quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Conquista de Madrid. 1706. Vieira Borges. «… a França, constituiu para os Portugueses do tempo, a grande escola da cultura e da civilidade, pelo que se defendia tudo o que viesse daquele país, mesmo que fosse contrário ao espírito nacional»

jdact e sergioveludo

Actores e Interesses
«(…) Desde a paz com a Espanha, em 1668, que o problema mais grave para Portugal, residia na sua situação económica, por um lado devido a uma estratégia económica desenvolvida pelos espanhóis, no sentido de bloquearem o comércio português com os países europeus e, por outro lado, devido às cedências feitas à Inglaterra e à Holanda. Concorrentemente, as questões da colónia de Sacramento, (no actual Uruguai) do tráfego com o Brasil e mesmo com a Índia, constituíam um eixo fundamental, senão mesmo vital, da economia internacional Portuguesa. Era então do mar dos negócios que se podiam esperar compensações e auxílios para Portugal enfrentar quaisquer investidas continentais, quer por parte da França, Quer por parte da Espanha. Para Portugal, a união possível da Espanha ao poderio francês constituía a repetição da situação estratégica em que tinha perdido a independência, em 1580, e daí a inevitabilidade da nossa participação militar na guerra da Sucessão de Espanha, independentemente de uma postura inicialmente neutral.
As prioridades portuguesas, relativamente ao comércio colonial e à sua segurança, ainda sem envolvimento directo na luta pela sucessão do trono espanhol, levaram Pedro II (regente e rei entre 1667 e 1706), secundado pelo seu ministro Cadaval, e influenciado pela existência, na Corte, de um activo e influente partido francês, a optar inicialmente pela França, julgando ser a melhor maneira de conter politicamente a Espanha. Não se estranhe a situação conjuntural, pois até Guilherme III de Inglaterra, em 17 de Abril de 1701, reconhecera Filipe V de Espanha. Com esta opção inicial pela França em que foi reconhecida a realeza de Filipe V, a 18 de Junho de 1701, em troca da cedência de terras a norte do Amazonas, Portugal perdia o seu estatuto de neutralidade e ratificava uma aliança com a França, datada de Outubro de 1700, colocando-se discutivelmente e sem qualquer sentido geopolítico, em oposição aos tradicionais aliados marítimos. A dualidade de interesses políticos e culturais confundia facilmente os portugueses, que só dificilmente entendiam as alianças, a não ser que a Espanha estivesse explicitamente do lado oposto; segundo Veríssimo Serrão, a França, constituiu para os Portugueses do tempo, a grande escola da cultura e da civilidade, pelo que se defendia tudo o que viesse daquele país, mesmo que fosse contrário ao espírito nacional.
Mais tarde, e numa manobra diplomática magistral, com a participação activa de José Cunha Brochado em Paris, deu-se uma reviravolta estratégica, onde as primeiras derrotas dos franceses em Itália e no Reno e a ameaça da frota inglesa às costas de Espanha, terão também contribuído como elementos de pressão. Pedro II, depois de ter solicitado os socorros estipulados na aliança com a França, que lhe foram recusados por impossibilidade, considerou nulos os tratados, e passou, de novo, a uma situação de neutralidade, altura que aproveitou para se rearmar e ganhar poder negocial relativamente à Inglaterra. Apesar de pressionado pela Grande Aliança, Pedro II ponderava a nova aliança, lembrando-se dos sacrifícios impostos pela Restauração, da situação económica desfavorável e das consequências para Portugal de uma nova guerra aqui tão perto, como lhe lembrava o seu diplomata em Londres, Luís Cunha». In João Vieira Borges, Conquista de Madrid, 1706, Batalhas de Portugal, Tribuna da História, Lisboa, 2003, ISBN 972-8799-08-X.

Cortesia de Tribuna/JDACT