sábado, 22 de junho de 2013

O Santo Graal e a Linhagem Sagrada. Michael Baigent. Eichard Leigh. Henry Lincoln. «Após anos de trabalho solitário, o ímpeto trazido ao projecto por dois cérebros novos foi muito estimulante. O primeiro resultado palpável de nossa colaboração foi o terceiro filme Crónica sobre Rennes-le-Château, ‘A Sombra dos Templários’»

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Introdução
«Em 1969, quando estava de férias em Cévennes, comprei o livro de bolso Le Trésor maudit, de Gérard de Sede. Era uma história de mistério, uma mistura leve e interessante de factos históricos, mistérios genuínos e conjecturas. Depois das férias ele teria sido esquecido, como todas as leituras desse tipo, se eu não tivesse tropeçado em uma omissão evidente e curiosa em suas páginas. O tesouro amaldiçoado do título havia sido aparentemente encontrado nos idos de 1890 por um padre de vilarejo que decifrara alguns documentos enigmáticos desenterrados em sua igreja. Os supostos textos de dois desses documentos foram reproduzidos, mas não as mensagens secretas que estariam codificadas dentro dele. A inferência era que as mensagens decifradas haviam sido novamente perdidas. Entretanto, conforme descobri, um estudo superficial dos documentos reproduzidos no livro revelava pelo menos uma mensagem oculta. O autor certamente a percebera. Ao trabalhar em seu livro, dera aos documentos mais do que uma atenção passageira.
Era claro que ele encontrara o que eu havia encontrado. Além disso, a mensagem era um excitante fragmento de prova, do tipo que ajuda a vender um livro popular. Por que o senhor de Sède não a publicara? A peculiaridade da história e a possibilidade de outras descobertas voltaram à minha mente de tempos em tempos nos meses seguintes. Sentia-me atraído por esse quebra-cabeça mais intrigante do que os usuais e curioso pelo silêncio de De Sède. Na medida em que ia descobrindo novos e intrigantes lampejos de significados no texto dos documentos, comecei a querer dedicar mais do que momentos de folga ao mistério de Rennes-le-Château. No final do Outono de 1970, apresentei a história como um possível documentário para Paul Johnstone, então produtor executivo da série Crónica, sobre história e arqueologia, da BBC.
Paul achou o projecto viável. Fui então enviado à França para falar com De Sède e explorar as perspectivas de um filme. Encontrei De Sède em Paris na semana do Natal de 1970. Naquela primeira reunião, fiz a pergunta que me intrigara por mais de um ano: Por que você não publicou a mensagem oculta nos pergaminhos? Sua resposta me surpreendeu. Qual mensagem? Parecia-me inconcebível que ele desconhecesse aquela mensagem elementar. Por que estaria duelando comigo? Subitamente eu me vi, relutante, a revelar o que havia encontrado. Continuamos um elíptico jogo de esgrima verbal durante alguns minutos. Então se tornou claro que ambos conhecíamos a mensagem. Repeti minha pergunta: Por que você não a publicou? Desta vez a resposta de De Sède foi calculada: Porque nós pensamos que alguém como você se interessaria em descobrir por si mesmo.
Essa resposta, tão enigmática quanto os misteriosos documentos do padre, era o primeiro indício claro de que o mistério de Rennes-le-Chatêau deveria ser muito mais do que uma simples fábula de tesouro perdido. Comecei a preparar, juntamente com meu diretor, Andrew Maxwell-Hyslop, um filme Crónica na Primavera de 1971. O projecto era realizar um bloco de vinte minutos para um programa. Mas, na medida em que íamos trabalhando, De Sède nos alimentava com outros fragmentos de informação. Primeiro surgiu o texto integral de uma importante mensagem cifrada, que falava dos pintores Poussin e Teniers. Era fascinante. O código era incrivelmente complexo. Fomos informados de que ele havia sido decifrado por especialistas do departamento de códigos do exército francês, através de computadores. Estudando as circunvoluções do código, convenci-me de que a explicação obtida era no mínimo suspeita. Investiguei junto a especialistas em códigos do serviço de inteligência da Grã-Bretanha e eles concordaram comigo: O código não configura um problema válido para um computador. Ou seja, era indecifrável. Mas alguém, em algum lugar, devia ter a chave.
