quinta-feira, 24 de julho de 2014

Conquista de Madrid. 1706. Vieira Borges. «A política externa portuguesa era então cautelosa, procurando evitar os conflitos entre a França e a Inglaterra, com uma neutralidade que levaria à recusa do empenhamento em diversas campanhas na Europa»

jdact e sergioveludo

Actores e Interesses
«(…) A Espanha, apesar de ter deixado de ser a grande potência imperial que fora no século anterior, continuava a desempenhar um papel de relevo no xadrez internacional, especialmente der-ido às riquezas oriundas das Américas e ao facto de dispor da terceira armada do mundo, logo a seguir a ingleses e a franceses, o que a tornava numa mais valia aquando da escolha dos aliados. Encontrava-se, no entanto, numa situação económica preocupante, como consequência dos numerosos conflitos em que a monarquia se havia empenhado em função da sua política imperial. Para além da bancarrota na fazenda pública, graves conflitos sociais desencadearam motins anti senhoriais na Catalunha (1687-89), em Valência (1693) e em Madrid (1699). Carlos II não convocava Cortes, as instituições tradicionais não funcionavam, a justiça era ineficaz e, mais importante, não estava assegurada a sucessão ao trono, o que viria a dar origem à guerra. A Holanda, que havia conquistado a sua independência frente à Espanha em 1648, continuava a ser um aliado importante da potência marítima, quer pelo seu poder naval, desequilibrador no âmbito de alianças mais vastas, quer pelo seu posicionamento na Europa. Os seus interesses passavam pela continuidade do seu império, inclinando-se, como no caso de Portugal, para a aliança inglesa ao lado do pretendente da Áustria. Durante a guerra, que atingiu duramente os seus espaços, os efectivos holandeses atingiriam cerca de 140 mil homens, o que é demonstrativo do seu empenho. A Oriente, a Rússia de Pedro o Grande, e os polacos, absorviam o poderio sueco de Carlos XII, um aliado importante para a Franca; segundo o historiador Toynbee, a guerra russo-sueca terá constituído um anexo da guerra da Sucessão de Espanha. Com este cenário global, da luta entre as duas grandes potências, qualquer acendalha levaria a um confronto para decidir da hegemonia europeia. E o explosivo encontrava-se na sucessão de Cados II, rei de Espanha: se um Bourbon, se um Habsburgo, sendo as restantes alternativas de pouca credibilidade.

Portugal na Guerra da Sucessão de Espanha
Portugal, depois da Restauração da Independência em 1640 e do declínio das possessões asiáticas, passou a ser um actor de segundo plano, sem outras veleidades de interferir na política internacional senão a de reagir às pressões externas e preservar a sua posição geoestratégica e o acesso às riquezas transcontinentais com especial ênfase para o Brasil. No final do século XVII e início do século XVIII, a importância crescente do comércio internacional, do ultramar e do controlo das rotas, valorizava o peso da Península Ibérica e de Portugal, que se transformava deste modo numa área estratégica fundamental para a disputa da hegemonia europeia.
Apesar deste acréscimo de peso específico, no final do século XVII, a dispersão do império e a sua necessária reconstrução, constituíam vulnerabilidades indiscutíveis e pressupostos objectivos de todas as decisões, no sentido de limitar a presença portuguesa nas controvérsias da Europa Central. A política externa portuguesa era então cautelosa, procurando evitar os conflitos entre a França e a Inglaterra, com uma neutralidade que levaria à recusa do empenhamento em diversas campanhas na Europa». In João Vieira Borges, Conquista de Madrid, 1706, Batalhas de Portugal, Tribuna da História, Lisboa, 2003, ISBN 972-8799-08-X.

Cortesia de Tribuna/JDACT