sábado, 12 de julho de 2014

Lenda de Nª. Srª. da Arrábida. Sebastião da Gama. «Partiu o mastro o Vento aterrador e girou ao redor a rir. Entretanto, na nave, o capitão, da Grã-Bretanha filho e Hildebrando, com os seus repartia, em bom quinhão, a coragem..., que nele ia faltando»

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Lenda de Nª. Srª. da Arrábida
«Não conheceis a lenda linda
de Maria
que desceu,
certo dia,
nesta serra?
Pois eu conto
sem um ponto
lh’aumentar,
se me ‘inda
lembro dela.
Dia de temporal por sob o Céu.
O mar aterra.
Ouve-se o Vento
a soprar.
E um lindo barco à vela
navegava,
retorcia,
já tombava,
já caía.
Olhai! Olhai!
‘Té parece
gaivotinha
que falece!
Asas, a vela branquinha
a que o Vento, caçador,
disparou
de repente
e, gemente,
a piar,
foi cair
no Mar.
Olhai! Olhai!

Partiu o mastro o Vento aterrador
e girou
ao redor
a rir.
Entretanto, na nave, o capitão,
da Grã-Bretanha filho e Hildebrando,
com os seus repartia, em bom quinhão,
a coragem..., que nele ia faltando.
E diz assim
à marujada:
 - Correi a mim,
que a fé em Deus
e em Maria
nos salvará!
Correi, oh meus,
‘té à sagrada
imagem que há
neste navio
da Virgem Mãe de Deus, imaculada.
A Alegria
então floriu
nas faces da marujada
que já estava
desanimada,
que já cuidava
a Morte ao pé:
é que os salvava
a sua fé.
E veio
correndo logo,
nos olhos fogo,
no coração.

E o Vento rugia
e o barco quebrava
e o Mar lá bramia
com sua voz cava.
Mas eles já nem ouviam
o Mar;
já nem sentiam
ventar.
[…]
Arrábida, dia 9 de Janeiro de 1942

In Sebastião da Gama, Lenda de Nª. Srª. da Arrábida, Associação Cultural Sebastião da Arrábida, nos 90 anos de Sebastião da Gama, 2014.

Cortesia da ACSdaGama/JDACT