domingo, 13 de julho de 2014

Poemas. As Virgens. Hélio Ferreira. «Escutam respirando o eco da verdade que a hora lhes chegou na noite da cidade e o pensamento vago tacteante inulto calmo»

jdact

As Virgens
«Esponsálias em fogo
perdidas de verdade
entrelaçadas
loucas
desmedidas
castas
quase mortas
lutam em comum
desesperadas
desbaratando forças.
Dois corpos virginais
bebidos de suor
selados em procuras
discutindo Amor.

Escutam respirando
o eco da verdade
que a hora lhes chegou
na noite da cidade
e o pensamento
vago
tacteante
inulto
calmo.
Num curto despertar
cede
ao fogo já apagado
procurando amor
em calmo mar».

Muro Estrangulado
«Dentro do muro
vazio estrangulado.
O meu cansaço espera
farto de tanto caminhar
reaparece só.
 - Esfera desmedida
que vejo posso dar
no vago reencontro
sem nada te pedir
surto inacabado.

Recordo que te dei
o pensamento
sintomático mostrar
do teu surgir
embutido
inverso
encurralado
no tudo que passava
e não se via.

Por de negativo
inspirar
o nada
que por ser.
Já existia
nos roucos gritos
locomotiva humana
que descem por caminhos.
Tronco nu.

Solta
a tua virgindade
nascente fogueada
e as sombras rectilíneas
que te cobrem.
Façam descer
sobre esta cama
o meu cansaço espera.
Muro estrangulado
onde transpiras
sangue
onde respiras
lama.
Poemas de Hélio Ferreira, in ‘Virgens

In Hélio Costa Ferreira, Poemas As Virgens, Oficinas Gráficas Reunidos, Porto, 1972.

Cortesia de OGReunidos/JDACT