quinta-feira, 28 de março de 2013

Henrique VI. Rei Enfermo que sofreu Dramático Destino. «Dos três membros, de tão atribulada existência, da família de Henrique VI, unicamente a pundonorosa rainha Margarida de Anjou logrou morrer de morte natural»

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«Faltavam, somente, para que a situação se consolidasse, uns ‘pequenos pormenores, que ele não tardaria a arrumar. Por sua ordem, cruel sem dúvida, mas amplamente justificada pela necessidade de ser liquidada a questão do trono de maneira duradoira, o pequeno príncipe de Gares, filho de Henrique VI e de Margarida de Anjou, é arrebatado dos braços da angustiada mãe e massacrado na prisão nesse decorrente ano de 1471. Henrique VI, o inofensivo rei, que parece ter vindo ao mundo apenas para ser joguete inconsciente de dramático destino, manejado ao sabor das ambições da época e das individualidades que o rodeavam, esse doentio monarca que, não poucas vezes, sofreu o enxovalho do aprisionamento, deixou, também, de viver, alguns dias depois.
Tudo leva a crer que a sua morte, obscura e não determinada nas causas, haja sido consequência de um crime, pois não é crível que o seu voluntarioso e inescrupuloso rival no trono inglês tenha deixado o pai com vida, quando não hesitou em sacrificar, barbaramente, a inflexíveis razões de Estado, o inocente filho daquele. Dos três membros, de tão atribulada existência, da família de Henrique VI, unicamente a pundonorosa rainha Margarida de Anjou logrou morrer de morte natural. Encerrada, igualmente, na tenebrosa prisão política de Londres, ali se conservou durante quatro longos e martirizantes anos, vivendo as agruras do terrível cativeiro junto à angústia maior do seu flagelado coração de mãe, a chorar a funda saudade do filhinho massacrado.
A admirável mulher, exemplo nobilíssimo de mãe e de esposa, tão causticada pelas provações, esse vulto feminino de tão bela grandeza que almejava a morte como uma libertação para a alma amarfanhada de sofrimento, foi, afinal, por cruel partida do destino, a que viveu mais tempo. Graças à mediação de Luís XI, ela pôde recobrar a liberdade em 1475, indo acabar os seus dias em França, em 1482, onze anos após o selvático assassínio do príncipe de Gales, seu filho. Sobreviveu ao implacável inimigo. A união das duas casas rivais inglesas, a de Lancastre e a de York, só viria a ser celebrada, terminando de vez com as dissidências rancorosas entre ambas, no reinado de Henrique VII, o Tudor, descendente dos Lancastres. Com efeito, este monarca, depois de derrotar e matar, por suas próprias mãos, o odioso Ricardo III, em 1485, contraiu núpcias com Isabel de York, filha de Eduardo IV. A união dos direitos das duas casas punha fim à extenuante Guerra das Duas Rosas». In Américo Faria, Dez Monarcas Infelizes, Livraria Clássica Editora, colecção 10, Lisboa, s/d.

Cortesia de L. Clássica Editora/JDACT