sexta-feira, 5 de abril de 2013

A Montanha Russa de Deus. Alexandre Honrado. «… cardeal que vive com uma amante que militou na resistência francesa e com um punhado de frades, guarda-costas peritos em artes marciais, todos eles coniventes com os mais radicais dos sectores católicos»

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«Esta história, afinal, é sobre aquelas três coisinhas. Qualquer semelhança com pessoas, locais, acontecimentos e oportunismos em geral é mera virtualidade. Já me ia esquecendo: as três coisinhas. Pois. As três coisinhas são o sexo, a violência e o dinheiro. As únicas que, segundo parece, dão algum sentido à vida.
...E porque daqui para a frente as coisas se tornam muito confusas, repara bem.

A acção decorre na actualidade, numa floresta onde só se chega dominando alguns segredos, e mesmo essa floresta não tarda a desaparecer... e conta como dois homens, duas avós, duas vidas afectivas se cruzaram por acaso. Podia ser assim esta história mas não é. E mais. E a história de um homem que apanhou um táxi para cumprir o desígnio da sua amada: ir ao deserto buscar um punhado de areia com podores libertadores; e é a história do taxista que o levou. E assim, também, a história da mulher do taxista, como já era a história da estranha amada do homem em busca de uma mão cheia de areia.
É a história do advogado do taxista, que conta a história daqueles que lidaram com a avó dele, a saber:
  • um falso turco, colombiano traficante de droga, às voltas com um grupo de fundamentalistas islâmicos;
  • um judeu não praticante que acaba por cruzar a sua vida com um grupo de judeus extremistas;
  • um cardeal que, contra a sua vontade, está quase a suceder ao Papa, cardeal que vive com uma amante que militou na resistência francesa e com um punhado de frades, guarda-costas peritos em artes marciais, todos eles coniventes com os mais radicais dos sectores católicos;
  • um mafioso casado com a herdeira do trono da Jugoslávia e pai de uma rapariga lindíssima (mas) com poderes mediúnicos:
  • um protestante muito radical;
  • um homem monstruoso que se reclama a reencarnação de Buda, sua mulher e filhos, que esperam a visita de um grupo de budistas disposto a tudo;
  • uma família de hindus praticantes, ferozmente militantes das suas crenças;
  • um político que sintetiza as máculas de todos os políticos;
  • um chefe de mercenários que quase não ganha para as balas…;
  • um polícia político que está escondido desde um golpe de Estado que mudou o seu regime e que vive com uma matilha de cães perigosíssimos;
  • um cientista alemão, que fez o estágio na Alemanha de Hitler e que agora se especializa em clonagem;
  • um russo que serviu nas fases mais exigentes da URSS;
  • um verdadeiro imbecil que meramente por acaso subiu na vida e se tornou chefe da polícia de um serviço na dependência do Presidente da República;
  • o autor, as suas duas iguanas, a sua amante, e as muitas mulheres que o rodeiam, a começar em Marguerite Yourcenar que lhe dá uma mãozinha débil;
  • um homenzinho, que não sabemos ao certo quem é, mas desempenha papel fundamental;
  • uma velha morta com dez facadas;
  • outra velha que aparece no fim da história e nos deixa a pensar nisto e naquilo;
  • o escritor; o narrador; o editor... entre outros.
Esclarecimento
Nesta montanha russa, talvez Deus nem seja aqui chamado. Veremos.

O Dodelat-sis
Teodoro Anastácio Matos tem este verificável sorriso feliz, apesar das inúmeras equimoses, as costelas partidas, o sobrolho cosido, o nariz quebrado... Está numa enfermaria, com mais umas dúzias vastas de convalescentes, alguns aliás Sem a menor perspectiva de convalescerem, para não referir, por economia de espaço e de emotividade, um moribundo distante de toda a realidade mundana, doente classificado como em estado terminal, o mesmo é dizer sem hipóteses de retorno da longa marcha, e ainda uma enfermeira rubicunda cuja especialidade é a administração, brutal e sem critério, de clisteres de água morna». In Alexandre Honrado, A Montanha Russa de Deus, Editorial Bizâncio, 2001, ISBN 972-53-0114-5.

Cortesia de E. Bizâncio/JDACT