sábado, 7 de junho de 2014

Rainha Sem Reino. Estudo Histórico do Século XV. Alberto Pimentel. «Fora pois a noticia d’esta invasão o assunpto que preoccupara a attenção das cortes. Se o rei de Aragão se obstinasse em penetrar em Castella, o que se havia de fazer? Resistir-lhe, decidiram as cortes ao cabo de longos debates. Vagara entretanto o throno de Navarra…»

Cortesia de wikipedia

Segredos da Alcova…
«A Infanta de Portugal, D. Joana, filha de el-rei Duarte I e da rainha D. Leonor d’Aragão, nasceu pósthuma, em Março de 1439. Duas grandes fatalidades pareceram cobrir com a sua aza negra o berço da infantasinha portugueza: lucto pela morte de seu pae, esse illustrado e infeliz rei para quem a vida fora pouco menos de um martyrio ininterrupto, e a peste que entao glassava em Lisboa, obrigando a corte da rainha viuva a retirar-se para Almada, onde a infanta nascera na quinta de Monte Olivete. Menos feliz do que sua irmã D. Philippa, que n’esse mesmo anno morrera menina, tocada da peste, D. Joanna foi desabrochando as gracas da sua infancia no meio de uma corte melancholica, perturbada pelas luctas politicas da regencia, entregue ao cuidado da sua aia Maria Nogueira, e, mais tarde, confiada à companhia da sua camareira-mór D. Isabel Menezes, mulher de Ruy Mello, alcaide-mór de Elvas.
Menina e moça, a infanta, extremamente bella, fazia lembrar urna flor que vegeta à beira de um tumulo, porque essa corte viuva, onde a triste reina nao tinha uma hora de serenidade de espirito, nao era, de feito, mais do que o tumulo de todas as alegrias de familia, porque nao as teve a de Duarte I, nem a de seu filho Affonso V. Chegando aos dezesete annos de edade, fora D. Joanna pedida em casamento por seu primo Henrique IV, de Castella, que tinha nascido a 5 de Janeiro de 1425, e fora jurado principe das Asturias nas cortes geraes de Valhadolid com festas publicas. O bispo de Cuenca, que o baptizara, prégou sobre este thema: Puer natus est nobis. Um menino nos nasceu. Mas apesar de nascer entre jubilos o menino, que no throno de Castella devia succeder a seu pae João II, as cortes preoccuparam-se logo de resolver urna questão importantissima. Fora o caso, que João II havia casado com a infanta D. Maria, sua prima carnal, filha de Fernando I, de Aragão, irmã de D. Leonor, casada com o rei Duarte I, de Portugal, e que este casamento intromettera nos negocios politicos de Castella os infantes de Aragão, especialmente João e Henrique, que procuravam tomar ascendente no animo do rei, seu cunhado. Henrique, que era mestre de S. Tiago, e que aspirava a desposar, como desposou, D. Catharina, irmã do rei João, foi até ao extremo de assaltar o paço, e de querer aprisionar o rei. infante Henrique entrara preso na fortaleza de Móra, e João II representou ao rei de Aragão, Affonso V, para que lhe entregasse os cavalleros que tomaram partido por Henrique. Mediaram negociações, e o rei de Aragão resolveu finalmente invadir o reino de Castella.
Fora pois a noticia d’esta invasão o assunpto que preoccupara a attenção das cortes. Se o rei de Aragão se obstinasse em penetrar em Castella, o que se havia de fazer? Resistir-lhe, decidiram as cortes ao cabo de longos debates. Vagara entretanto o throno de Navarra, a que o infante aragonez, João, subira pelo seu casamento com a infanta D. Branca. Este incidente deu urna nova face às pendencias de João de Castella com Affonso de Aragão. O infante Henrique reconquistara a liberdade, para continuar a lucta, e o rei de Aragão dissolveu o exercito com que se havia preparado para combater o adversario. Em 1425 nascera, como dissemos, da alliança de João 11 com sua prima D. Maria, um infante, que recebeu o nome de Henrique. Era o quarto do nome que devia succeder na corca de Castella». In Alberto Pimentel, Rainha Sem Reino, Estudo Histórico do Século XV, Imprensa Civilização, The University of Michigan, Libraries, Barros e Filha, Editores, Porto, 1887.

Cortesia de Barros e Filha, Editores/JDACT