quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Henrique VI. Rei Enfermo que sofreu Dramático Destino. «O rei vitorioso, Eduardo de York, atrai Henrique VI à capital da Inglaterra para o encerrar na prisão da Torre de Londres. Com o encarceramento do infeliz Lancastre e a expatriação de Margarida de Anjou, dir-se-ia que não havia motivos para continuar a “Guerra das Duas Rosas”»

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«Margarida sente-se impelida a tentar mais uma vez a sorte das armas. Mas, mais uma vez também, o azar a persegue, deixando-a em ultra precária posição O antagonista derrotara-a copiosamente na batalha de Exham, em 1464, obrigando-a novamente à fuga, esta agora acidentada e assinalada por inesperado episódio, digno de emocionante romance de capa e espada. Reconhecendo-se batida, a destemida soberana pensou imediatamente na sua salvação. Lançando a montada a toda a brida, afastou-se do campo de combate o mais depressa que lhe foi possível, sem que o seu afastamento fosse logo notado. Caminhou para o sul, a marchas forçadas, sempre a temer que a estivessem perseguindo e lograssem alcançá-la.
Em determinada altura, já tinha perdido o conto das horas que levava de marcha e se convencia do bom êxito da sua evasão, eis que, de súbito, imprevistamente, deu por si rodeada de cavaleiros, de aspecto suspeito e ameaçador. Horrorizada, em breve adquiriu a certeza de que estava em poder de uma quadrilha de bandoleiros, desses que devastaram as aldeias do reino e assaltavam pacíficos caminhantes nas estradas. A rainha esforçou-se por se manter senhora dos nervos, conseguindo em tão singular conjuntura, não se mostrar abatida ou atemorizada.
Os bandidos preparavam-se para a despojar inteiramente dos valores que levava, mas Margarida, boa fisionomista, escolheu, entre os larápios, aquele que se lhe afigurou mais susceptível de se deixar manejar pela sua inteligência, e deu-se-lhe a conhecer. O homem, que nunca tinha visto uma rainha em carne e osso, ficou estarrecido de assombro e imediatamente se dispôs a salvá-la, conduzindo-a a França.
Nesse meio tempo, o rei vitorioso, Eduardo de York, atrai Henrique VI à capital da Inglaterra para o encerrar na prisão da Torre de Londres. Com o encarceramento do infeliz Lancastre e a expatriação de Margarida de Anjou, dir-se-ia que não havia motivos para continuar a Guerra das Duas Rosas. No entanto, não levaria muito tempo que o conflito não recrudescesse uma vez mais, furiosamente, devendo prolongar-se pelo século dentro, quase até ao seu final, mesmo para além da vida dos principais protagonistas.



Eduardo IV, com o seu adversário aferrolhado e, ao que julgava, nada mais tendo a temer, dá-se pressa em normalizar a situação oficial e consolidar a sua posição, subtraindo o país às difíceis condições em que a dualidade de poderes reais o havia colocado. Henrique VI foi pura e simplesmente destronado.
O novo monarca pôde finalmente, reinar sozinho, mas por pouco tempo. Desavindo-se irreconciliavelmente com o seu valido, o conde de Warwick, este volta-se com armas e bagagens para o campo oposto, a cujas fileiras destroçadas, mas não extintas, a sua presença dá notável estímulo». In Américo Faria, Dez Monarcas Infelizes, Livraria Clássica Editora, colecção 10, Lisboa, s/d.

Cortesia de L. Clássica Editora/JDACT