quarta-feira, 26 de março de 2014

Jazz. Norah Jones. Poesia. «Fumo? E ocorre-me à lembrança todo esse tempo que lá vai, quando fumava, ainda criança, às escondidas de meu pai. Por alta noite, às horas mortas, quando não se ouve pio, ou voz…»

Cortesia de wikipedia

«O meu vizinho é carpinteiro,
algibebe de Dona Morte,
ponteia e coze, o dia inteiro,
fatos de pau de toda a sorte:
mogno, debruados de veludo,
flandres gentil, pinho do Norte...
Ora eu que trago um sobretudo
que já me vai aborrecer,
fui-me lá, ontem (era Entrudo,
havia imenso que fazer...):
- Olá, bom homem! Quero um fato,
tem que me sirva? - Vamos ver...
Olhou, mexeu na casa toda.
- Eis aqui um e bem barato.
- Está na moda? - Está na moda.
(Gostei e nem quis apreçá-lo:
Muito justinho, pouca roda...)
- Quando posso mandar buscá-lo?
-Ao pôr do Sol. Vou dá-lo a ferro.
(Pôs-se o bom homem a aplainá-lo…)

Ó meus amigos! Salvo erro,
juro-o pela alma, pelo Céu:
nenhum de vós, ao meu enterro,
Irá mais dândi! Olhai! Do que eu!»
Poema de António Nobre, in ‘Só’ (Paris, 1891)


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