terça-feira, 7 de outubro de 2014

Pensamentos. Reflexões. Agostinho da Silva. «As liberdades essenciais são três: liberdade de cultura, liberdade de organização social, liberdade económica. Pela liberdade de cultura, o homem poderá desenvolver ao máximo o seu espírito crítico e criador; ninguém lhe fechará nenhum domínio…»

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Liberdade. A fé dos homens é ainda na liberdade
«(…) Estão vivos noventa por cento dos sábios com que contou a Humanidade desde o início da sua História, dispõem de meios que em outras épocas nem ousariam sonhar-se; as descobertas que se fazem, incluindo as que estão ligadas às viagens espaciais, contra as quais tanta gente está, exactamente como esteve contra as portuguesas o Velho de Os Lusíadas, permitiriam já hoje um paraíso de abundância e segurança sobre o mundo, se fosse tão fácil porem os homens o seu temperamento de acordo com a sua inteligência como lhes é fácil fazer obedecer à sua inteligência as forças adormecidas do universo físico; adormecidas no adormecimento em que a Bela esperava seu Príncipe; e caminhando para a mesma íntima fusão. Todas as esperanças nos são abertas; os avanços tecnológicos estão ao nosso dispor e para o único fim em que serão úteis, para nos darem tempo livre; talvez, durante alguns séculos ainda, tempo livre para criarmos matemática ou poesia ou pintura; depois, tempo livre já mais certo, que é o de vermos a matemática ou a poesia e a pintura como existindo no mundo à volta com mais plenitude do que em nossas equações, versos e quadros, dispensando a existência dos artistas, que terão sido apenas meios de comunicação da beleza para quem ainda não podia ver directamente; e afinal, na idade melhor, sendo nós próprios matemática, poesia e pintura, vivendo arte e ciência, e, por viver, as criando; este é o tempo livre que Deus tem: vive, e o mundo é; vive o mundo, e Ele é; o qual Deus nos quer à sua imagem e semelhança, como nós o temos querido à nossa; quando as duas vontades se encontrarem, e só então, haverá Paraíso». In Educação de Portugal

As liberdades essenciais
«As liberdades essenciais são três: liberdade de cultura, liberdade de organização social, liberdade económica. Pela liberdade de cultura, o homem poderá desenvolver ao máximo o seu espírito crítico e criador; ninguém lhe fechará nenhum domínio, ninguém impedirá que transmita aos outros o que tiver aprendido ou pensado. Pela liberdade de organização social, o homem intervém no arranjo da sua vida em sociedade, administrando e guiando, em sistemas cada vez mais perfeitos à medida que a sua cultura se for alargando; para o bom governante, cada cidadão não é uma cabeça de rebanho; é como que o aluno de uma escola de humanidade: tem de se educar para o melhor dos regimes, através dos regimes possíveis. Pela liberdade económica, o homem assegura o necessário para que o seu espírito se liberte de preocupações materiais e possa dedicar-se ao que existe de mais belo e de mais amplo; nenhum homem deve ser explorado por outro homem; ninguém deve, pela posse dos meios de produção e de transporte, que permitem explorar, pôr em perigo a sua liberdade de espírito ou a liberdade de espírito dos outros. No Reino Divino, na organização humana mais perfeita, não haverá nenhuma restrição de cultura, nenhuma coacção de governo, nenhuma propriedade. A tudo isto se poderá chegar gradualmente e pelo esforço fraterno de todos». In Doutrina Cristã.

In Agostinho da Silva, Citações e Pensamentos, O Homem não Nasceu para Trabalhar, Nasceu para Criar, Casa das Letras, Alfragide, 2009, ISBN 978-972-46-1922-4.

Cortesia de Casa das Letras/JDACT