sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Antão Vasques. Guerreiros. Portugueses Medievais. Miguel G. Martins. «Diz-nos Fernão Lopes, que os lisboetas ‘puseram logo as pranchas fora e saltaram todos em terra com a bandeira do Mestre tendida ante eles, convém a saber: Gonçalo Rodrigues Sousa; [Rui Pereira], […] Vasco Martins Melo, e seu irmão, e Antão Vasques e Aires Vasques de Alvalade, e outros fidalgos e patrões de galés’»

jdact e wikipedia

Ao serviço de Nuno Álvares
«(…) Contudo, tal como sucedeu com outros antigos vassalos de João Afonso Telo, a sua chegada à capital, ainda para mais num momento em que o inimigo se preparava para iniciar as operações de cerco, pode ter levantado algumas suspeitas, mesmo que infundadas, aos olhos do Mestre de Avis e dos que lhe eram mais próximos. Com efeito, a presença de elementos tidos como afectos ao Telo, e por via deste, a D. Leonor Teles, a D. Beatriz e a Juan I, podia dar origem à formação de uma autêntica quinta coluna, que actuaria em benefício da hoste castelhana a partir do momento em que esta fechasse o cerco sobre a cidade. Nesse sentido, era preferível não correr quaisquer riscos e manter esses indivíduos potencialmente perigosos afastados da capital. Assim, Antão Vasques foi um dos combatentes que, tal como Estêvão Vasques Filipe e Afonso Furtado, seguiu na frota enviada para o Porto e que deixou Lisboa no dia 14 de Maio de 1384, escassos dias antes da entrada na barra do Tejo da poderosa armada castelhana proveniente de Sevilha. Comandadas por Gonçalo Rodrigues Sousa, as 13 galés lisboetas seguem então viagem em direcção a norte com o objectivo, por um lado, de se porem a salvo dos navios inimigos e, por outro, de se reunirem a outras embarcações para, logo que possível, regressarem em força a Lisboa de modo a romper o bloqueio naval à capital.

Rumo a norte
A chegada ao Porto tem lugar no momento em que as forças do arcebispo de Santiago se preparavam para avançar sobre a cidade com o objectivo de lhe pôr cerco, encontrando-se já em São Romão, a escassos quilómetros do objectivo. Foi precisamente esta perigosa proximidade que levou a que os portuenses decidissem enfrentar o adversário antes que este chegasse às imediações da cidade. Assim, reúnem um total de 700 homens de armas, 300 besteiros e 1500 peões cujo comando é entregue ao castelhano Pedro de Trastâmara, que semanas antes tinha fugido de Coimbra na sequência da descoberta de uma rocambolesca conspiração contra Juan I de Castela. E é no momento em que estas forças cruzavam a Porta do Olival que tem lugar a chegada da frota proveniente de Lisboa. Diz-nos Fernão Lopes, que os lisboetas puseram logo as pranchas fora e saltaram todos em terra com a bandeira do Mestre tendida ante eles, convém a saber: Gonçalo Rodrigues Sousa; [Rui Pereira], e Afonso Furtado, e Estêvão Vasques Filipe, e Gonçallo Vasques, filho de Vasco Martins Melo, e seu irmão, e Antão Vasques e Aires Vasques de Alvalade, e outros fidalgos e patrões de galés à frente de um grande número de combatentes que totalizava 300 homens de armas apeados, 500 besteiros e 3500 galiotes.
Profundamente motivados pela chegada destes reforços, os portuenses procuram, então, forçar o adversário a uma batalha campal, pelo que progridem para norte ao seu encontro até à zona de Paranhos, onde se encontravam os efectivos do arcebispo. Mas Juan Manrique, ao aperceber-se da ameaça, ordena a retirada para a margem norte do rio Leça, onde ocupam uma pequena elevação a partir de onde era possível controlar a região circundante e, ao mesmo tempo, a ponte sobre o rio, onde posicionam um forte destacamento cuja missão era impedir o inimigo de atravessar de uma margem para a outra. As forças do Porto e de Lisboa tentam, por diversas vezes, encontrar um vau para poderem cruzar o rio até ao local onde se encontrava posicionado o grosso das forças castelhanas. Porém, sem conseguirem descobrir um local seguro para atravessar para a outra margem, com o cair da noite, também os portugueses instalam os seus arraiais. No dia seguinte pela manhã, os homens de Pedro de Trastâmara conseguem finalmente descobrir um sector onde era possível fazer a travessia, mas que, por o rio ser ainda muito caudaloso e a corrente bastante forte, teve que ser previamente atulhado com madeira e terra. Terminada essa operação, logo algumas das forças portuguesas, num total de 300 combatentes entre cavaleiros e peões liderados pelo mercador portuense João Ramalho, cruzaram o rio. Mas porque era mais que evidente que a qualquer momento o inimigo iria cair sobre eles, o comando português decide procurar um outro vau para, mais rapidamente, colocar o maior número possível de tropas na outra margem do rio». In Miguel Gomes Martins, Guerreiros Medievais Portugueses, A Esfera dos Livros, Lisboa, 2013, ISBN 978-989-626-486-4.

Cortesia ELivros/JDACT