sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Álvaro Vaz de Almada. Conde de Avranches. Alfarrobeira. «Ao que se sabe, foi a única acção em que se envolveu durante esta breve passagem por Ceuta; contraiu matrimónio com a filha de Álvaro Cunha, D. Isabel Cunha, de quem teve dois filhos: João e D. Isabel, encontrando-se já casado em inícios de Janeiro de 1436»

Viagens do infante Pedro e de Álvaro Vaz Almada
jdact e wikipedia

Nas pisadas do pai
«(…) Depois de alguns atrasos, em Março de 1428 tem início a viagem de regresso a Portugal, com a hoste, entretanto engrossada por alguns imperiais como o célebre Mateus da Polónia, a passar pela Marca de Treviso, um território fronteiriço, que o imperador havia atribuído ao infante Pedro ainda em 1418. Daí, o trajecto para sul faz-se por Veneza, Ferrara, Florença e Roma, pretexto para Pedro se encontrar em audiência com o papa Martinho V. Prosseguem de novo para norte, rumo a Pisa, porto em que tem início a viagem marítima que os levará ao reino de Aragão, onde devem ter chegado em Julho. Será este o ponto de partida para a derradeira etapa com destino a Portugal. Porém, nem todos seguem viagem. Com efeito, o infante, Álvaro Vaz Almada, Aires Gomes Silva e Estêvão Afonso optam por permanecer mais umas semanas em Valencia, de modo a poderem ultimar as negociações relativas ao enlace entre Pedro e D. Isabel, filha do conde de Urgel, cujo contrato de casamento viria a ser firmado em inícios de Agosto de 1428. Concluído o acordo, a agora pequena comitiva portuguesa segue então viagem por rotas terrestres através de Aranda, Valladolid e Zamora, cruzando a fronteira luso-castelhana nos inícios de Setembro de 1428.

O Mediterrâneo e Ceuta
Ao longo dos cinco anos seguintes, voltamos a não ter qualquer notícia do trajecto de Álvaro Vaz Almada, sendo provável que tenha permanecido a maior parte do tempo em Portugal, certamente envolvido nas actividades inerentes ao seu cargo de capitão-mor, no qual é confirmado por João I, através de carta datada de 5 de Janeiro de 1433 e, nos inícios de 1434, pelo novo rei, Duarte I. Será também este monarca que, por essa mesma altura, lhe reitera a posse de diversos bens que haviam pertencido a seu pai, designadamente um casal em Alconena, no reguengo de Algés; a coutada de um pinhal e de um lugar no termo de Almada chamados, respectivamente, Cavala e Vai-lhe-Bem; e ainda, embora já em 1436, a renda da sisa dos judeus do reino. É por esta mesma altura, ou seja, em 1434 ou 1435, que Álvaro Vaz, ao comando de três embarcações, conduz uma ofensiva contra os navios genoveses. Parece, no entanto, que não se tratou de uma operação levada a cabo ao serviço da Coroa e, portanto, de acordo com directivas do rei Duarte I. De facto, a Crónica de D. Pedro de Meneses sugere ter-se tratado, isso sim, de uma expedição punitiva e de retaliação pelos certos danos, anteriormente provocados em alguns navios mercantes de Álvaro Vaz, que provavelmente teriam sido abordados e pilhados por uma frota oriunda da cidade de Génova. A isso o capitão-mor terá respondido da mesma forma, ou seja, com um autêntico acto de pirataria, conduzido a título individual e, ao que parece, exclusivamente com os seus próprios meios. E tudo indica que a expedição foi bem sucedida, saldando-se na captura de uma carraca genovesa e ainda de algumas embarcações muçulmanas, das muitas que cruzavam o Mediterrâneo.
É na fase final desta campanha naval, provavelmente no regresso a Portugal, que os seus navios aportam na cidade de Ceuta, certamente para se reabastecerem de água e de mantimentos. Álvaro Vaz é então recebido pelo capitão-mor, o conde Pedro Meneses, um velho conhecido, que de imediato o desafiou a participar numa cavalgada contra território muçulmano. Contudo, talvez devido à sua falta de experiência nesse tipo de acções e, em particular, devido ao desconhecimento do terreno e das tácticas habitualmente usadas pelo adversário, as forças que comandava acabaram por ser atacadas por um contingente inimigo, tendo então corrido mesmo o risco de ser morto, ferido ou capturado. Valeu-lhe a rápida intervenção do conde e dos seus homens, que conseguem repelir o inimigo e infligir-lhe um pesado número de baixas. Ao que se sabe, foi a única acção em que se envolveu durante esta breve passagem por Ceuta, tendo regressado a Portugal pouco tempo depois. Terá, sido por esta mesma altura que contraiu matrimónio com a filha de Álvaro Cunha, D. Isabel Cunha, de quem teve dois filhos: João e D. Isabel, encontrando-se já casado em inícios de Janeiro de 1436.

Tânger. A miragem e o desastre
O primeiro semestre de 1437 foi todo ele marcado pelo planeamento e organização da expedição a Tânger, a segunda investida portuguesa contra as praças-fortes do litoral norte-africano e para a qual a Coroa contava reunir um total de 14 000 efectivos: 3500 homens de armas, 500 besteiros de cavalo e 2500 besteiros de pé, 7000 peões e 500 auxiliares. Como comenta Luís Miguel Duarte, tratava-se de um exército quase ideal, bem proporcionado. E sendo Álvaro Vaz o titular do cargo de capitão-mor da frota, não espanta que tenha também integrado essa campanha, cujos preparativos se encontravam já praticamente concluídos em inícios de Agosto de 1437, com homens, mantimentos e navios, nomeadamente os seus, a concentrar-se em Lisboa, a partir de onde rumam em direcção ao Norte de África. Contudo, no dia 27 de Agosto, durante o alardo que teve lugar imediatamente após a chegada a Ceuta, onde a frota fez uma primeira escala e onde Álvaro Vaz se reencontrou com Pedro Meneses, foram contabilizados apenas 2000 homens de armas, 1000 besteiros e 3000 peões, ou seja, menos de metade do que inicialmente se esperava e uma cifra que poderia colocar em xeque o sucesso da campanha. Em boa medida, isso devia-se ao facto de não terem sido mobilizadas todas as embarcações inicialmente previstas, circunstância que levou a que só uma parte do exército rumasse para sul, mas que não foi considerada determinante para levar ao adiamento da campanha». In Miguel Gomes Martins, Guerreiros Medievais Portugueses, A Esfera dos Livros, Lisboa, 2013, ISBN 978-989-626-486-4.

Cortesia Esfera dos Livros/JDACT