terça-feira, 29 de abril de 2014

Duas Estratégias Divergentes na Busca das Índias. D. João II vs Colombo. José M. Garcia. «… que este vinha do descobrimento das ilhas de Cipango e de Antilha, e que tendo-o João II mandado vir ante si, ele especialmente acusava-se el-rei de negligente, por se escusar dele por míngua de crédito e autoridade…»

jdact e wikipedia

Sobre a negação do apoio de João II ao projecto de Colombo
«(…) É de realçar aqui o ênfase colocado na ideia de se estar prestes a entrar no oceano Índico e a ultrapassar um ponto geográfico denominado Promontório Prasso, que seria então situável nos confins meridionais da África. O rei João II tinha a esperança de que este obstáculo pudesse ser finalmente ultrapassado por Diogo Cão no decorrer da sua segunda viagem de descobrimento, que se iniciou no Outono de 1485, altura em que Colombo já deixara Portugal visto ter partido para Castela depois de ter estado com José Vizinho ainda nesse ano.
Nos primeiros tempos que passou em Castela o genovês foi considerado como português, na medida em que, não sendo ali conhecido e tendo vindo de Portugal, esta proveniência facultava-lhe uma espécie de identidade que para os seus projectos lhe poderia ser vantajosa por lhe dar credibilidade, tendo em conta que os Portugueses estavam então bem cotados nos meios marítimos. Note-se que a origem portuguesa de Fernão de Magalhães e a sua experiência nos meios náuticos e orientais dos portugueses lhe deram a credibilidade necessária para que Carlos V tivesse aprovado a sua intenção de ir às Molucas por ocidente.
Os fundamentos que levaram Colombo a deixar Portugal em 1485 terão certamente resultado do facto de ter perdido a esperança de aí poder alcançar o apoio para a realização do seu projecto de atingir Cipango, as Índias ou outras ilhas como a Antilia, sendo ainda possível que tivesse problemas de dívidas, esperando que a ida para Espanha lhe viabilizasse a concretização dos seus anseios descobridores e a resolução de eventuais dificuldades económicas.
Rui de Pina, que foi secretário do rei João II e terá conhecido Colombo, além de ter participado logo em 1493 na primeira fase das negociações que iriam conduzir no ano seguinte à assinatura do Tratado de Tordesilhas, afirmou em 1504 a propósito da chegada de Colombo a Lisboa, por ele situada a 6 de Março de 1493, que este vinha do descobrimento das ilhas de Cipango e de Antilha, e que tendo-o João II mandado vir ante si, ele especialmente acusava-se el-rei de negligente, por se escusar dele por míngua de crédito e autoridade, acerca deste descobrimento para que primeiro o viera requerer. Na sua sequência Garcia de Resende, que também foi contemporâneo de Colombo, mas copiou em grande parte o que Rui de Pina escreveu, referiu cerca de 1533 que ele acusava el-rei por se escusar deste descobrimento e não no querer mandar a isso, pois primeiro se lhe viera oferecer que aos reis de Castela, e que fora por lhe não dar crédito.
João de Barros ao escrever sobre Colombo seguiu em parte o que referiu Rui de Pina mas alargou o teor das informações que possuía ao publicar em 1552 que primeiro que fosse a Castela andou com ele mesmo rei João, que o armasse pêra este negócio, o que ele não quis fazer (...), registando ainda que veio requerer a el-rei Dom João que lhe desse alguns navios pêra ir descobrir a ilha Cipango per este mar ocidental, e explicou que o fundamento desse pedido estaria mais nas influências suscitadas pela leitura do livro de Marco Polo do que nas informações que ele teria sabido de algumas ilhas ocidentais, como haviam referido outros autores, adiantando que o genovês, mesmo que não chegasse à terra pretendida, poderia pelo menos descobrir alguma ilha que desse para pagar as despesas do empreendimento que se propunha levar a cabo.
Damião de Góis, que em 1540 foi o primeiro português a publicar uma informação sobre Colombo, aludiu ao facto de que: Em sua vida, o genovês Colombo, muito perito na arte de navegar, ofereceu-lhe seu serviços e prometia viajar para a Índia, seguindo a rota do Ocidente. Não o atendeu o monarca, ordenando-lhe que se retirasse, pelo que ele se acolheu à proteção e serviço dos reis de Castela, Fernando e Isabel. O parecer negativo dado a Colombo resultaria fundamentalmente da sua míngua de crédito e autoridade, como dissera Rui de Pina, e porque certamente a tese de Toscanelli continuava a não ser aceite em Portugal». In José Manuel Garcia, D. João II vs Colombo, Duas Estratégias divergentes na busca das Índias, Quidnovi, 2012, Vila do Conde, ISBN 978-989-554-912-2.

Cortesia de Quidnovi/JDACT