domingo, 27 de julho de 2014

História. Política Exterior. Progressos da economia monetária. «Durante todo o século XIV cresce nos nossos portos o movimento comercial e é por essa altura que Lisboa se transforma numa grande cidade mercantil, que supera todos os outros centros urbanos e assume a posição de capital»

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Progressos da economia monetária
«(…) As feiras tiveram importante papel económico e social. Ali se trocava a produção da terra por dinheiro, tornando possível a compra do que a terra não produzia. A enumeração dos produtos que deviam pagar tributo, feita nas aras de feira ou nos foros da terra, dá uma boa ideia do que era então a actividade comercial. Os foros de Beja, por exemplo, indicam os gados de várias espécies (cavalos, muares, burros, bovinos, carneiros, porcos); animais utilizados na caça: açores e falcões para a altanaria, furões para as batidas aos coelhos; galinhas, patos, perdizes; cabedais curtidos e por curtir, brancos e tingidos de vermelho; peles de coelho e de outras espécies; peixe seco e salgado e marisco, especificando-se o caranguejo e a amêijoa; produtos hortícolas: feijões, alhos, cebolas, hortaliças; frutas de árvore, passas, castanhas, nozes, bolotas, pevides de cabaça e outras sementes; azeite, vinho, mel, cera, sal, pimenta, grão, cominhos; produtos artesanais e materiais de construção: madeira, telha, greda, pez, ferroem bruto e em barra ferramentas agrícolas, chocalhos para os rebanhos, esporas e freios, fechaduras; a besta com todos os seus aprestos: unto, esparto para fazer as cordas, erva de besteiro; alguns utensílios: peneiras, joeiras, uchas (grandes arcázes em que se guardava o cereal), taleigas, alforges; lã e linho, panos de bragal e de cor, vestuário já feito, calçado.
Os mercadores da cidade percorriam as feiras do interior para ali venderem a fazenda que importavam e adquirirem os stocks das mercadorias que exportavam. Desde os inícios do século XII que a técnica da construção naval regista progressos: velame com área maior, um leme fixo que permite governar o barco a uma maior velocidade, o aumento da tonelagem, que possibilita carregar quantidades de mercadorias cada vez maiores. A palavra caravela aparece escrita pela primeira vez no foral de Vila Nova de Gaia, de 1255. Muitos indícios revelam a intensificação do comércio por mar. No ano de 1226, mais de cem mareantes portugueses obtiveram do rei da Inglaterra salvo-conduto contra os ataques dos corsários. Em 1293, o rei Dinis confirmou (não instituiu) a bolsa marítima, que era uma organização de capitais provenientes do comércio e formada por uma percentagem sobre os lucros, que servia para custear os prejuízos dos sinistros marítimos. Durante todo o século XIV cresce nos nossos portos o movimento comercial e é por essa altura que Lisboa se transforma numa grande cidade mercantil, que supera todos os outros centros urbanos e assume a posição de capital.
A intensificação das relações comerciais traduz-se no crescente aumento e pressão dos mercadores da cidade sobre os dos campos para reunirem maiores quantidades de géneros destinados à exportação. As produções exportáveis, que são fundamentalmente o vinho e o azeite, tendem a desenvolver-se em detrimento das que são absorvidas pelo consumo interno. É às culturas, não às velhas, que vão sendo entregues os solos arroteados de novo; há mesmo terras que já tinham sido searas e agora caem em mortório ou são convertidas em olivais e em vinha. O défice do pão acentua-se constantemente até ao início da era dos descobrimentos. O produto da terra, sob a punção do mercador, tende a perder o carácter de simples meio de sobrevivência para assumir um valor novo: o de instrumento de comércio. Não se destinam a alimentar, mas a dar lucro. A questão do preço torna-se, um factor muito importante na produção». In José Hermano Saraiva, História Concisa de Portugal, Publicações Europa América, 1995.

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