem determinam a forma como são entendidos e como se espera que pensem e hajam. O género envolve crenças culturais e distribuição de recursos a um nível macro ou estrutural; padrões de comportamento e práticas organizacionais a um nível meso ou de interacção; e as identidades pessoais de cada um, a um nível micro ou individual». In Margarida Ferreira, Política Social, Pobreza e Exclusão Social, Projecto Pobreza Absoluta em Portugal, Fundação para a Ciência e a Tecnologia, Wikipédia, ISCSP, 2013.

Cortesia de ISCSP/JDACT