terça-feira, 20 de agosto de 2013

Monarcas Infelizes Carlos I Inglaterra. «O Parlamento, secundado pela opinião pública, levanta-se contra a autoridade do monarca, irritados os ânimos pelo acto real, que, nem por se ter frustrado, deixava de ser gravemente atentatório dos direitos e imunidades dos deputados»

Cortesia de wikipedia e jdact

Neto de Maria Stuart. Decapitado pelo Parlamento inglês
«(…) Wentwort, era fatal! Não acreditava, como acontecia com o seu senhor, na eficácia das assembleias, e todas as suas medidas eram promulgadas no sentido de dar cada vez maior fortalecimento ao poder real. A revolta escocesa de 1638-40 marcou o início à Revolução inglesa, afirmam autores reputados. Os escoceses, sedentos de aventuras, sem condições de vida económica nas suas ilhas, começaram a expatriar-se, servindo na carreira de armas de preferência e alistando-se, principalmente, nos exércitos protestantes estrangeiros. Esse facto permitiu que, no momento do toque a reunir, eles regressassem à pátria, aptos a guerrearem, com êxito, pela salvação da sua terra natal, devido à prática que haviam adquirido.
No início da revolta, logo apareceu um capitão, Alexandre Leslie, indivíduo experimentado e persistente, que organizou os seus patrícios, não lhe sendo difícil bater Carlos I, cujo exército fora improvisado à última hora e se compunha de elementos descontentes, soldados que não se batiam com vontade de vencer e para os quais a causa do soberano era impopular. Além disso, o dinheiro começou a escassear ao rei e, para o obter, só havia um recurso: convocar o Parlamento a fim de votar os impostos destinados à guerra contra os irrequietos vizinhos. Pouco tempo durou essa assembleia, o Curto Parlamento, como ficou sendo conhecido, mas foi o suficiente para mudar as coisas quase radicalmente. Com efeito, não passou muito tempo sem que o monarca não fosse forçado a convocá-lo de novo.
Estava-se em 1640. No novo Parlamento sentaram-se deputados de assinalável experiência que tinham acompanhado anteriormente os trabalhos parlamentares, e que não devotavam ao rei, pessoalmente, a mais pequena consideração ou estima. Especulando, habilmente, com as paixões populares contra a reacção realista, e apoiando-se seguramente na incipiente força armada e na opinião pública, o novo Parlamento preocupou-se, primeiro do que nada, em dar solidez e estabilidade à sua instituição, por intermédio de adequadas medidas, bem recebidas por toda a população. As prerrogativas régias viram-se notavelmente cerceadas e o conde de Strafford, apeado do cornando, foi julgado, condenado e executado, para exemplo dado pelo poder parlamentar na destruição do despotismo do monarca.
O rei foi, então, sujeito à suprema humilhação de ter de assinar o Acto da Pena de Morte para o seu servidor, ele que se vangloriava de manter no poder os ministros mais impopulares, em desafio à vontade da nação, desprezando totalmente aquilo a que chamava as cabalas das camarilhas. Infelizmente, até no próprio seio da Câmara dos Comuns se entranhava o vírus religioso, dividindo-lhe os membros em diversas facções e enfraquecendo a sua coesão, imprescindível perante o inimigo comum: o rei! Carlos I, apercebendo-se da situação, tenta tirar partido dela e, irreflectidamente, pretende deter cinco cabecilhas parlamentares, os quais, todavia, avisados a tempo, conseguem escapar-se, refugiando-se em asilo seguro.
O Parlamento, secundado pela opinião pública, levanta-se contra a autoridade do monarca, irritados os ânimos pelo acto real, que, nem por se ter frustrado, deixava de ser gravemente atentatório dos direitos e imunidades dos deputados. O Stuart, dispondo-se à luta, foge para o Norte, onde reúne os seus partidários. A guerra civil estala pouco depois, em 1642, e prolongou-se, com alternativas, até 1646. Do lado realista, havia os Cavaleiros com a sua lealdade desinteressada e uma valentia despreocupada, mas sem eficiência e quase sem organização. Da banda contrária, estavam os famosos Cabeças Redondas, disciplinadamente disposto e zelando pela causa pública». In Américo Faria, Dez Monarcas Infelizes, Livraria Clássica Editora, colecção 10, Lisboa, s/d.

Cortesia de Livraria Clássica Editora/JDACT