sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Duas Estratégias Divergentes na Busca das Índias. D. João II vs Colombo. José M. Garcia. «Para fazer o seu globo Behaim recorreu a várias fontes, de entre as quais a principal foi por certo uma cópia do mapa de Toscanelli, […], aproximam-se das que estão expressas no globo»

Cortesia de vitorsantos e jdact

As canas nos testemunhos de Martin Behaim e Jerónimo Münzer
«(…) De realçar que esta ambiciosa iniciativa privada de exploração ocidental na prática tinha subjacente as ideias de Toscanelli, ainda que nela não se fale nas Índias, sendo financiada e efectuada pelos proponentes com autorização de João II. Este tinha no mesmo ano de 1487 enviado a7 de Maio Pêro Covilhã e Afonso Paiva para o Levante, em busca do Preste João e das Índias, e em Agosto de 1487 Bartolomeu Dias por mar, para encontrar a passagem que pelo sul de África permitisse aos navios Portugueses a tão desejada entrada no Índico. O monarca português apostou assim em l487 numa exploração multidirecional, de que só logrou resultados na viagem de Bartolomeu Dias. É admissível a hipótese de Behaim ainda se ter podido encontrar com Colombo em Portugal antes deste ter deixado o nosso país em 1485 e de com ele ter trocado opiniões sobre a tese de Toscanelli, pois ambos a defenderam, apesar de tal encontro não ter ficado documentado. O que sabemos ao certo é que Behaim viu as mesmas canas que tanto interessaram Colombo pois sobre elas falou na Alemanha, para onde foi na primavera de 1490 tratar de assuntos familiares e onde ficou até pouco depois de 14 de Julho de 1493, data da cartta de Jerónimo Münzer que trouxe consigo para João II, na qual contava com o apoio do imperador Maximiliano para a realização do seu projecto de ir ao Catai pelo ocidente.
Enquanto permaneceu em Nuremberga Behaim dirigiu em 1492 a construção de um famoso globo (Erdapfel) montado por Ruprecht Kolberger, para o qual forneceu informações e um mapa mundo destinado a melhor visualizar a forma da Terra de acordo com a teoria de Toscanelli. O conselho da cidade de Munique pagou a Behaim um florim de ouro e três libras pelo referido mapa, sendo legítimo supor que Behaim tenha preparado esse mapa e o globo tendo em conta as palavras de Toscanelli ao referir que ego autem quamvis cognoscam psse hoc ostendi per formam spericam…[…], isto é, eu, ainda que saiba que isso se pode mostrar por uma representação esférica, tal como é o mundo, contudo, para facilitar a compreensão e também para aliviar o trabalho de ensinar esse caminho, decidi-me a declará-lo da forma como se fazem as cartas de marear. Behaim recorreu à estratégia de fazer um globo para assim facilitar a compreensão das suas noções geográficas junto dos alemães de forma a poder receber apoio para realizar a sua desejada viagem para ocidente, a qual não lhe fora viabilizada por João II. Behaim acabou por receber o apoio e a influência do poder político expresso por Maximiliano, que em breve seria imperador alemão, pois sabemos que este governante, além de em 1493 ter apoiado a iniciativa de Behaim junto de João II, no mesmo ano e por sua mediação conseguiu que o enviado português Diogo Fernandes Correia se dirigisse aos Fugger e aos Gossembrot para que estes subsidiassem uma viagem ao Catai. As duas casas comerciais de Augsburgo estiveram dispostas a contribuir para essa missão com uma soma de 100 florins (gulden), apoio que não teria sequência devido à viagem para ocidente ter entretanto sido realizada com sucesso por Colombo.
Para fazer o seu globo Behaim recorreu a várias fontes, de entre as quais a principal foi por certo uma cópia do mapa de Toscanelli, pois as medidas nele adoptadas, tal como foram registadas na carta que o acompanhava, aproximam-se das que estão expressas no globo.
Enquanto Behaim procedia em Nuremberga entre 1490 e 1493 a diligências no sentido de obter apoios para fazer uma viagem para ocidente, Colombo diligenciou no mesmo sentido em Castela junto dos Reis Católicos. Entretanto João II entre 1489 e 1492 não realizou qualquer iniciativa para fazer avançar os Descobrimentos, nem para Oriente nem para Ocidente. Behaim voltou a Portugal com a citada carta datada de Nuremberga a 14 de Julho de 1493 que havia sido dirigida a João II por Jerónimo Münzer (cerca 1460-1508), também chamado Jerónimo Monetario, pois assinava Hironymus Monetarius. Este documento é conhecido através de uma cópia latina parcial do original que foi copiada por Hartmann Schedel na Alemanha, tendo ficado manuscrita, enquanto a sua versão portuguesa integral foi feita por mestre Álvaro da Torre, pregador de João II, e impressa em data incerta no chamado Guia náutico de Munique. No texto da carta manifesta-se o apoio de Maximiliano a uma expedição dirigida por Behaim tendo em vista a ida ao Oriente por via ocidental e não revelando qualquer elemento que indiciasse que em Nuremberga houvesse conhecimento de o projecto em causa ter acabado de ser concretizado por Colombo e por ele anunciado em Lisboa quando aí chegou a 4 de Março de 1493». In José Manuel Garcia, D. João II vs Colombo, Duas Estratégias divergentes na busca das Índias, Quidnovi, 2012, Vila do Conde, ISBN 978-989-554-912-2.

Cortesia de Quidnovi/JDACT