quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Poesia. Caetano Costa Alegre. São Tomé e Príncipe. «Um dia a espuma dos mares, ao ver em si meu amor, foi dizer baixinho à praia: - A Vénus mudou de cor! […] Se os escravos são comprados, ó branca de além do mar, homem livre, eu sou escravo, comprado por teu olhar»

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Alto como o Silêncio
A ilha te fala
de rosas bravias
com pétalas
de abandono e medo.

No fundo da sombra
bebendo por conchas
de vermelha espuma
que mundos de gentes
por entre cortinas
espessas de dor.

Oh, a tarde clara
deste fim de Inverno!
Só com horas azuis
no fundo do casulo,
e agora a ilha,
a linha bravia das rosas
e a grande baba negra
e mortal das cobras.



Eu e os passeantes
Passa um inglesa,
e logo acode,
toda supresa:
what black my God!

Se é espanhola,
a que me viu,
diz como rola:
que alto, Dios mio!

E, se é francesa:
ó quel beau negre!
Rindo para mim.

Se é portuguesa,
ó Costa Alegre!
Tens um atchim!

Poemas de Caetano Costa Alegre, in ‘Versos’, 1916

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