quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Escritores. São Tomé e Príncipe. Caetano Costa Alegre. «… que se faz a transferência da povoação para a baía de Ana Chaves, uma das mais amplas no nordeste da ilha, uma região que permitia uma melhor penetração no território, bem como o desenvolvimento da cultura de cana e o escoamento da produção açucareira»

Cortesia de wikipedia

«(…) Veremos ainda as consequências dos ideais do romantismo na sociedade portuguesa do século XIX. Seguidamente passaremos à tentativa de uma definição para o romantismo, com o surgimento deste movimento na Europa e finalmente em Portugal e com as suas fases. Procuraremos caracterizá-las de modo a realçarmos essas características com alguns textos de autores românticos, sobretudo Almeida Garrett. A ideia da identidade nacional é reforçada, como referimos, a partir do romantismo, por isso neste trabalho iremos ter em conta essa questão, observando as diferentes acepções que os principais teorizadores têm sobre o assunto bem como a maneira como essas ideias se manifestam na literatura.
Um breve historial do percurso da literatura são-tomense antecederá ao estudo do perfil biográfico do autor que nos propomos trabalhar. Tendo em conta que o nosso objecto principal de estudo é o livro intitulado Versos de Caetano Costa Alegre, começaremos por fazer a sua breve apresentação, vendo como se compõe o livro, as suas formas de composição, as dominantes temáticas, com particular referência mas não excessiva à questão da cor da pele. Particular referência sobretudo por esse tema ter sido motivo de análises fora do contexto em que o tema foi desenvolvido, análises que em vez de reflectirem os sentidos poéticos dos textos reflectem as ideologias dos críticos. Finalmente tentaremos mostrar as marcas do romantismo presentes em Versos, realçando o que há de romântico na obra, o sentido conotativo dos textos, os recursos estilísticos mais marcantes na obra, no sentido da afirmação de uma individualidade a que o romantismo confere características nacionais de S. Tomé e Príncipe.
No que tange ao tipo de investigação académica necessária, este trabalho seguirá a metodologia com base em pesquisa de textos, e a bibliografia que utilizaremos como referencial teórico, compreenderá a crítica literária, o ideário romântico na Europa, e muito particularmente em Portugal. Também nos socorreremos de bibliografias que retratam a questão da identidade vista ao longo dos tempos, bem como as ligadas às literaturas africanas de expressão portuguesa, muito especificamente, a de São Tomé e Príncipe. Jornais e Boletins Oficiais servirão de referências bibliográficas para perquirir o autor em estudo.

Contextualização. Historial de S. Tomé e Príncipe
Conforme anotámos na Introdução, abriremos a nossa dissertação neste capítulo com as necessárias considerações contextuais da história para melhor entendermos o autor a que nos propomos estudar, inserindo-o na sociedade da sua época. Faremos uma breve historiografia de São Tomé, sua terra natal, desde a sua situação geográfica, até a formação de sociedade com características muito híbridas. Tendo em conta que o nosso autor partiu muito cedo para Portugal (cerca dos dez anos) e foi a partir de lá que fez os seu estudos e onde começou a escrever, faremos também uma breve contextualização sócio-cultural da época. São Tomé e Príncipe, duas das quatro ilhas (mais Fernando Pó e Ano Bom) que compõem um conjunto vulcânico na zona equatorial da Costa Ocidental Africana, distam uma da outra cerca de 82 milhas, com uma superfície terrestre de 875 km2 e 114km2 respectivamente, estando afastadas do continente africano em 160 milhas, ilha do Príncipe, 180 milhas ilha de São Tomé.
Apesar de não haver documentos fidedignos quanto à exactidão da descoberta do Arquipélago, supõe-se que o descobrimento tivesse decorrido entre os anos de 1470 (São Tomé) e 1472 (Príncipe) durante o reinado de Afonso V. Os seus descobridores foram seguramente João de Santarém e Pêro Escobar que estavam a serviço de Fernão Gomes, nos termos de um contrato que tinha com o rei de Portugal (fora-lhe concedido o monopólio do comércio na Costa da Guiné, com a obrigação de explorar toda a costa sul da Serra Leoa).
De acordo com o princípio de descentralização administrativa adoptada pela Coroa no início da expansão marítima, a ilha de São Tomé foi doada a João Paiva, em 1485, num sistema de capitania, dando assim o início ao seu povoamento, uma vez que esse território era supostamente desabitado aquando do seu achamento. Dificuldades inerentes às características naturais da ilha que na altura não permitiam a exploração económica imediata, e consequentemente, lucros directos. O donatário João Paiva renunciou à capitania, sucedendo o mesmo ao segundo donatário. Só em 1493, e com Álvaro Caminha, o grande impulsionador da colonização da ilha, é que se verificaria o arranque definitivo do povoamento efectivo do território, através de medidas muito concretas destinadas a multiplicar os habitantes e desta forma aumentar a produtividade em benefício da coroa. É-lhe concedida a jurisdição civil e criminal, ampliando os privilégios aos colonos aí estabelecidos ou que viessem a se estabelecer. É também nesta altura que se faz a transferência da povoação para a baía de Ana Chaves, uma das mais amplas no nordeste da ilha, uma região que permitia uma melhor penetração no território, bem como o desenvolvimento da cultura de cana e o escoamento da produção açucareira». In Instituto Camões, Repositório da Universidade de Lisboa, 2009.

Cortesia de ICamões/JDACT