Então De Sède entregou sua segunda bomba. Urna tumba semelhante àquela do famoso quadro Les Bergers d'Arcadie, de Poussin, havia sido encontrada. Ele enviaria detalhes assim que os obtivesse. Alguns dias mais tarde chegaram fotografias. Ficou claro que nosso filme sobre um pequeno mistério local começava a assumir proporções inesperadas. Paul decidiu abandoná-lo e nos engajou em um longa-metragem. Agora haveria mais tempo para pesquisar e mais tempo de cena para explorar a história. A transmissão foi adiada para a primavera do ano seguinte. O Tesouro Perdido de Jerusalém saiu em Fevereiro de 1972 e provocou uma reacção muito forte. Eu sabia que havia encontrado um assunto interessante para o grande público. Uma pesquisa posterior não significaria, portanto, auto-indulgência. Em algum momento teria que haver um segundo filme. Em 1974 eu já possuía grande quantidade de material. Paul contratou Roy Davies para produzir meu segundo filme Crónica, chamado O Padre, o Pintor e o Demônio. Mais uma vez, a reacção do público mostrou quão fortemente a história havia impressionado a imaginação popular. Mas então ela havia se tornado muito complexa, e muito extensa em suas ramificações.
A pesquisa detalhada estava rapidamente excedendo a capacidade de uma única pessoa. Havia muitos caminhos diferentes a percorrer. Quanto mais eu prosseguia em uma linha de investigação, mais consciente me tornava da quantidade de material que estava sendo negligenciado. Nesse ponto crucial, o destino, que de início havia colocado a história casualmente em minhas mãos, agora assegurou que o trabalho não estagnaria. Em 1975, tive a grande sorte de encontrar Richard Leigh, durante um curso de verão em que ambos dávamos aulas de literatura. Richard é um romancista e escritor de contos, com pós-graduação em literatura comparada e um conhecimento profundo em história, filosofia, psicologia e esoterismo. Havia trabalhado durante vários anos como professor universitário nos Estados Unidos, Canadá e Grã-Bretanha.
Durante os intervalos de nossas aulas, passamos muitas horas discutindo assuntos de interesse mútuo. Eu mencionei os templários, que desempenhavam um papel importante no pano de fundo do mistério de Rennes-le-Château. Para minha satisfação, vi que essa sombria ordem medieval de monges combatentes já havia despertado o interesse de Richard, que desenvolvera pesquisas consideráveis sobre sua história. Subitamente, meses de trabalho que eu via se prolongarem à minha frente se tornaram desnecessários. Richard podia responder à maioria de minhas dúvidas. E ficara tão intrigado quanto eu com as anomalias evidentes que eu havia encontrado. O mais importante é que meu projecto de pesquisa também o fascinava. Percebendo o significado do projecto, ele se ofereceu para ajudar-me nos aspectos que envolviam os templários. E trouxe Michael Baigent, um psicólogo que recém-abandonara uma bem-sucedida carreira em foto-jornalismo para se dedicar ao estudo dos templários, visando ao projecto de um filme.
Se eu tivesse procurado, não teria encontrado dois parceiros mais bem qualificados e mais compatíveis para formar um time. Após anos de trabalho solitário, o ímpeto trazido ao projecto por dois cérebros novos foi muito estimulante. O primeiro resultado palpável de nossa colaboração foi o terceiro filme Crónica sobre Rennes-le-Château, A Sombra dos Templários, produzido por Roy Davies em 1979. O trabalho realizado para aquele filme finalmente nos colocou face a face com as fundações sobre as quais todo o mistério de Rennes-le-Château havia sido construído. Mas, no filme, o que estávamos começando a discernir só podia ser insinuado. Sob a superfície havia algo mais chocante, mais importante e mais imediatamente relevante do que podíamos imaginar quando começamos nosso trabalho sobre o pequeno e intrigante mistério que um padre francês provavelmente encontrara em um vilarejo montanhoso. Em 1972, eu terminara meu primeiro filme com as seguintes palavras: Algo extraordinário está esperando ser encontrado... e o será, em um futuro não muito distante. Este livro explica o que é este algo e quão extraordinária foi sua descoberta». Henry Lincoln.

In Michael Baigent, Eichard Leigh, Henry Lincoln, O Santo Graal e a Linhagem Sagrada, 1982, tradução de Nadir Ferrari, Editora Nova Fronteira, 1993, ISBN: 852-0904-74-2, O Sangue de Cristo e o Santo Graal, Editora Livros do Brasil, Colecção o Despertar dos Mágicos, Lisboa, tradução de Elsa Vieira, 2004, ISBN 972-38-2651-8.

Cortesia Nova Fronteira/Livros do Brasil/JDACT